sábado, 4 de abril de 2009

E Abordo do Caos

-Ah! Quem foi o filho da puta que ligou esse holofote na minha cara?
-Peraí, deixa eu calibrar meu tradutor de idiomas a fim de me comunicar com você.
-Anda logo.
-Terráqueo, eu venho de uma civilização longínqua e avançadíssima que você jamais compreenderia.
-Ah, um japonês. Eu bem que desconfiei por causa do seu carro de formato esquisito, cheio de neon e voador. Sai dessa merda pra falar comigo.
-Eu não sou... ah, peraí.
-Melhor. Mas eu não lembrava que japoneses eram verdes. Pode me dizer seu nome?
-Não.
-Seu nome é Não?
-Não.
-Eu não sei se você está confirmando a negativa ou corrigindo minha pronúncia.
-Ótimo. Você não parece ser um terráqueo particularmente esperto. Segundo meu computador, isso aumenta em 823,5% as chances de você ter uma posição de prestígio na sociedade. Então venha comigo.
-Aonde nós vamos, não-san?
-Comprar doces.
-Oba! Adoro doces.
-Não. Espere um pouco. Eu só deveria dizer isso se você tivesse menos de sete junfs de altura. Para o seu perfil... deixa eu ver... ah, nós vamos fazer sexo.
-Tá maluco, japonês? Eu arrebento a tua cara.
-Curioso. Meu relatório diz que sexo é o que os adultos terrestres masculinos mais gostam de fazer.
-Não com outros adultos terrestres masculinos, seu escroto. Quer dizer... em alguns casos, sim, mas não no meu. Sou macho pra caralho!
-Ah, mas eu não sou terrestre. Eu sou um alienígena.
-Hum... tá bom, então. Mas só se você não contar pra ninguém e me der uns doces.
-Sem problema, sem problema. Agora me acompanhe até o disco.
-Eu nunca conheci um japonês alienígena.
-Eu não sou japonês. E meu nome também não é Não.
-E qual é o seu nome?
-Eu não posso dizer.
-Uh. É uma daquelas coisas que é ridiculamente impronunciável para o meu corpo terreno?
-Não. É que me daria diarréia.
-Hein?
-Meu nome, quando pronunciado, causa diarréia na minha espécie. Meu pai tinha um senso de humor curioso, veja bem.
-Parece constrangedor.
-Mais ou menos. Era pior quando eu trabalhava no setor de atendimento ao cliente e era obrigado a usar crachá. Pare aqui. Cuidado com a cabeça durante o teletransporte.
-Uau. Os banheiros deviam ficar lo... ai!
-Eu avisei. Pois é, a loja chegou a começar a instalação de setenta banheiros, mas percebeu que seria mais econômico me demitir. E foi assim que eu passei a trabalhar com coleta e escravização de alienígenas.
-Ufa. Que bom pra mim que é só de alienígenas. Imagina se fosse de gente.
-Hã? Ah... lógico, lógico. Sente-se aqui enquanto eu copio seu código genético para tomar seu lugar no planeta.
-Cadê meus doces? E cadê o sexo que a gente ia fazer?
-Em um minuto. Agora se você puder ir para a câmara de congelamento de prisioneiros... hã... onde vou te dar os seus doces...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Auto Dum Niilismo Dadá

Dia Internacional do Autismo é algo tão fantasticamente engraçado que me deixa sem palavras. Em primeiro lugar porque ele se baseia naquele conceito bacana de que é legal se importar por um dia com alguma coisa que não afete sua vida diretamente. Talvez você doe um dinheirinho pra se sentir socialmente responsável e uma boa pessoa. E depois passe a esquecer completamente o assunto, esperando sem ansiedade pelo próximo dia de alguma disfunção. Em si e só, isso já é bastante curioso.

Alguns argumentos podem ser feitos e não sem boas doses de verdade: o dinheirinho que você doa realmente ajuda, mesmo que você seja um babaca hipócrita. E conscientizar a população sobre um problema tem o potencial de melhorar a vida dos portadores, mesmo que marginalmente. Não ter que ficar incessantemente explicando os detalhes do tipo de câncer, por exemplo. Afinal todo mundo já vai saber alguma coisa a respeito e não vai precisar ficar perguntando o que é para fingir interesse.

Neste caso em específico, no entanto, o legal é que o dia é originalmente o “World Autism Awareness Day”. Então eles não querem dinheiro. Eles querem só que vocês percebam que existem autistas. E é onde a coisa fica legal. Em primeiro lugar, existe a escolha de mau gosto da palavra “awareness”. Sério, qualé? É algo como fazer um triatlo em prol dos aleijados (e depois jogar maçãs neles). É quase cruel. “Ei, seus estúpidos, vejam como é que se percebe as coisas! Olha só! Olha aqui como eu percebo vocês! Hahaha! Tomem essas, seus autistas imundos!”. Como deveria ser de conhecimento público, no entanto, “quase” é uma negativa. E essa crueldade do cruelando não chega ao cruelado porque autistas simplesmente não se importam com o que diabos você pensa. Eles são provavelmente as únicas pessoas do mundo que estão cagando pro que você pensa.

Veja bem: foda-se você se estiver zombando de um autista ou se não entender a condição dele. Ele está ocupado demais desenhando círculos com giz de cera na própria perna para sequer notar sua existência. Os únicos jeitos que eu conheço de incomodar um autista são roubar seus pertences ou enchê-lo de tabefes, mas eu conduzi experimentos que parecem mostrar que isso também incomoda não-autistas, então eu acabo não vendo vantagem nenhuma.