Migrei para o Linux. Mais ou menos por falta de opção, já que eu não tinha nenhum CD do Vista  por perto e ando meio enjoado do XP. Se você não tem idéia do que eu estou falando, é porque  não é nerd o suficiente. Mas eu explico.
Linux é um sistema operacional de computadores. Criado por Linus Pauling em 1888, o Linux  originalmente era um sistema que reajustava molecularmente seu computador até ele virar uma  poça plasmática de texto confuso e ininteligível. Suas linhas de comando, chamadas de  "strings", eram tão grandes e complexas que só recentemente a física quântica formulou uma  teoria meio maluca para a utilização delas, chamada de "string theory". O ponto negativo é que para  que o sistema funcionasse com comandos simples e que fizessem sentido para um ser humano era  preciso rodá-lo em um espaço de dez ou onze dimensões.
Isso foi corrigido na versão KDE 3.11, reformulada por Benjamin Linus para ser simples e  amigável. O problema é que, em vez de ser programado em linguagem binaria, hexadecimal ou  qualquer coisa do gênero, essa versão só aceitava comandos baseados na equação de Valenzetti ou  na seqüência de Fibonacci, alternando a linguagem a ser aceita de modo aleatorio em intervalos  de tempo imprevisíveis.
O sistema foi então mais simplificado por Linus Torvalds, que copiou o design gráfico de um  sistema que copiava o design gráfico de um sistema esquisitinho que hoje é usado por gente  "cool". O que quer dizer que agora o usuário pode ter a ilusão de que sabe o que está  acontecendo porque mexe com uma setinha e não vê as linhas malucas se acumulando em todos os  cantos da tela. Ainda é possível, contudo, observá-las olhando pelo buraco do drive de CD, bem lá no  fundo da CPU. Se o seu coração for puro.
Pronto, agora você já pode dizer que sabe o que é Linux e ser taxado de nerd. Não que vá ser  taxado de nerd só por dizer que conhece Linux, já que a outra pessoa também teria que saber do  que você está falando, mas assim que começar a explicar o que é, aí sim. Exceto pelos "cool".  Eles vão te chamar de "geek". Chute o saco deles, na ocasião, se aplicável.
E eu só mudei de sistema, aliás, porque meu computador pifou. Pifou de vez. Como eu não tenho  grana nem paciência pra pagar um técnico que cobra cento e cinqüenta paus pra dizer que  realmente pifou e que eu vou ter que trocar alguma coisa mas tenho uma bengala e muitos  episódios de House, eu me coloquei a diagnosticar minha máquina. Tela azul, Windows levava meia  hora pra abrir, não abria o explorer.exe, dava "imagem inválida" quando eu tentava puxar o  taskmgr. Levei coisa de três horas pra decidir colocar meu computador na lista de transplante  de HD. Que foi um sucesso. E fiquei matutando sobre como é basicamente a mesma coisa consertar  um computador e uma pessoa.
Lógico que eu não me colocaria a tentar consertar uma pessoa. Mesmo porque se eu usasse os  métodos que eu usei pra consertar meu computador, meu paciente estaria fodido. Eu tiraria um  rim de cada vez como teste, aproveitaria para tirar uma poeirinha do coração, desconectaria  nervos sem critério nenhum, tiraria o cérebro para fuçar, arrancaria algumas tripas pra liberar  o acesso ao fígado, usaria um fêmur para coçar uma picada de pernilongo e esqueceria um  parafuso solto dentro do maluco na hora de fechar. Quando estivesse remontado o cara talvez  precisasse de um disco de boot.
Então não daria muito certo. Mas a mecânica por trás do negócio é a mesma. Hardware interagindo  de forma maluca, software que geralmente é inconfiável e algumas baterias de testes  inconclusivos. Mesmo assim médicos ainda são vistos como mais importantes. E isso tem alguns  motivos interessantes. Fica bem mais barato comprar umas peças novas na Santa Ifigênia que  órgãos no mercado negro, por exemplo. E se você queimar um pente de memória é só comprar outro,  não tem processo por erro médico. Mas algumas coisas as pessoas não percebem. É verdade que às  vezes é muito mais triste avisar ao usuário que o computador dele foi pro escambau. O cara pode  chorar, espernear, gritar "mas é toda a minha vida!". E precisar de um médico. Já quando as  pessoas morrem, tem um dia de velório e dali a pouco elas já estão de novo ao computador,  deixando recadinhos no Orkut do presunto. Outra desvantagem é não poder se divertir ao dar a má  notícia. "Ih, seu computador foi pro brejo, rapá" é uma coisa normal, até. Já dizer "Ih, sua  mãe foi pro brejo, rapá" é um benefício exclusivo da área médica.
Além disso, veja bem: medicina é um curso de seis anos. Mais uns dois ou três de especialização.  informática tem cursos de cinco anos para hardware e mais cinco para software. Façam as  contas, o cara que mexe com seu computador é muito mais competente no que faz do que o cara que  mexe com você. E ele pode criar verdadeiros Frankesteins com peças diversas. Eu mesmo sou um  leigo e realizei o equivalente a um transplante de cérebro. Coisa que muito médico formado não  faz.
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
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Um comentário:
Você anda assistindo a House demais.
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