segunda-feira, 21 de junho de 2010

Oitava Comuna

-E não tomou a vacina, James?
-Oh, não, Jack. Meu seguro-saúde me mandou para um lugar terrível. Recusei-me a tomá-la.
-É mesmo? E como sucedeu essa afronta?
-Imagine você que eu cheguei ao hospital e fui ser atendido pelo médico.
-Isso é fácil de imaginar, James. Geralmente são os médicos que atendem em hospitais.
-À exceção da recepção, Jack.
-Sim, claro, James.
-Pois bem. Eu tive que passar por uma fila com seis pessoas à minha frente. Acredita nisso?
-Meus deus, James. Eu também iria embora, assim.
-Não foi aí que desisti, Jack. Guardei minhas ressalvas para quando me encontrasse com o diretor do hospital e persisti.
-Entendo. Aliás acredito, mas não entendo. Prossiga.
-Mantive meu olho no médico enquanto ele aplicava as injeções. E notei algo curioso.
-O que, James?
-Ele trocava a seringa a cada injeção, Jack. Usava seringas descartáveis.
-Que absurdo!
-Pois é. Tivemos uma discussão. Eu disse a ele que não queria nenhuma porcaria descartável e que ele deveria usar uma agulha de boa qualidade em mim.
-E ele concordou?
-Crê que não? Não pude acreditar. Perguntei a ele se ele sabe o que aconteceria se eu servisse ao chanceler suíço Moet et Chandon em um copo descartável. Sabe o que ele respondeu?
-O que, James?
-Nada, Jack. Olhou-me, apenas, parecendo bem confuso, por alguns segundos, e inventou uma baboseira sobre o hospital só trabalhar com agulhas descartáveis. Foi quando eu disse a ele "pois então este hospital é um lixo" e fui-me embora daquela pocilga.
-Que ridículo. Pretende processá-los, James?
-Não, Jack, não penso necessário. Escrevi para meu plano de sáude. Esse, sim, me respeita. Prometeu rever o convênio com aquele hospital e pediu mil desculpas pelo acontecimento.
-Horrível, James. Realmente horrível. Uma história de dar calafrios. A quantas anda a saúde neste país! Dou graças a deus pelo meu médico.
-Ele é bom, Jack? Eu ainda estou a procura de um bom médico.
-Oh, ele é dos melhores. Sabe do que eu mais gosto nele, James?
-Do que, Jack?
-Ramón não é o tipo de médico que força o tratamento dele em você. Suas diagnoses são todas personalizáveis.
-Parece ótimo, Jack. Adoro atendimento customizado. Em que hospital ele trabalha?
-Ele não trabalha em hospitais. Não confia neles. Eu presumo que você entenda o porquê, dado seu relato.
-Verdade, Jack. Grande verdade.
-Ele opera o que ele chama de "boutique de saúde". Um tipo de ateliê.
-Oh, que fantástico. Passe-me o telefone dele, Jack.
-Não o tenho, James. Ele não fornece um meio de contato. Mas nem precisa, pois liga todos os dias para me perguntar como estou.
-Que cuidadoso. Preciso tê-lo como médico.
-Eu o indico e ele vai, certamente, adicioná-lo à carteira de clientes, James. E, se você aceitar pagar um preço alto, pode tomar uma vacina como a minha.
-O que tem sua vacina de especial, Jack?
-Você pode pedir para usar agulhas de pessoas famosas. Ele as consegue. Eu tive o privilégio de usar uma das agulhas que pertenciam ao próprio Freddie Mercury.
-Fenomenal, Jack. Inclua-me ainda hoje nessa.