domingo, 31 de maio de 2009

Dama Ria de Dieta Himenial

-Tá com a grana aí?
-Acho que tô. Deixa eu ver aqui no meu bolso...
-Dá.
-Ih. Olha... não acho legal te pagar agora, não.
-Por quê? Tá sem dinheiro?
-Não é isso. Até tenho o suficiente. Mas por pouco. Se eu te pagar agora, o que me sobra não é suficiente pra me manter na minha classe social.
-Como é?
-Veja bem: se eu te der o meu dinheiro, vou pertencer a uma classe social mais pobre.
-Instantaneamente?
-Instantaneamente.
-Contando com o seu dinheiro do banco?
-Bom... não. Mas o dinheiro do banco não teria efeito em mim agora.
-Efeito? Como assim?
-Sabe como o homem é produto do meio? Então... nas circunstâncias atuais eu ia ficar muito pobre. O banco não está aqui presente com meu dinheiro, então não faz parte da minha realidade imediata e não influencia meu modo de pensar e agir.
-Bom... problema seu, né? Dá aí.
-Mas pense que isso acarretaria em nós talvez não sermos mais amigos.
-Como é?
-Você teria amizade com um pé-rapado? Não teria. Amizade entre pessoas de classes sociais diferentes sempre fica com um estigma ruim.
-Bicho, pára de divagar e me dá logo o meu dinheiro?

Ele deu. E, como profetizado, a amizade realmente não durou muito. Coisa de um segundo. Imediatamente após ficar sem dinheiro, ele quebrou um orelhão, tirou a camisa, gritou "vai, curíntia" e assaltou o credor. Retomou suas vestes toráxicas e faria o mesmo com a amizade se o outro componente da cena não tivesse ficado, depois do assalto, imediatamente sem dinheiro, procedendo por sua vez a assaltar da mesma forma e prendendo os dois em um looping infinito de violência, strip e odes ao pássaro preto.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Encher Só De Cu

Eu não achei que estivesse deprimido. Mas agora eu acho que mudei de idéia. Tudo estava legal até eu receber o seguinte anúncio do Google no meu Gmail: “Sente-se deprimido? - www.conhecerdeus.com/depressao - Deus quer ajudar-te Basta pedir-lhe”. Naturalmente eu imaginei que o filtro de palavras-chave do Adsense fosse uma porcaria e tivesse encaminhado um anúncio a alguém que não fazia parte do públio-alvo, até porque ultimamente não tem tido nenhuma conversa com o CVV na minha caixa de entrada. Mas, depois, olhando mais de perto, eu vi que tenho muito com que me preocupar e que o Google é muito mais sábio do que parece.

Minha caixa de entrada tem muito indícios de depressão. Nem sei por onde começar a relatá-los. Vamos lá, vejam se não é um mais triste que o outro:

*Um e-mail sobre “Magaiver” [sic] contendo a foto de um clipe;
*Um contendo uma tabela de conversão métrica de parafusos;
*Notificação de novo seguidor do Twitter (acho que só estar no Twitter já te qualifica para o anúncio relatado);
*Notificação de novo seguidor do Twitter (duplo!);
*Notificação de novo seguidor do Twitter (e ainda é tudo bot!);
*Longa discussão sobre Billy Bob Thornton (C-C-C-C-C-COMBO BREAKER);
*FW: Dioxina (não sei se mais grave é o assunto ou o “FW”);
*Diagrama elétrico de uma CB400 1983;
*Algo sobre um hipopótamo entrepreneur que maltrata seus funcionários;
*Resposta da BS Colway sobre a linha de pneus ecológicos (por quê, deus? Por quê?);
*FIA – Fundação Instituto de Administração: Pós-Graduação em Mercado Imobiliário (a cereja do bolo).

Eu naturalmente omiti todos os “Enlarge Your Penis NOW” e “Viagra: stop shooting pool with a rope!” respondidos por mim com “sim por favor preciso muito ajuda!!!” e outros de nível equivalente, mas mesmo após a censura, estou convencido de que tenho motivos para me enforcar. Então adeus, mundo cruel. Vejo vocês no inferno, que deve ser muito parecido com onde estamos agora, mas onde o correio eletrônico não tem nenhum filtro de spam.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Atual Panorama Social

-Vem cá, é o senhor que é o chefe da oficina aqui?
-Sou, sim, senhor.
-Então vem dar uma olhadinha no meu carro, faz favor?
-Claro. Cadê?
-Ali, ó.
-Ahã. E qual o problema que ele apresenta?
-Não está funcionando.
-Sim, senhor. Acho que já entendi o motivo.
-Assim, sem nem olhar de perto?
-Senhor, veja bem: o problema do seu carro é o tijolo.
-O tijolo? Essa é boa. E nova. Eu já levei a vinte mecânicos diferentes e tive vinte diagnoses diferentes. Sabe o porquê? Porque vocês são todos uns sanguessugas salafrários! Nem olham direito o carro e já saem culpando qualquer coisa, só pra ganharem uma grana fácil. Mas dizer que é "problema de tijolo" já é demais. Quanto é que o senhor cobraria pra resolver, se é que eu posso perguntar?
-Coisa de trinta mil reais.
-Trinta mil reais? Isso é mais caro que um carro novo! Não se tem mais decência neste país!
-Senhor, eu tenho mais de trinta anos de experiência como mecânico.
-E como cara-de-pau, também, eu imagino. Tá na cara que o problema é o carburador!
-Seu carro não possui carburador, senhor.
-Lógico que não. Isso é um problema, não é?
-Atualmente o carburador foi substituído pela injeção eletrônica em quase todos os automóveis, então não necessariamente. E não é essa a questão maior aqui. Deixe eu tentar explicar isso do jeito mais simples.
-Ah, mas isso vai ser divertido. Ilumine-me, deus da verdade.
-Tem um tijolo no carro do senhor.
-Sim, e daí?
-O problema é, especificamente, onde está o tijolo.
-Como assim?
-Ele está no carro todo. Se você tirar o tijolo, aliás, o que é que sobra?
-Nada.
-Certo. Isso não parece preocupante?
-Meu filho, se você tirar todas as peças de alguma coisa, nunca resta nada.
-Eu sei, senhor. Estou tentando chamar a atenção para o o que o senhor chama de carro ser um tijolo.
-Sim, eu sei. Você é um profissional horrível. Eu pedi um diagnóstico, não informações óbvias. Faz o segunite: põe um carburador aí. Eu pago.
-Certeza?
-Anda logo.
-Tobias, põe um carburador no carro do senhor, ali.
-Que carro?
-O vermelho. Entre os dois Chevettes.
-O tijolo? Como é que eu vou colocar um...
-Tobias, não discute! Põe o carburador. Agora, senhor, posso sugerir um serviço complementar, por mais vinte e nove mil e oitocentos reais, que dá direito a uma revisão geral com todas as peças necessárias inclusas?
-Tá achando que eu sou louco? Tá muito caro!
-Te dou garantia extendida.
-Ah... bom, então aí sim. É sempre bom ter uma segurança extra,
-Beleza. Ô Tobias, vê aí umas rodas, um motor, uns bancos, um chassi e uns paralamas ao lunático aqui. Manda o kit completo logo.
-No capricho, hein, Tobias?
-Ok. Estamos entendidos, então?
-Claro. Posso pagar com um cheque?
-Pode.
-Aqui está. Pode ser ao portador ou quer nominal?
-Senhor... eu lamento informar que eu acho que vamos ter uma discussão muito parecida a respeito do seu cheque. Mas isso pode esperar até a gente arrumar alguma coisa pra comer. Ele parece faminto.

M: Atenção! Aqui é a polícia! Vocês estão cercados! Saiam com as mãos para cima!
L1: Ih, fedeu, maluco. Os hômi.
L3: A cana? Filhos dumas putas! Como é que me descobriram aqui?
L2: Provavelmente alguém tenha acionado o alarme. Ou talvez eles tenham um policial médium. Difícil dizer.
M: Atenção! Aqui é a polícia! Vocês estão cercados! Saiam com as mãos para cima!
L1: Vamo encher eles de chumbo, maluco! São só dois polícia.
L2: Ah, não. Você está sugerindo que nós atiremos em oficiais da lei?
L1: Não, porra, tô falando pra encher os polícia de bala, caralho.
L2: Peraí, peraí. A gente não tem que se precipitar e recorrer à violência, certo? Ninguém precisa se machucar aqui. A gente só veio pro banco pra roubar uma graninha pra gastar com drogas, pornografia e genocídio, nada de mais.
M: Atenção! Aqui é a polícia! Vocês estão cercados! Saiam com as mãos para cima! Sério, eu não vou falar de novo!
L2: Graças a deus! Seu imbecil, você acha que a gente vai sair com esse argumento? E vindo de vocês? Pensa comigo: se a gente é ladrão e vocês são a polícia, nosso objetivo é justamente fugir de vocês, certo?
M: ...
L2: Isso vai deixar eles confusos e pensativos por um tempo. Eu sugiro que a gente use esse tempo num experimento interpretativo. Faz assim: você vai ser a polícia e eu vou ser nós três.
L1: Maluco, pára de falar merda ou eu vou te meter pipoco, filha da puta.
L2: É uma interpretação meio rude e ofensiva, mas eu suponho que possa ser considerada realista. Muito bom. Deixa eu ver... então eu diria...
M: Atenção! Aqui é o Zeca Pagodinho! Deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem? Eu não tô fazendo nada, você também. É bom bater um papo assim gostoso com alguém.
L1: Aê, truta! Zeca Pagodinho tá aí. Bora encher ele de bala!
L2: Tentador. Mas eu infelizmente suspeito que seja mais um truque das forças mantenedoras do status quo.
L1: Cê tá falando cada hora mais difícil de poprósito, né?
L2: Possivelmente. Eu não quero entrar na questão do que seria ou não proposital ou até que ponto poderia algo qualquer sê-lo, já que isso envolveria uma longa discussão a respeito de livre arbítrio, envolvendo os preceitos mecanicistas do determinismo científico aplicado às condições biofísiológicas do cérebro humano...
P2: Tá, Zeca, valeu pela ajuda, mas eles não saíram nem por ti. Toma a grana da cervejinha que a gente tinha combinado. E agora, capitão?
M: Tem uma entrada no topo do prédio. Um de nós vai por lá e surpreende eles por trás.
P2: Não acho que vá funcionar.
M: Por quê?
P2: Porque você aparentemente esqueceu que está falando em um megafone, de modo que eles devem estar já vigiando as próprias cabeças, a menos que sejam surdos. Como eu acho que acabei de ficar.
L2: ...tabula rasa, então o contínuo esponjar intelectual de cada forma de vida é tão voluntário quanto o acendimento de uma maçã, se a maçã estiver ligada à rede elétrica e tiver filamentos incadescentes numa mistura gasosa em vez de sua tradicional polpa. Então...
L1: Precisa de bala de prata pra matar gente que fala difícil ou se eu atirar agora tu morre?
L2: Eu suponho que a resposta me deixaria em alguma desvantagem, julgando pelo seu olhar sanguinolento. Isso me lembra de uma passagem da Ilíada...
M: Aí, galera, de boa, oq ue é que está acontecendo aí? Sai logo, vai, porque daqui a seis minutos começa meu horário de almoço e eu vou ter que ir embora.
L2: Então vamos tentar resolver rápido com uma discussão objetiva, sim?
M: Tá. Qual é o seu nome?
L2: Antes disso, por favor perceba que o senhor está só do outro lado de uma porta de vidro e eu posso ouví-lo perfeitamente sem o auxílio do seu amplificador que, pra ser sincero, está machucando meus tímpanos.
P2: Eu falei.
P1: Tá, tá. Qual teu nome, cidadão?
L2: L2. E esses são meus irmãos L1 e L3.
P1: L1, L2 e L3? Qu e porra de nomes são esses?
L2: Excelente pergunta. Minha família toda tem nomes assim. Minha mãe se chama Hipotenusa.
P1: Ok. Pra simplificar mais, eu preciso saber que você representa verbalmente seu grupo como eu represento o meu.
P2: Infelizmente.
P1: Não tem nada de infeliz em saber qual deles representa melhor o grupo. Isso é um princípio democrático.
L2: Na realidade eu fico tentado a passar a palavra para meu irmão L1, que costumeiramente se sai vitorioso em discussões mais consistentemente que eu por sua total falta de domínio ou entendimento de retórica, o que o leva a usar a força e, dessa forma, ganhar por súbito W.O. Mas para o propósito de termos uma discussão mais divertida e produtiva em termos de vocábulos utilizados, eu mesmo posso prosseguir.
P1: Bicho, faz assim: eu te ouvi por uns segundos e já vi que vai ser um porre. O outro ali é esquentadinho. E teu outro irmão?
L2: O L3? Ele não fala muito e, quando fala, vá por mim, não é de muita serventia.
L3: Isso é um assalto, seu filha da puta! Vira a bundinha pra mim, vira, Batman.
P1: Peraí. Vocês estão roubando o banco?
L2: Sim. Não foi por isso que vocês vieram?
P1: Não, não. Meu deus. Peço desculpas a vocês. Nós viemos prender os bancários.
L2: Oi? Por que motivo?
P1: Bom, a gente não tem exatamente os detalhes legais ainda, isso a gente está bolando, mas é basicamente porque eles são todos uns vermes.
L2: Faz perfeito sentido para mim.
P1: É que agora passou uma reforma lógica social e a gente viu que os banqueiros são os maiores ladrões e verdadeiros cânceres sociais, então a gente vai remover todos. Os bancários entram nessa como cúmplices e por me fazerem esperar muito na fila com serviço mole.
L1: Dá tiro nesse comuna, L2. Dá tiro nele!
L2: Ah, bom. E como é que a gente faz quanto ao nosso roubo?
P1: Ah, tranqüilo, rapazes. Acabem o que vieram fazer e podem ir embora. Não quero atrapalhar o tabalho de vocês.
L2: Perfeito, então. Obrigado, seu guarda.
P1: Opa. A gente é que agradece e pede desculpas por qualquer coisa.

Infelizmente L1 perdeu a paciência com aquele falatório e tudo acabou em um enorme banho de sangue.