O mundo é uma caixinha de surpresas. Nele, certas coisas acontecem que me deixam em dúvida sobre eu ter a alma encardida ou cristalina. Outro dia eu estava a trafegar pela Marginal Tietê na chuva e testemunhei um daqueles acontecimentos pastelões muito divertidos.
Parênteses: eu costumo fechar o corredor com minha moto trambolhenta e deixar os motoboys enfurecidos, buzinando feito... motoboys coléricos (eu ia fazer uma comparação caricata, mas nada buzina mais que motoboys enraivecidos). De qualquer forma, cada vez que eu vejo um motorista engarrafado sorrir, eu deixo uma fileira de babacas passar à minha frente e então prossigo, aguardando a formação de um novo comboio de tiradores de mães de zonas. Alguns não conseguem esperar o suficiente e saem costurando.
Pois bem. Outro dia eu mesmo fiquei preso por uma ambulância, mas como não ando de moto com um nabo enfiado na bunda, pude trafegar com calma a 20km/h. Meus simpáticos colegas, por outro lado, como eu já expliquei, parecem não dispor nem do meu conforto proveniente do ânus vazio de vegetais nem do mesmo temperamento calmo e pacífico que eu. Esses cornos filhos de putas pechinchentas saíram a cortar todo mundo para ganhar alguns míseros segundos. O que eu pensava pela minha cabeça é que eles faziam manobras que eu não tentaria fazer na chuva, mesmo meus pneus sendo maiores que a bunda da sua mãe e tendo sulcos ainda quase tão fundos quanto... deixa eu ver... a bunda da sua mãe. E justamente enquanto eu matutava, em uma videocassetada muito bonitinha e patética, um rapaz motoqueiro aparentemente decidiu levar sua cabeça de encontro ao chão e a moto à roda dianteira da ambulância.
É aí que começam minhas ações curiosas. Se eu disser que parei, me certifiquei de que o rapaz estava bem, falei com o menino da ambulância para que ele prosseguisse e pedi para o resto dos curiosos mexerem as motos em vez de ficarem parados na rua atravancando o trânsito, talvez pensem que eu sou um cidadão exemplar. E, se a gente considerar os fatos somente, sou, mesmo. Se a gente considerar o porquê das minhas ações, por outro lado, eu acho que sou só um louco. Um louco mesquinho.
Explico: eu parei por dois motivos: primeiro porque tinha um veículo e um cara em frangalhos no meu caminho. E porque a porra da ambulância parou e o paramédico deve ter sido treinado só para olhar firmemente gente machucada, já que não moveu uma palha. Então eu fui até lá para dar um jeito no meu problema, calcei minha melhor voz hipócrita e disse "vai embora, cara, vocês são importantes". Acho que o cara me olharia de modo menos esquisito se eu já tivesse conseguido parar de rir do fato de um cara ter sido atropelado por uma ambulância. É irônico demais e eu estava ainda muitíssimo ocupado em decidir rotular aquele acontecimento como azar, já que é virar um acidentado justamente por causa de um veículo feito para auxiliar acidentados, ou sorte, já que, se eu tivesse que ser atropelado por qualquer coisa, escolheria uma ambulância, por motivos óbvios, quando o cara levantou, meio troncho, e eu vi que ele tinha bigode.
Muita gente não vai entender, mas eu tenho muito respeito por quem tem bigode. Quanto maior o bigode, mais eu respeito a pessoa. E se alguém disser que é um critério de respeito machista, eu preciso ressaltar que existem muitas mulheres de respeito por aí. Não que isso as torne exatamente bonitas, mas se eu respeito homens que desfilam por aí com asinhas de pêlos ou vassourinhas mágicas debaixo do nariz, que não dizer das mulheres que o fazem (o desfilar, não o bigode - se fizer o bigode, não tem bigode, aí é covarde como os outros! Covarde!)! Em termos comparativos, a Catherine Zeta-Jones com um bigode de aproximadamente três pêlos de espessura média por centímetro quadrado de pele seria o equivalente feminino ao Tom Selleck em Magnum.
Enfim, já que o cara tinha bigode, e como ele estava estranhando minhas risadas (duraram muito), eu perguntei se ele estava legal, se precisava de alguma coisa. Aproveitei para olhar a moto dele (enquanto ele tagarelava qualquer asneira que não me interessava): um negócio velho, amassado e carcomido no qual já montou muito mais gente do que se pode contar, igual à bunda da sua mãe. E agora sem o pára-lama dianteiro (o que eu espero que não quebre a onda de comparação com a bunda da sua mãe, porque bundas costumeiramente não têm pára-lamas e, se tivessem, obviamente seriam traseiros). Como ele estava bem e o bigode dele não era grande o suficiente para extrair mais gentilezas de mim, dei meia-volta e tencionava chegar à minha moto logo, mas um monte de sujos babões com nojeiras motorizadas de duas rodas estava no meu caminho, olhando para o vazio e provavelmente babando dentro daqueles capacetes fedidos. Como estavam me atrapalhando, dei uma de misto de guardinha com motivador profissional e gritei "gente, vamos liberar a rua porque a gente está travando o trânsito". Não surtiu muito efeito; foi só depois que eu consegui chegar à minha moto que eles começaram a se mexer. Para quem estava morrendo de pressa e buzinando segundos atrás foi uma atitude esquisita.
No final das contas eu ainda saí antes deles. E segundos depois eles estavam a buzinar e me infernizar com suas motocas escrotas que andam fazendo um barulho horrível e soltando mais gases poluentes que o permitido pelo Protocolo de Kyoto, novamente nos remetendo à já tão remetida bunda da sua mãe. Mas dessa vez, mesmo porque eu ainda não tinha parado de dar risada, me considerei como o motorista sorridente engarrafado e dei passagem a todos. Foi o que mais passou perto de ser uma boa ação genuína no dia, e mesmo assim eu tinha era interesse em ver um remake da queda. Se bem que não seria a mesma coisa sem a ambulância.
Espero que a bunda da sua mãe não leia o meu blog.
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3 comentários:
Boi, apesar de sermos parecidos em mutias coisas, como por exemplo lavar o filtro com açúcar (e é só o que eu lembro de semelhança), escrevemos com jeitos bem diferentes. Muita gente fala pra eu escrever um livro do meu blog e eu acho que eles são idiotas. mas há muitos idiotas ganhando dinheiro com livros. Faremos uma parceria?
Oiiiiiiiiiiii tuDU bEm? Eu sou poderosaaaaaa (:
Mono, escreve-se "muchas", não "mutias". Eu achei que você fizesse curso disso.
Josi, você é doente.
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