segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Somente Adverso

Revendo os temas: doutrinas filosófico-religiosas, uma rápida comparação entre informática e medicina, um microdiário de viagem motociclística, putaria a gosto e um pouco de metalingüística. Agora um pouco mais. A menos que eu queira ser taxado de esquizofrênico, acho bom eu decidir por um tema central ou pelo menos algo que relacione esses devaneios. E a menos que eu queira ser taxado de esquizofrênico, naturalmente tem que ser a putaria.

Voz Americana: Eis Sonoro Sono

Sarcasmo e ironia são o novo zen. Eu poderia explicar, mas aí não seria muito zen de minha parte, já que mensagens zen têm que ser curtas, então explicar minha sabedoria seria altamente contraproducente. Como sempre é. Pronto, isso foi bem mais zen.

Mensagens zen têm que ser curtas e enigmáticas para provocar pensamentos profundos. Ou é isso que dizem. Na verdade elas são curtas para caberem nos biscoitos da sorte. Não que não se possa fazer um biscoito da sorte gigante, mas aí sairia caro. E seria algo bem enjoativo. Quem diabos compraria um senbei de um metro cúbico, pagando uns duzentos reais, pra poder ler uma tese de mestrado, uma metáfora detalhadamente explicada ou a Ilíada?

Hum... só um mestre zen, eu acho.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Lei: Arroxar Pingüim

Migrei para o Linux. Mais ou menos por falta de opção, já que eu não tinha nenhum CD do Vista por perto e ando meio enjoado do XP. Se você não tem idéia do que eu estou falando, é porque não é nerd o suficiente. Mas eu explico.

Linux é um sistema operacional de computadores. Criado por Linus Pauling em 1888, o Linux originalmente era um sistema que reajustava molecularmente seu computador até ele virar uma poça plasmática de texto confuso e ininteligível. Suas linhas de comando, chamadas de "strings", eram tão grandes e complexas que só recentemente a física quântica formulou uma teoria meio maluca para a utilização delas, chamada de "string theory". O ponto negativo é que para que o sistema funcionasse com comandos simples e que fizessem sentido para um ser humano era preciso rodá-lo em um espaço de dez ou onze dimensões.

Isso foi corrigido na versão KDE 3.11, reformulada por Benjamin Linus para ser simples e amigável. O problema é que, em vez de ser programado em linguagem binaria, hexadecimal ou qualquer coisa do gênero, essa versão só aceitava comandos baseados na equação de Valenzetti ou na seqüência de Fibonacci, alternando a linguagem a ser aceita de modo aleatorio em intervalos de tempo imprevisíveis.

O sistema foi então mais simplificado por Linus Torvalds, que copiou o design gráfico de um sistema que copiava o design gráfico de um sistema esquisitinho que hoje é usado por gente "cool". O que quer dizer que agora o usuário pode ter a ilusão de que sabe o que está acontecendo porque mexe com uma setinha e não vê as linhas malucas se acumulando em todos os cantos da tela. Ainda é possível, contudo, observá-las olhando pelo buraco do drive de CD, bem lá no fundo da CPU. Se o seu coração for puro.

Pronto, agora você já pode dizer que sabe o que é Linux e ser taxado de nerd. Não que vá ser taxado de nerd só por dizer que conhece Linux, já que a outra pessoa também teria que saber do que você está falando, mas assim que começar a explicar o que é, aí sim. Exceto pelos "cool". Eles vão te chamar de "geek". Chute o saco deles, na ocasião, se aplicável.

E eu só mudei de sistema, aliás, porque meu computador pifou. Pifou de vez. Como eu não tenho grana nem paciência pra pagar um técnico que cobra cento e cinqüenta paus pra dizer que realmente pifou e que eu vou ter que trocar alguma coisa mas tenho uma bengala e muitos episódios de House, eu me coloquei a diagnosticar minha máquina. Tela azul, Windows levava meia hora pra abrir, não abria o explorer.exe, dava "imagem inválida" quando eu tentava puxar o taskmgr. Levei coisa de três horas pra decidir colocar meu computador na lista de transplante de HD. Que foi um sucesso. E fiquei matutando sobre como é basicamente a mesma coisa consertar um computador e uma pessoa.

Lógico que eu não me colocaria a tentar consertar uma pessoa. Mesmo porque se eu usasse os métodos que eu usei pra consertar meu computador, meu paciente estaria fodido. Eu tiraria um rim de cada vez como teste, aproveitaria para tirar uma poeirinha do coração, desconectaria nervos sem critério nenhum, tiraria o cérebro para fuçar, arrancaria algumas tripas pra liberar o acesso ao fígado, usaria um fêmur para coçar uma picada de pernilongo e esqueceria um parafuso solto dentro do maluco na hora de fechar. Quando estivesse remontado o cara talvez precisasse de um disco de boot.

Então não daria muito certo. Mas a mecânica por trás do negócio é a mesma. Hardware interagindo de forma maluca, software que geralmente é inconfiável e algumas baterias de testes inconclusivos. Mesmo assim médicos ainda são vistos como mais importantes. E isso tem alguns motivos interessantes. Fica bem mais barato comprar umas peças novas na Santa Ifigênia que órgãos no mercado negro, por exemplo. E se você queimar um pente de memória é só comprar outro, não tem processo por erro médico. Mas algumas coisas as pessoas não percebem. É verdade que às vezes é muito mais triste avisar ao usuário que o computador dele foi pro escambau. O cara pode chorar, espernear, gritar "mas é toda a minha vida!". E precisar de um médico. Já quando as pessoas morrem, tem um dia de velório e dali a pouco elas já estão de novo ao computador, deixando recadinhos no Orkut do presunto. Outra desvantagem é não poder se divertir ao dar a má notícia. "Ih, seu computador foi pro brejo, rapá" é uma coisa normal, até. Já dizer "Ih, sua mãe foi pro brejo, rapá" é um benefício exclusivo da área médica.

Além disso, veja bem: medicina é um curso de seis anos. Mais uns dois ou três de especialização. informática tem cursos de cinco anos para hardware e mais cinco para software. Façam as contas, o cara que mexe com seu computador é muito mais competente no que faz do que o cara que mexe com você. E ele pode criar verdadeiros Frankesteins com peças diversas. Eu mesmo sou um leigo e realizei o equivalente a um transplante de cérebro. Coisa que muito médico formado não faz.