segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Dói Pra Comer o Xerife Fhirmo

Resultados de benchmarks dos browsers Opera, Firefox, Midori, Chrome, Epiphany e mais o caralho. A serem comentados em data posterior.


Ok, bora abandonar momentaneamente minha promissora carreira de escritor para comentar esta merda - a Nissin vai ter que esperar um pouco mais pela tabela nutricional do novo Miojo sabor fígado.

Eu andei pegando alguns browsers por aí e rodando benchmarks. O resultado está visível aí acima. Isso tudo aconteceu porque eu estava (de novo) a procurar algum browser decente para Linux e fiquei entre inúmeras alternativas. Pelo menos antes de concluir a pesquisa. Vamos lá:

Note que tem alguns Firefoxes de versões semelhantes. Não é que eu tenha feito isso por não ter mais o que fazer; eu tenho insônia, um juicer (sucador? suquificante?), curiosidade e objetos dos mais diversos. Posso tentar produzir suco de amendoim, por exemplo. Munido de uma quantidade gigantesca deles eu devo ter algum sucesso, imagino. Enfim: os Firefoxes todos têm grandes diferenças entre si. Permitam-me explicar.

Eu comecei lendo sobre a performance porcaria do Firefox no Linux em comparação à em Windows. Segundo algumas fontes internéticas, mesmo rodado em Wine, emulador de Windows, o Firefox é melhor que a versão oficial para Linux. Não foi bem assim por aqui. Firefox 3.5.5, aí acima, é o Firefox do Windows. Rodado em Linux. Via emulador. Isso é como pegar um tenista profissional e fazer com que ele jogue amarrado a uma carcaça de bode. Que ele consiga ter um desempenho praticamente igual ao do Firefox-controle, o Iceweasel 3.5, é sinal de que a carcaça de bode joga tênis pra caralho. Ou que o Firefox-controle é uma merda. De qualquer forma, o pessoal do Wine está de parabéns. Mas os rumores de que o Firefox via Wine é mais rápido que a versão nativa pra Linux não se confirmam - pelo menos não no FutureMark.

Já em termos de desempenho no Sunspider, o IceWeasel ficou por volta dos 6,5s, o que é um tanto deprimente, e o Firefox em Wine ficou pelos 3,4s. Então eu resolvi testar o Swiftfox, uma versão do Firefox que, segundo as más línguas, é realmente compilada com alguma decência. Essa versão está representada no gráfico por Firefox 3.5.3. Nota-se uma boa melhora na pontuação, e foi mais impressionante ainda a pontuação no Sunspider - 3,2s. Genial, não? O chato é que o SwiftFox só existe em versão 32 bits e isso dá alguns problemas de incompatibilidade com o meu sistema. Aqui não rodava o plugin do Flash, por exemplo, que infelizmente ainda é uma boa parte da internet. E eu também não tinha acesso aos ícones da barra de endereços, o que é bem desagradável.

Então o Swiftfox cruza primeiro a linha de chegada da corrida, mas porque ele é um aleijado numa cadeira de rodas turbinada. O que não conta em nada quando ele resolve entrar num campeonato de embaixadinhas, desses que rolam a cada esquina e que às vezes fazem só pra ver se você pode entrar no cinema. A propósito, eu estou arrecadando dinheiro para pagar um curso de metáforas. Qualquer trocado ajuda e você deve concordar comigo que o mundo só tem a ganhar com essa singela e humilde empreitada.

Resolvi testar o Epiphany, browser porcaria que vem com o Gnome, o popular sistema de janelas, e ele se saiu mal, como esperado. É só um browser para prover acesso básico à internet, nada muito chique. A graça é que, proporcionalmente, ele se saiu bem melhor que o Internet Explorer 8. Enquanto a queda do Firefox para o Epiphany aqui foi de aproximadamente 29%, a diferença média, para os usuários do site, entre Firefox 3.5 e IE 8 é de 56% em processadores AMD de 64 bits. Então o carro-chefe da Microsoft está sendo humilhantemente derrotado pelo projeto secundário de um monte de amadores. Que bacana.

Ainda nessa de comparar resultados proporcionais, o Safari 4 chega a ser quase duas vezes mais rápido que o Firefox 3.5 e dá um belo banho até no Swiftfox, que já não fez tão feio. Eu não gosto da Apple, mas eles mandaram bem nesse navegador, aparentemente.

Então eu fui testar algo baseado em WebKit, o motor de renderização da Apple, que agora é código aberto (o que, a julgar pelos resultados dos benchmarks, foi uma baita jogada). Peguei o Midori. Quem está lendo com atenção (oi, mãe) nota que o Midori está na minha relação inicial de browsers testados mas não aparece nos resultados. Bom, isso é um resultado em si, porque ele fracassou miseravelmente, travando repetidamente em um processo. O que é uma pena, porque ele é bem promissor. Pelo menos ele tem a desculpa de estar na versão 0.1.8, diferentemente de uns aí que já estão além da 3.5. Curiosamente "midori" significa "verde". Se eles mudarem o nome tão logo o projeto saia dos estágios iniciais de desenvolvimento, vai ser ao mesmo tempo bacana e um pouco triste, como todas as sacadinhas que só tiram um sorrisinho de canto de boca. No SunSpider, por outro lado, o Midori mandou melhor que o Firefox - 5,5s.

Vamos ao Opera. Eu gosto dele. É meio esquisito e geralmente segue em direções opostas de desenvolvimento à dos outros. Tem seu próprio motor gráfico e é ridiculamente esquisito. A pontuação dele fica a regular com a do Firefox - aqui, como na maioria dos AMDs, ele ficou um pouco abaixo, mas em plataformas Intel ele supera um pouco o Firefox. Engraçado é que isso é na média. Se nós formos analisar mais especificamente, ele é ridiulamente mais rápido em algumas áreas e ridiculamente mais lerdo em outras. No teste de Java da Sunspider, por exemplo, ele consegue levar 17,4s para ir de cabo a rabo, o que é ridículo. Ainda assim no uso diário da internet ele parece mais rápido. Curioso.

E, depois de perceber que só tinha opções paraolímpicas para escolhar, vi que tinham lançado uma versão alpha do Google Chrome para Linux. E o resultado foi esse aí: um banho. Some-se isso a um resultado de 1,6s no SunSpider e a humilhação é total. Eu gostaria muito de tê-lo descoberto antes de ter compilado um monte de porcarias na unha. Ah, vale lembrar que por algum motivo o Chrome se dá mal em plataformas AMD - ele chega a ser de três a quatro vezes mais rápido em processadores Intel, segundo o site. E, pra humilhar mais, ainda usa menos memória que meu cu sujo. Isso, somado à performance incrível em... peraí. Eu preciso esclarecer o negócio do cu sujo, não preciso? Seguinte: presume-se que, se meu cu está sujo, é porque eu esqueci de limpá-lo, ou seja, está fora da minha mente, não ocupando espaço na minha memória. Aquela doação pra escola de metáforas está parecendo melhor a cada segundo, hein? Voltando: ...somado à performance incrível em Javascript e nos outros testes, me dão um excelente browser... que não funciona com menus em cascata. Por algum motivo, o Chrome se recusa a ler menus em cascata, como aqueles "selecione sua cidade" que sempre vêm com o Acre como opção principal. Vai ver eles acham que a maioria das pessoas vive lá, então já fazem pensando em facilitar, sei lá. enfim, o tipo de menu que você encontra no site do banco, da operadora de celular, da companhia aérea, da padaria do seu bairro e em todos os outros lugares.

Resultado final: browsers, vocês são todos umas bostas e eu odeio todos vocês. Como protesto, vou continuar usando o Lynx em modo texto. Fodam-se. Com gosto.


Ah, e o xerife é árabe. Talvez o nome dele seja Fhomir, eu não me lembro bem ao certo.

Atualizando: novas versões do Google Chrome vêm melhorando significativamente o rendimento do navegador. IceWeasel, por outro lado, teve uma leve queda de performance em sua última versão, 3.5.6, no FutureMark. Não é somente da versão para Linux, pois uma versão subseqüente para Windows, Firefox 3.5.7, rodado através do Wine, obteve queda semelhante.

A propósito, o Epiphany 2.29 mudou de plataforma, de Gecko (do Firefox) para WebKit, então agora ele se identifica por aí como Safari. Deu uma baita diferença. Ele ficou bem rápido no SunSpider, batendo até o Chrome, mas nem conseguiu terminar os testes do Futuremark.

Abaixo eu estou incluindo uma tabela dos resultados do SunSpider que eu obtive para melhor visualização da bagaça:












BrowserSunSpider (em ms)
Epiphany 2.291375
IceWeasel 3.56608
Firefox 3.5.3 (Windows, via Wine)3256
Swiftfox 3.5.53412
IceWeasel 3.5.66404
Firefox 3.5.7 (Windows, via Wine)3022
Firefox 3.6 (Windows, via Wine)2615
Midori 0.185560
Chrome 4.0.2951634
Opera 10 Beta17201
Opera 10.1010286

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cinematica Do Figo

Este blog está ficando imagético demais pro meu gosto, mas eu preciso comentar duas más idéias vistas no mesmo dia.


A primeira é esse cachorro aí, que deve ser o mais anti-higiênico que eu já vi. De acordo com a plaquinha, ele quer que você não limpe a parte mais introvertida das suas nádegas. Em defesa dele, caso alguém estivesse prestes a me esfregar num cu sabidamente sujo, eu também trataria de me munir de plaquinha semelhante. O que torna o desenho duplamente perturbador, porque eu não quero esfregar cachorros fofinhos no meu cu, salvo no carnaval. Sério, não rabisquem nada do meu papel higiênico. Não tem possibilidade no mundo de um desenho que não vá me perturbar.


Aqui vem outra idéia curiosamente prática, mas que também não deixa ninguém mentalmente confortável. Já é um hospital do SUS, que não é conhecido por aí como o melhor sistema de saúde que se pode conseguir, e os caras resolvem colocar, num táxi estrategicamente posicionado frente à entrada, um anúncio que, se eficiente, é altamente aterrorizante para os pacientes. Eu, pessoalmente, ia a esse hospital na semana passada; mas, depois de ler o vidro traseiro, resolvi me costurar em casa, mesmo. Ficou quase bom e eu ainda econimizei uns trocados usando carne de segunda.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

É Uma Versão Sem Palhaçadas

É por isso que os jovens não lêem os clássicos: eles são umas merdas. Veja Hamlet, por exemplo. Mesmo que valha a pena pela história, quando o personagem cuja fala urge explica a necessidade de ser sucinto com "meu rei e madame, postular o que a majestade deveria ser, o que o dever é, por que o dia é dia e noite, noite e o tempo é tempo seria nada além de desperdiçar dia, noite e tempo. Então, sendo a brevidade a alma da inteligência, e o tédio seus membros a florescerem em expansivamente, serei breve...", o interesse dessa geração DDA da qual eu orgulhosamente faço parte vai embora com alguma pressa. Então, fazendo minhas parte pela revitalização da literatura no planeta, eu melhorei a obra daquele enrolão do Shakespeare. Nada de lenga-lengas, nada de devaneios. Para adequar a obra, foi só necessário a tolher: uma amassadela-chave e PAM - neoclássico instantâneo na mão. E aí está, abaixo. Sintam-se livres para apresentá-lo em teatros, desde que não se importem de eu ter parado minha releitura interpretativa no segundo ato, o que deixa a história meio anticlimática. A menos que seja completada, naturalmente. Eu sugiro mágicas com cartas. Enfim, sem mais delongas, minhas ou da versão original:

-------

Hamlet:

---ATO I:

---CENA I: Elsinore.

Bernardo: Chega aí.

Chicão: Opa. Certo?

Bernardo: Certo. Sai fora, Chicão, eu cubro tua guarda aqui.

Chicão: Valeu, velho, tá um frio da porra.

Bernardo: E correu tudo certinho?

Chicão: De boa.

Bernardo: Ô, se você encontrar o Horácio e o Marcelão manda aqueles filhos dumas putas virem pra cá logo.

Chicão: São eles ali não, ó?

ENTRAM HORÁCIO E MARCELÃO, OS FILHOS DUMAS PUTAS.

Horácio: E aí, que é que manda?

Marcelão: Opa!

Chicão: Tô indo dormir, se fode aí no frio vocês três.

Marcelão: Tá indo, já? Quem que vai cobrir tua guarda?

Chicão: Porra, Marcelo, o Bernardo. Olha ele aqui do meu lado, seu retardado. Tá chapado de maconha de novo?

Marcelão: Ah. Só.

CHICÃO SAI FORA

Marcelão: Aí, Bernardo.

Bernardo: Opa. O Horácio tá aqui?

Horácio: Caralho, lógico que tô. Essa porra é Hamlet ou Ensaio Sobre a Cegueira, cacete?

Bernardo: Ah. Bom, beleza.

Marcelão: Ô, apareceu o negócio de novo?

Bernardo: Rolou não, velho.

Marcelão: Horácio diz que é coisa da erva, mas rola um fantasma por aqui.

HORÁCIO GESTICULA UM CIGARRO SENDO FUMADO

Bernardo: Ô, pior que rola mesmo, velho.

Horácio: Ô se rola. Conta de novo a lorotinha pra mim, conta, seu maconheiro.

Bernardo: Bom, ontem eu tava aqui com o Marcelão enrolando um e

FANTASMA ENTRA

Marcelão: Caralho, velho, tá aqui, olha lá.

Bernardo: Aí, ó. Falei. Chupa, Horácio. E é igualzinho o rei, não é?

Marcelão: Tu é nerd, Horácio, fala com o fantasma.

Horácio: Porra, parece o rei mesmo. Tô me borrando todo.

Marcelão: Fala com ele, Horácio.

Horácio: Ô Gasparzinho, que é que você está fazendo aqui? Anda, vai falando, seu merdinha.

Marcelão: Porra, tu ofendeu ele.

Horácio: Fala! Fala, filha da puta! Fala!

FANTASMA SAI

Bernardo: Aê, Horácio bichinha! Todo se cagando nas calças. Não era mentira, seu escrotinho? Lorota? Papo de fumado?

Horácio: Zoado, bicho...

Marcelão: Não parecia com o rei?

Horácio: A gente já concordou que sim, Marcelão. Cacete.

Marcelão: Ah, é.

Horácio: Suspeito esse bicho aparecer agora, hein?

Marcelão: Pois é. A gente se preparando pra guerra aí eu nem sei o porquê...

Horácio: Porque você fica doidão o dia todo, Marcelão, caralho. A gente tá em guerra por causa de umas disputas de terra do nosso rei, jaz defunto como fez questão de se mostrar há uns segundos. Ele catou umas terras de um Fortinbras, provavelmente porque não tem problema tirar terra de gente com nome engraçado, e matou o cara, porque nosso rei era um sacana, mesmo. E reza a lenda que o filho dele vem à desforra. E... ai, cacete, olha ele aí de novo.

FANTASMA VOLTA

Horácio: Fica aí, fantasma. Se você fala, fala. Se peida, peida. Mas emite uma porra de um som e fala com a gente.

UM GALO CANTA

Horácio: Galo de merda. Então, fantasma, diz aí, vai. Se você tem algo importante pra falar, fala.

Marcelão: Ô, vou espetar ele com a lança.

Horácio: Porra, MArcelão, eu tô... tá, vai. Espeta esse corno.

Bernardo: Toma!

Horácio: Toma!

Marcelão: Ih, fez puf!

FANTASMA SAI

Marcelão: Heh. Não dá pra espetar fantasma, né?

Bernardo: Ele ia falar alguma coisa quando o galo cantou.

Horácio: Bom, fantasma não deve ficar aparecendo durante o dia, né? Sei lá. De qualquer forma, vamos contar pro Hamlet.

Marcelão: Ah, beleza, o que vocês decidirem aí tá bom.

---CENA 2: Dentro do Castelo

ENTRAM REI CLÁUDIO, RAINHA GERTRUDE, HAMLET, POLÔNIO, LAERTES, VOLTIMAND, CORNÉLIO E UNS FIGURANTES

Cláudio: Bom, moçada, é isso aí. Meu irmão, o rei Hamlet, morreu e eu tomei o lugar dele. Como governante. E como a mulher dele! Hahahaha! Ai, ai... Mas sério, tô comendo, mesmo. Ah, o Fortibras tá a fim de foder com a gente e tá arrumando um exercitozinho, então eu resolvi contar tudo pro tio dele, um velho moribundo. Cornélio, Voltimand, vocês levem esta carta aqui pra ele, tá?

Cornélio e Voltimand: Sim, nessas e em todas as demais coisas nós serviremos ao senhor.

Cláudio: Credo. Que fanáticos.

SAEM VOLTIMAND E CORNÉLIO

Cláudio: E aí, Laertes? Qual é a boa?

Laertes: Tô voltando pra França. Eu vim pra festinha de coroação, mas agora que acabou, vou sair fora. "Barriga cheia, pé na areia", sabe como é.

Cáudio: Polônio, o que é que você acha?

Polônio: Legal.

Cláudio: Legal, então. Agora, Hamlet, filhão...

Hamlet: (murmurando) Odeio esse merdinha...

Cláudio: ...como é que tá indo?

Hamlet: meh.

Gertrude: Hamlet, tira essa roupa preta. Tá parecendo um emo.

Hamlet: Pô, mas eu tô triste ainda pelo meu pai. Ele mal acabou de morrer.

Cláudio: Menino, nas palavras de Ivan Drago, "se morrer, morreu". Agora pára de viadagem. E não vai pra escolinha em Wittenberg, não. Fica por aqui, vai.

Gertrude: Só.

Hamlet: Tsc. Tá bom.

Cláudio: Ótimo.

SAI TODO MUNDO MENOS HAMLET

Hamlet: Caralho, minha mãe é uma vagabunda, mesmo. Mal meu pai morre e ela já corre a dar pro meu tio.

ENTRAM HORÁCIO, MARCELÃO E BERNARDO

Horácio: Fala, moleque!

Hamlet: Fala, Horácio. E aí, o que é que você está fazendo aqui?

Horácio: Matando aula.

Hamlet. Pf. Você é um puta CDF. Fala śerio.

Horácio: Vim ver teu pai ser enterrado.

Hamlet: Veio é pro casamento da minha velha, seu corno.

Horácio: Bom, eu já estava por aqui mesmo...

Hamlet: Minha mãe é uma vadia, hein? Eu acho que ando vendo meu pai.

Horácio: Hã... onde?

Hamlet: Na minha cabeça.

Horácio: Teu pai era gente boa.

Hamlet: Eu acho.

Horácio: É, eu vi ele ontem.

Hamlet: Quem?

Horácio: Teu pai, sua anta.

Hamlet: Meu pai!

Horácio: Bom, o fantasma dele. Todo armado. Duas vezes.

Hamlet: Onde?

Marcelão: Num lugar aí em que a gente estava.

Hamlet: E falaram com ele?

Horácio: Eu falei. Mas ele não falou nada. Um galo cantou, se isso ajuda.

Hamlet: Que esquisito.

Horácio: Então... e aí a gente veio te contar.

Hamlet: E vocês vão pra esse lugar de novo hoje?

Marcelão e Bernardo: Vamos.

Hamlet: Armado, você disse?

Marcelão e Bernardo: Foi.

Hamlet: Dos pés à cabeça?

Marcelão e Bernardo: Dos pés à cabeça.

Hamlet: Então vocês não viram a cara dele?

Horácio: Ah, sim, ele usou a máscara da armadura levantada.

Hamet: E ele parecia puto?

Horácio: Meio triste.

Hamlet: Branquelo ou coradinho?

Horácio: Branquelo.

Hamlet: Ele olhou pra você?

Horácio: Ahã.

Hamlet: Merda, eu devia ter estado lá.

Horácio: Você ia se borrar.

Hamlet: É provável, é provável. Ele ficou muito tempo?

Horácio: Deixa eu ver... mais ou menos o tempo de alguém contar até cem, de um modo mais ou menos apressado.

Marcelão e Bernardo: Mais tempo!

Horácio: Nem fodendo.

Hamlet: Hum... barba grisalha?

Horácio: É.

Hamlet: Legal, vou lá ver hoje.

Horácio: Ele deve vir.

Hamlet: Tá. Então vou lá falar com ele. Encontro vocês lá.

Todos: Tá bom, ué.

Hamlet: Tchau.

TODO MUNDO SAI, MENOS HAMLET

Hamlet: Meu pai morto e armado. Vai dar merda.

---CENA III: Casa de Polônio

ENTRAM LAERTES E OFÉLIA

Laertes: Tô vazando. Me liga.

Ofélia: Pode deixar.

Laertes: Ah, e não dá pro Hamlet, não. Ele deve querer te comer com boas intenções, mas vai se desinteressar logo. Ele vai ser rei, afinal das contas.

Ofélia: Vou tentar.

Laertes: Olha papai.

ENTRA POLÔNIO

Polônio: Moleque, entra já nesta porra deste barco. Tô avisando!

Laertes: Tô indo. Falou, Fefélia.

SAI LAERTES

Polônio: Que foi que ele te disse, Ofélia?

Ofélia: Algo sobre o Hamlet.

Polônio: Tá dando pra ele, sua vadiazinha?

Ofélia: Não, mas ele tá me cantando direto.

Polônio: sai fora, cacete. Esse cara é só conversinha, vai te comer e sumir. Tá na idade dos hormônios.

Ofélia: Se você diz, ok.

---CENA IV: Naquele Canto do Começo

ENTRAM HAMLET, HORÁCIO E MARCELÃO

Hamlet: Tá frio pra cacete. Que horas são?

Horácio: Quase meia-noite.

Hamlet: Não, já passa de meia-noite.

Horácio: Ah, é? E se você sabia, seu merda, por que perguntou? Bom, daqui a pouco chega o fantasma.

TROMPETES TOCAM

Horácio: Que merda é essa?

Hamlet: Frescura do Cláudio. Ele gosta que toquem trompete enquanto ele mata shots de tequila.

Horácio: E é um costume?

Hamlet: Só se for um costume de bêbados, como as nações vizinhas devem pensar.

Horácio: Ê, o fantasma!

ENTRA FANTASMA

Hamlet: Ê, pai morto. O que é que você quer?

Horácio: Parece que ele quer falar contigo sozinho.

Marcelão: Vai não.

Horácio: É, vai não.

Hamlet: Eu vou lá.

Horácio: Caralho, Hamlet!

Hamlet: Do que é que eu devia ter medo? Minha vida não vale nada. E minha alma, se eu tiver, é imortal, não é?

Horácio: E se ele te possuir, te amedrontar e te aterrorizar até o ponto da loucura? Até você ser só uma casca de homem, um doido sem valor, uma desgraça vergonhosa para todos os que te conhecem e até para você mesmo? Ele pode arruinar sua vida.

Hamlet: É, tem isso. Mas eu vou, Tô curioso.

Marcelão: Tu vai o caralho.

Hamlet: Tira a mão!

Horácio: Você não vai, não.

Hamlet: Tira essa porra dessa mão! Sai fora! Me solta e me deixa ir sozinho!

SAEM HAMLET E FANTASMA

Horácio: Ele é doido.

Marcelão: Vamos atrás?

Horácio: Por quê?

Marcelão: Tem algo de podre no reino da Dinamarca.

Horácio: Que sera, sera.

Marcelão. Não, bora atrás dele.

---Cena V: Outro Lugar Desse Mesmo Lugar

Hamlet: Tá, cansei. Abre o bico.

Fantasma: Então ouve.

Hamlet: Tô ouvindo, anda.

Fantasma: Eu logo vou sumir.

Hamlet: Tadinho.

Fantasma: Cala a boca e me escuta.

Hamlet: Já falei que tô ouvindo.

Fantasma: Ótimo. Ouve e me vinga.

Hamlet: Hein?

Fantasma: Eu sou o espírito do seu pai. Me assassinaram.

Hamlet: Assassinaram!

Fantasma: É. Foda, né? Teu tio que me matou.

Hamlet: Meu tio!

Fantasma: Pára de repetir, cacete. É, teu tio. Que ainda por cima tá comendo minha mulher. Por cima, por baixo, de várias formas. Porra. E ainda por cima o cara é feio de dar dó. Não sei como ele seduziu minha gracinha inocente.

Hamlet: ...

Fantasma: Bom, é sua função acabar com essa palhaçada. Mata seu tio, deixa sua mãe viva, ok?

FANTASMA SAI

Hamlet: Hum... vamos ver como eu vou lidar com o cretino e com a puta, então.

Marcelão e Horácio: (sussurrando) Ixe!

Hamlet. Beleza. É isso aí.

Horácio: Opa. Oi, Hamlet. Você por aqui?

Hamlet: Ah, Horácio. Tudo certo?

ENTRAM HORÁCIO E MARCELÃO

Marcelão: E aí, como foi?

Hamlet: Legal.

Horácio. Ótimo. Conta aí.

Hamlet: Não posso. É se-gre-do!

Horácio: Não conto pra ninguém.

Marcelâo: Nem eu.

Hamlet: Hum... tá bom. Tem um filho da puta na Dinamarca.

Horácio: Dã. E daí?

Hamlet: Bom... aí é da minha conta. Ei, não contem pra ninguém o que aconteceu aqui hoje, hein?

Horácio e Marcelão: Não contaremos.

Hamlet: Juram?

Fantasma: Jurem!

Hamlet: Nunca vão falar disso. Juram?

Fantasma: Jurem!

Hamlet: Sério, não pode!

Fantasma: Jurem!

Horácio: Isso é meio esquisito, mas eu juro.

Hamlet: Cala a boca, fantasma! Cacete! Tá atrapalhando!

ELES JURAM

Hamlet: Então tá feito. Ai, ai, como eu sou um fodido. Vou ter que consertar uma baita cagada, viu? Bom, nós três vamos ter que consertar, agora. Se foderam.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Com Nexo Inchado

-Oi.
-Oi.
-Tá comendo coxinha, é?
-... tô.
-Legal. Sabe como eles fazem?
-Hã... tem a massa, eles enchem de frango...
-É. Mas sabe como eles matam o frango?
-Olha, eu realmente não quero saber.
-Eles quebram o pescoço do bichinho. Faz "croque".
-Meu senhor, você pode me deixar comer em paz?
-Aí eles tiram as partes nobres, moem os restos indesejados e socam dentro dessa massa.
-Ô garçom, fecha a conta pra mim, por favor?
-Que é puro óleo, aliás. De má qualidade. Seboso e cheio de toxinas.
-Você é um desses vegetarianos malucos, é?
-Não, não. Eu sou um tarado maluco.
-Oi?
-Oi. Eu te achei bonita, então estou te seduzindo.
-...
-Então. Deixa eu te contar agora como fazem salsichas.
-Em que tipo de terra esquizóide isso se classifica como sedução?
-Bom, você vai querer me fazer parar de falar. Um jeito de fazer isso é ocupando minha boca com um beijo.
-É, e o outro é enfiando esse copo na sua cara.
-Então minha chance de sucesso é de 50%. Não é tão ruim.
-Esse é um raciocínio... ruim. Cadê a porra da conta?
-Deve estar vindo. Eles estão cheios, hoje.
-O lugar está vazio.
-De clientes, sim. Mas as baratas estão fazendo a festa pela cozinha, demora pra matar todas.
-Você não desistiu ainda desse plano maluco?
-De modo algum. Tenho tido sucesso.
-Bom, em alas psiquiátricas, talvez.
-Em alas psiquiátricas eu tenho outros métodos.
-É?
-É.
-Eu não quero perguntar quais são.
-Não pergunte.
-Quais são?
-Depende da garota. Eu sempre posso batucar ritmos irregulares perto de meninas com TOC, por exemplo.
-Batucar? Mas aí elas não vão querer ocupar sua boca, vão... ah. Que nojento.
-Ótimo. Mato dois coelhos com uma só cajadada: te seduzo e ainda tenho uma conversa agradável.
-Bom, desde que não chegue perto de mim com essas mãos cheias de fluidos de garotas com TOC...
-Em primeiro lugar, não é algo contagioso. Em segundo, eu sou mais direto, não batuco com as mãos.
-Eca. Você precisa entender que eu estou ficando mais enojada a cada segundo e isso não está te ajudando.
-É, eu sei. Tem que chegar a um ponto específico de desespero. Já já a gente alcança.
-Tá... eu vou processar esse restaurante por demorar demais para trazer a conta.
-Eu acho que não se pode fazer isso. Você é louca?
-Você está me acusando de ser louca? Você?
-Acusando não; perguntando. Pra eu poder mudar minhas táticas.
-Certo. Não, não sou. Ah, minha conta está chegando. Tchau, lunático.
-Pus!
-Hein?
-Pus! Também conhecido como suquinho de infecção, lá em casa! A gente bebe.
-Ah, tá ficando desesperado? Bom, já era. Você tem o tempo de eu preencher um cheque.
-Gordo! Gordo pelancudo! Gordo pelancudo malcriado! Gordo pelancudo malcriado velho! Faustão!
-Vou te dar uma chance, hein? Estou fazendo nominal ao estabelecimento.
-Badalhocas! Ary Toledo pagando um boquete! Um cão sarnento cagando num bebê estripado! Espartalhões!

Seguiu-se uma miríade de nojeiras. E, realmente, como num passe de mágica, um impulso, um espasmo irresistível fez com que a moça se debruçasse, lábios se encontrassem e fosse realizado o planejado beijo. Que durou por cerca de trinta segundos, enquanto o espasmo fazia o resto do seu trabalho, de descartar bile e alguma miscelânia de conteúdos estomacais.

Eu espero que essa história não tenha sido nojenta demais para você. Mas, se foi, me liga, beibe.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Democracia Nos Ri

Morreu mais um desses atores famosos, porém nem tanto, de Holywood. Ao final da gravação de um filme, junto com uma atriz coadjuvante de menor expressão, num pequeno incêndio que se deu no set. Foi algo horrível, sem dúvida nenhuma, completamente desnecessário e um desperdício tremendo de recursos o tanto de homenagens póstumas, vídeos no Youtube, choradeiras, especiais do Fantástico etc.

O maior frufru de todos, contudo, viria na cerimônia do Oscar, na forma de um pequeno vídeo. Algumas de suas falas retiradas do contexto para parecerem mais marcantes. Falas retiradas dos filmes dos quais participara, tiradas das bocas de seus pares românticos, Betty, Sharon, Mimi e Porky, dizendo, respectivamente, quão inesquecível ele era, quão amado sempre seria, como seus olhos castanhos expressavam a verdade e como sua jeba era enlouquecedora (essa foi lá do comecinho da carreira). Seguiram-se aplausos e mais aplausos. O encarregado de dizer algumas bondosas palavras, o diretor do filme no qual durante a rodagem o defunto passou a poder ser assim denominado, o fez graciosamente, em nenhum momento deixando de pensar no quanto a perda de tão jovem vida significava para ele - milhões e milhões de dólares a mais em ingressos.

Seguiu-se uma homenagem semelhante à atriz em decomposição. Algumas de suas falas retiradas do contexto para parecerem mais marcantes. Falas de Betty, Sharon, Mimi e Porky, dizendo, inclusive, como sua jeba era enlouquecedora. Perturbadoramente semelhante, a homenagem. Só tiveram o trabalho de mudar as cenas em que ele aparecia por algumas dela. Isso deixou metade do povo - a metade que não estava a pensar "ei, eu já vi isso antes em algum lugar..." - um tanto quanto transtornado, murmurando "que bissurdo".

Um ou outro de maior poder abstrativo, infelizmente ausentes, poderiam ter imaginado que não haveria motivo algum para revolta. Em primeiro lugar, a morta não estaria a se importar com suas homenagens póstumas, de qualquer forma, haja ou não vida post mortem. Se não há, ela não estaria nem poderia estar indignada e caso encerrado. Se há, pressupõe-se que os defuntos tenham mais o que fazer além de ficar acompanhando o que está ou não sendo dito a respeito de suas ex-vidas. Pelo menos de acordo com o que é dito por aí pelas religiões. Caso não haja nenhuma atividade mais interessante, é bem provável que a morte seja um passaporte para o tédio completo e o que se diz ou não a respeito de um morto seja de menor importância frente à semiexistência vazia que ele vai ser obrigado a suportar. A segunda.

Além de pessoas ficarem indignadas por um teórico desrespeito pelo qual o maior interessado, o desrespeitado, está pouco se fodendo, o outro elemento curioso do evento era a percepção desse desrespeito. É bem verdade que o trabalho cheirava a preguiça ou correria, mas até aí não havia problema nenhum. Se não houvesse homenagem, estariam todos indiferentes. Como houve uma não exatamente boa, houve revolta. Se houvesse uma boa, ficariam emocionados e satisfeitos. Colocando isso em um gráfico, então, a parábola resultante sugeriria que pouco esforço despejado em honrarias é pior que nenhum esforço e nenhuma lembrança, o que é um tanto quanto esquisito.

Talvez fosse o tom de impessoalidade dado à coisa. Não, isso também não poderia ser. Afinal o primeiro vídeo, ao ator, havia sido feito por profissionais que estavam recebendo por um serviço de edição como outro qualquer, por gente que sequer o conheceu em vida. E o resultado havia sido igual aos outros trezentos vídeos homenageadores exibidos nessas cerimônias. A mesma fórmula, só com uma ou outra cena modificadas para que se pudesse identificar de quem diabos estavam falando. Como algo nesses moldes pode ser percebido como mais pessoal ou sincero que algo rascunhado às pressas preguiçosamente? É um mistério.

E enquanto eu me alongava com essas masturbações filosóficas, já tinha sido gerada uma certa comoção na cerimônia. Essa comoção só se acalmou com um breve discurso do já mencionado diretor, que ocupava o palco: "Senhoras e senhores, nós fomos pegos de surpresa pela morte dessa jovem. É sempre surpreendente quando uma vida termina, e duplamente quando é uma vida de alguém tão nova, tão... bom... cheia de vida. Olha, o que eu estou querendo dizer é que ninguém esperava que ela também fosse morrer no incêndio e nós tivemos muito pouco tempo para a preparação de um vídeo para a cerimônia, então infelizmente foi o melhor que pudemos fazer. Se não foi suficiente é porque a dor em nossos corações ainda é grande demais. Mas, de qualquer forma, eu não me importo com essa pífica homenagem. Eu sei que a verdadeira homenagem, o que verdadeiramente irá ficar e que a deixaria muito feliz, está no filme que ela ajudou a contruir. E eu espero que todos vocês possam vê-lo em breve." Seguiram-se muitos aplausos e algumas lágrimas.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Xona, Bixinho

Eu sei que já passou a moda e tudo mais, mas eu ainda sinto que preciso me expressar a respeito da onda do xixi no banho. Eu adotei uma posição de silêncio respeitoso. Sabe aquele silêncio digno, cheio de pompa, a quietude dos cautelosos? Pois é, grande merda. Xingar as coisas é muito mais gostoso. E eu me sinto bastante inclinado a xingar, basicamente, dois lados dessa história de xixi no banho: quem é pró e quem é contra. E todo e qualquer misto de opiniões a respeito, também, por que não?

Em primeiro lugar, vamos deixar bem claro que xixi no banho é uma idéia panaca. É, legal, economiza uma descarga. E uma descarga de oito litros por dia a cada cento e noventa milhões de idiotas, pra falar só no Brasil, é água pra cacete pra limpar água de cacete. Só que tem o chuveiro lá, jogando água pra baixo, de boa. E ele movimenta mais água que a descarga nesses trinta segundos em que você está se perguntando o porquê de o lançamento balístico de líquidos não ter distância máxima aos quarenta e cinco graus de inclinação. Você pode muito bem desligar o chuveiro durante a mijadinha, mas aí não é xixi no banho, é meramente xixi no ralo. A propósito, pela linha sobre lançamento balístico, você deve ter adivinhado que eu vou cobrir aqui mais as procupações masculinas com o problema. Eu - graças a deus - não tenho muita experiência prática com o urinar feminino. Mas já dá pra ver, pela teoria, que seria algo bem menos prático e altamente objecionável por parte das pernas.

Outra idéia seria você continuar se ensaboando/enxaguando durante o golden shower do seu piso. Isso traz dois probleminhas: a) você tem um esfincter. Ele é um negócio mais ou menos voluntário, mas perceba que você quase necessariamente precisa acioná-lo ao mudar o peso de uma perna pra outra. E ao fazer diversos outros movimentos. Isso é altamente desconfortável e vai afetar tremendamente sua performance, acredite em mim. É ae possível que você aprenda a controlar o esfincter separadamente, aperfeiçoando suas capacidades de mijar enquanto realiza diversas outras atividades. Eu suponho que esse tempo possa ser melhor investido no aprendizado do duplo twist carpado, mas cada um tem uma opinião diferente a respeito de como aproveitar o próprio tempo para aprender inutilidades. b) O outro problema de não parar de se mexer para o pipi é o mesmo problema que demanda que bombeiros não tentem dançar à polka enquanto tentam apagar incêndios. Nada contra paredes de box mijadas, mas eu suponho que você vá querer limpá-las com água que cai do chuveiro, usando as mãos como conchinhas e, de novo, aí está o desperdício de água. Caso você não queira limpar, não ligand para o cheiro de urina, não faz nenhum sentido eu estar aqui digitando para você. Mije por aí à vontade. Nas calças, no sofá, no cachorro, só de sacanagem. Mije ao trabalhar, mije ao cozinhar, mije durante o duplo twist carpado. Porra, tá aí uma manobra difícil. Com isso eu ficaria muito, muito impressionado.

Então xixi no banho é uma idéia panaca. Mas quem é contra geralmente diz que é porque é anti-higiênico ou alguma frescura semelhante. Puta que pariu sêxtuplos! Dá vontade de mijar do olho de um infeliz desses. É sempre um argumento escroto que se coloca por parte dos contrários à iniciativa. E isso é até mais ou menos previsível: tirando o argumento de baixa eficiência do plano, vagamente delineado no parágrafo anterior, não há mais coerentes. Eu, particularmente, teria lançado uma campanha melhor: xixi na pia. Seria mais revoltante, eu imagino, mas muito mais eficiente. A pia não representa desperdício nenhum. A água que vai limpar a porcelana é a mesma que você usaria, de qualquer forma, para lavar as mãos. Bom, que 12% da população masculina usaria, de qualquer forma, para lavar as mãos. O argumento do contra pode até vir, mas provavelmente só daquelas pessoas que costumam esfregar o rosto no fundo da pia e que não sabem que urina é hidrossolúvel.

Se vocês quiserem realmente fazer alguma coisa para ajudar o povo pra lá de imbecil do S.O.S. Mata Atlântica, que começou essa campanha, você pode tomar uma iniciativa: cocô no banho. Sério, já imaginou quantos bilhões de quilos de papel higiênico são utilizados só pra limparmos (mal!) nossas bundinhas? E tudo porque temos preguicinha de lavar nossos rabos direito? Então coma mamão todos os dias ou tome uma boa golada de óleo de rícino e borre-de de amores pela vegetação tropical.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sem Anagrama Hoje

Em um determinado momento da história deste nosso planeta, havia dois homens intelectualmente fenomenais. Um deles, Giuseppe Toselli, formou-se em física nuclear, mecatrônica, química molecular, filosofia e medicina, e trabalhou fenomenalmente pelo avanço da ciência em todos esses campos. Foi celebrado pela humanidade como uma jóia e chegou a ganhar o prêmio Nobel seis vezes consecutivas em uma mesma cerimônia. O outro homem não fez nada disso, então é considerado vastamente superior. É ele quem vamos acompanhar.

Seu nome era Jorge Antumnes. Trabalhava como gari. E foi trabalhando como gari que encontrou um bilhete todo retorcido na calçada da cidade. Julgou ser, pela extensão do documento, uma notificação comovente de suicídio ou a maior e mais detalhada lista de compras do mundo, completa com diagramas do supermercado e planos alternativos para obtenção de cereais no caso de uma emergência. O peso para papel improvisado que o impedia de sair voando com o vento, um corpo fraturado e coberto de sangue, apontava para a primeira hipótese. Jorge olhou rapidamente em volta, identificando o momento em que nenhum dos mais de mil transeuntes curiosos dispostos em semi-círculo ao redor da cena estivesse prestando atenção, e surrupiou o papel. Pode até parecer uma atitude estranha, mas ele teve dois bons motivos. Quer dizer... não é tão estranho assim um gari catando papel da rua, mas ele não pegou por causa de seu dever. O papel que pertenceria à lata de lixo da prefeitura foi roubado por Jorge por um interesse pessoal. E isso é que é estranho. Tá, não que seja estranho funcionários públicos desviarem propriedade da prefeitura, mas... ah, esquece. Vamos aos dois motivos:

O primeiro era seu intestino preso. Como gari, ele não ganhava um salário exatamente opulento, o que o privava de adquirir iogurtes reguladores de intestino. Ou livros. Isso resultava em horas entediantes intermináveis de análise de azulejos. Jorge já seria um grande conhecedor do assunto e poderia ganhar muito dinheiro na área, não fosse por analisar todos os dias o mesmo azulejo. Infelizmente não havia mercado para alguém com tão alto nível de especialização. Tendo a intenção de evitar o desperdício de futuros estudos, ele buscava em sua profissão coisas interessantes, que pudessem entretê-lo durante suas horas menos nobres. O segundo motivo para o roubo do papel evidenciava sua inteligência: o corpo era muito pesado para se carregar. Além de que se daria por falta do cadáver com muito mais facilidade. Não fosse por esses detalhes muito astutamente observados, Jorge não só aproveitaria seus momentos de batalha intestinal para treinar suas capacidades de ventríloquo, mas teria também alguma companhia em casa para o horário das refeições, o que seria refrescante. Especialmente porque seria uma companhia que, como seus demais semelhantes na escala de transmutação para adubo, não acarretaria em gastos alimentares extras. De qualquer forma, não ficou a lamentar a oportunidade perdida de fazer um amigo que a vida desfez e deu-se por contente tendo sua distração menor para mais tarde.

E o mais tarde, nesse dia específico, veio mais cedo. Em parte por causa de uma barganha com um senhor inescrupuloso da barraquinha do centro que envolveu um pacote de batatas frias, refrigerante de fabricação local, dois cachorros-quentes, sendo um deles recondicionado, e as palavras “legalmente eu não posso vender isso para o senhor, mas...”, em parte por conta da expectativa quanto à sua primeira leitura em meses que não continha um capítulo para contra-indicações e efeitos adversos. Mas embora não fossem destacados, eles certamente estavam lá, em concentrações metafóricas acima da dose recomendada...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Anencéfalo Repentinoso

Agora, se eu puder contradizer ou, ao menos, floccinaucinihilipilificar o conteúdo da mensagem anterior, permitam-me. É bem verdade que existem poucas pessoas bradando - diabos, existem poucas pessoas sussurrando - coisas úteis, significantes ou interessantes pelos blogs da vida. Não entrando no mérito de que sem dúvida alguma o fato de o Juninho ter dado uns pegas na Carlinha deva ser importante para a Cocotinha (aliás, sem dúvida, não - Cocotinha, sua escrota, não devia estar se importando com esse homem que não presta), a verdade é que muito do que se publica não é de interesse social. E muito menos intelectual.

Mas vamos pensar nisso direito: o que diabos se deve publicar? Como disseram certa vez que diria eu, se eu gosto de cagar na janela, ninguém tem nada a ver com isso. Perfeito. Então pode-se tudo. Mas o que é que faz alguma diferença? Tá, é outro debate infinito acerca do que é fazer diferença, mas vamos atochar a masturbação filosófica cu acima e simplificar ao máximo: o que deve ser expressado é simplesmente o que não costuma ser.

Isso é bastante óbvio. Num meio em que todo mundo diz "eu odeio mintira e injustissa :xxxx s/ scrap naum me add", eu quero ver sendo publicado "adoro estrupar criansinhas :xxxx me add aih frmz". Não que eu necessariamente ache um barato estuprar criancinhas (e não que eu não ache - deixe um comentário com seu endereço, aqui, se você tiver menos de doze anos, só por via das dúvidas), mas eu quero ver sendo exposto algo que geralmente não é. Porque o resto não precisa mais ser, macacada. O que não é contrário ao normal ou, no mínimo, inusitado, é demagogia. E pra isso eu tenho o Datena, o governo e mais setecentos outros nichos específicos de idéias gastas diferenciadas. Porcaria, pra isso tem gente na rua. Pra isso tem o velho que diz "que bissurdo" todo dia quando passa notícia de criancinha estrangulada e depois dá risada de Zorra Total*.

É mais ou menos como o doidão já disse: "não se preocupe com roubarem suas idéias - se elas forem boas, você terá que socá-las goela abaixo das pessoas". E é bem por aí. Se você decidir se esforçar, então que esteja contra alguma coisa. Porque caso contrário, por mim e pelas leis da cinemática, você pode ir embora. Então, sim, essa é a parte repugnante desses blogs de "oioioioioioi comprei meu iPooood XD" - fodam-se você e seu iPod. Uma caralhada de gente compra iPods e você está desperdiçando bits e bytes à toa. Está contribuindo para o encarecimento do tráfego e da hospedagem de informações valiosas na internet por causa das suas porcarias desinteressantes. Igualmente eu não me importo se você tiver terminado seu namoro, se estiver gostando da sua festinha, se estiver animado com o prospecto de dar uma bimbada esta noite. E isso porque eu não te conheço. É pra isso que se publica as coisas: para que elas cheguem a pessoas que não conhecemos. Caso contrário eu posso estabelecer uma linha de contato muito mais direta e pessoal, certo? Especialmente em se tratando de internet, o que se faz é jogar idéias ao vento e ver se elas chegam a algum lugar. E esses detalhes tão pequenos de vocês estão atrapalhando a anemocoria dos meus importantíssimos trocadilhos!

Então nada de ficar publicando detalhes da sua vida e nada de ficar repetindo idéias e sentimentos que todo mundo já conhece, ok? A menos que tenha algo original para colocar neles ou ao menos uma luz nova sob a qual pô-los. O que é que resta? Coisas que sejam contra coisas em número maior e coisas que não se sabe que são coisas. Mais ou menos isso? Ok. Isso seria teoricamente ideal, não? Tirando o fato de todos terem que ficar quase mudos quando as idéias de equilibrassem socialmente em volume, mas isso é algo que não poderia acontecer. Pelo menos não globalmente.

Opa. Que é o que traz problemas. Como eu mesmo já sabotei ali acima, existem nichos e nichos de discursos demagogos. Então, enquanto a idéia de estuprar criancinhas pode ser até já cansativa no meu nicho (toda terça à noite ali na loja da Harley na Cerro Corá, hein, pessoal? Pode aparecer e leva as que for consumir), é possível que não seja para outras pessoas. Como Zezinho dizendo "ai que flor linda dá vontade de apertar e depois cantar e aí socar o Janjão bunda adentro" em seu fotolog pode ser relevante de ele for um fazendeiro texano (pré-Brokeback). É lógico que é mais provável que ele seja só um emo de Perdizes, mas vá saber. A rede não faz distinções.

Em segundo lugar, essa noção de que ir contra o zeitgeist é de alguma valia é um negócio complicado. Lógico que você pode ter um porquê para gritar, espernear e se descabelar, mas ir contra o padrão não deve ser, de modo algum, um tipo de filtro. Nem devia fazer nenhuma diferença. Na verdade o título de contracultura e nossa simpatia para com ela é o que sempre a mata. Qualquer movimento legítimo que se torne expressivo vai acabar atraindo uma manada de idiotas de modo a perder o sentido. Aconteceu com os hippies, com os beats e com Star Wars.

O porquê está largamente aberto a especulação, mas eu diria, como de costume, que é porque as pessoas são umas idiotas. É natural, está no sangue. Nós estragamos as coisas. O movimento hippie foi uma beleza, quando surgiu. Gente desiludida com a sociedade, buscando uma alternativa. Olha que coisa boa. Ah, e drogas pra cacete. Olha que coisa boa. E Beatles. O que já fica meio não tão bom assim, mas a galera gosta, vá. O que foi que aconteceu com os hippies?

Eles foram pro saco. Como e quando exatamente é difícil precisar, mas é mais ou menos seguro dizer que pelo Woodstock as coisas já não iam tão bem e que pelo Altamont Free Concert tudo já estava podre. E hoje os ex-hippies são executivos, trabalham em escritórios e mandam seus filhos tirarem boas notas e obedecerem os professores. Mas tudo bem, porque sempre existem novas gerações de hippies, certo? Certo?

Eu acho que não. Peraí, vamos recapitular pra quem tem ADD: estávamos (e podemos retomar, no final) discutindo o que valeria a pena ser publicado. Eu disse que o que fosse contra o estabelecido deveria ser de alguma valia, mas sabiamente comecei a argumentar contra essa tese. E cheguei aos hippies como exemplo.

É verdade que não tem novas gerações de hippies hoje. Não se identifica uma geração idealista. O máximo que persiste são os mundrungos da faculdade que compram camisa de grife com a cara do Che, mas esses não se pode nem mencionar. Esse povo só é comuna pra comer menininhas (e devem perder feio pros capitalistas, porque esses têm carros além de papo-furado). Nosso grupo de subculturas (e não só aqui, mas globalmente) é de góticos, punks, emos etc. Nenhum desses grupos têm crenças ou bandeiras. Talvez originalmente tivessem, mas foram estragados ainda no começo. Talvez pelo próprio design, é verdade, mas ainda assim deveriam ter resistido um pouco mais.

Por que o que representa um emo? O que ele quer? Poder expressar suas emoções? Bicho, não tem ninguém te impedindo - faz isso à vontade, não precisa usar essas roupas babacas, o cabelinho nojento e se aglomerar com uma ganguezinha se vocês não têm, na verdade, nada em comum entre si a mais que com o resto das outras pessoas. Os punks, pelo menos, tinham alguma ideologia no meio daquelas desfigurações arbitrárias. Que a esta altura do campeonato já foi perdida. Aliás os punks não deixavam de ser hippies hardcore. E a ausência deles me faz perguntar de novo: cadê os hippies desta era?

Cadê o povo que é realmente subversivo? Não necessariamente destrutivo, mas um Larry Darrell da vida. Não tem? Ou finalmente aprederam que contracultura tem que ser algo individual? Lógico que não - as pessoas não aprendem coletivamente, assim, a pensarem de forma mais individual. O que acontece é que hoje a galera que seria hippie se interessa é por iPods, Macs, festinhas e não por uma linha filosófica. Deve estar ligado ao que ocasionou toda essa vontade das pessoas de serem "indies" - como não existe mais uma contracultura para se clamar um rompimento ideológico com o que está estabelecido, a galera usa música para alegar uma certa independência, mas essa música, em si, não exprime nada de único ou diferente. Se destacam por serem desconhecidas. Ou se destacavam, porque hoje até os que se chamavam de indies morreram e todos os seus artistas foram lançados no iTunes e são ouvidos em seus iPods, mp4s e tocadas por seus DJs de fundo de quintal. São um bando de neopaninari tecnófilos. Sabe o que, agora, mais passa perto da contracultura de antigamente? Sabe o que é que ainda é contra as autoridades, faz sucesso na música e é celebrado por aí em festas altamente subversivas? O Comando Vermelho cantando funk. É uma beleza: "meto tiro pela perna, pelas costas", "pra subir aqui no morro até o BOPE treme". Isso aí, moçada, beleza. Essa é a nossa "geração do amor". Flower Power neles, turma do Proibidão. Manda ver, Lil' Wayne. Mp3 na orelha e mp5 na mão.

Bom, não dá pra negar que aí esteja nossa contracultura. Francamente, eu preferia os hippies. Então eu acho que é isso que valeria a pena publicar hoje em dia, segundo eu mesmo há alguns parágrafos. Letras de funk. Os que eu mencionei acima cuidam da parte de serem contra a cultura vigente, mas ainda tem os "originais", as coisas novas, nas quais ninguém pensou ainda. Tipo Dança do Quadrado. Não faz quase nenhum sentido, que é o que quase garante sua originalidade. Crédito pro cara que inventou isso.

Então vamos voltar à estaca zero, deixar regras de publicação pra lá e aceitar os "adhoro meu mozin nhoooom :****", sabendo que a alternativa é a Dança da Motinha 2. Eu poderia e deveria discursar sobre o porquê de a contracultura estar sempre fadada a se degenerar e desaparecer, mas vai que algum representante da atual lê a respeito e acaba tendo uma boa idéia pra perpetuar o funk carioca. Não vou correr esse risco, não.

Não que tenha algo de errado com nada isso. É o curso natural das coisas e, a longo prazo, sabe-se lá se é bom ou ruim. Não dá pra dizer nem a curto. Mas, só pra encerrar, que a gente sente falta de uma geração idealista, sente. Devia ter grupos enormes de gente como o André Dahmer, não como o Dado Dolabela.

*Problema detectado P.S.: se ele ri todo dia de Zorra Total, então esse cara deve estar alucinando, dado que tal "programa" só passa aos sábados. A menos que ele tenha gravados alguns episódios, mas isso é ainda mentalmente mais preocupante que alucinações e - graças a deus - foge à normalidade. Considere o exemplo mesmo assim.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O Nome Da Rosaa

Recentemente estive limpando minha caixa de e-mails e encontrei algumas pérolas antigas. Entre a costumeira cascata de vídeos pornográficos e mensagens de calúnica, difamação e chantagem, eu acabei passando por uma velharia ainda muito atual, sobretudo com o advento do Twitter. Para proteger o colega redator deste jumbo de erros de digitação, excesso de vírgulas e reticências e falta de divisão paragráfica, vou atribuir a ele um psudônimo - vamos chamá-lo somente de "o Mono da Seara" e ler a porcaria que ele escreveu enquanto confundia pontos de interrogação com aspas (o que convenientemente me livra do trabalho de ter que adaptar aspas duplas para aspas simples):

"Esse post é uma realização de MYB Productions na Fornications LTDA.

Há muito tempo atrás, no longínquo ano de 1964 era instituído o golpe
militar. A partir daí o que vimos foi um governo autoritário e completa
aniquilação da liberdade de expressão. Sem a possibilidade de se dizer o
que pensava, vimos crescer, aflorar e desabrochar um grande, ou não tão
grande assim, número de pessoas dispostas a dizer o que pensavam, mesmo que
para isso tivessem que utilizar toda a sua técnica verborrágica para que
seu modo de pensar não fosse automaticamente detectado pelos censuradores.
Vemos nesse momento artistas como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto
Gil, Tom Zé, Belchior, e outros que se esforçaram para não deixar de
mostrar sua indignação em relação ao regime autoritário, mas ao mesmo tempo
tentavam impedir que suas canções fossem proibidas. Músicas muito intensas,
muito bem feitas, com uma crítica aguda e voraz ao movimento militar eram
tidas como hinos da juventude, demonstravam a indignação dos jovens, dos
alunos da USP que invadiram o prédio do crusp, na mesma época em que TUPÃ,
o mestre, começava a trabalhar e cursar a faculdade. Essas músicas falam
sem falar. O que quero dizer é que era possível entender o sentido obscuro
por trás daquelas palavras e sons, mas não era explícito e por isso a
censura não podia impedi-los-los. Era uma juventude cheia de idéias novas,
de vontade de fazer algo diferente e disposta a mudar a realidade que
viviam. A ditadura tentava impedi-los de demonstrar suas idéias, mas eles
lutavam contra isso. Numa época em que ninguém podia falar nada, eles eram
os que mais falavam. Ao contrário de Roberto Carlos que falava sobre uma
festa de arromba com seu amigo, de ele subindo a augusta com seu carro, as
pessoas que citamos mais acima falavam da repressão, da morte e do
silêncio.. Da vida, das novidades, de idéias, de sonhos.... falavam de
coisas próprias, coisas gerais, ideais deles, compartilhados com
todos...... numa época em que ninguém podia falar, mas eles falavam, se
arriscavam e falavam..... mas muitos continuavam falando de suas festinhas
e de seus carros....o tempo passou.... a ditadura se tornou insustentável,
mas as coisas ainda eram difíceis para os músicos nos anos 80.... a censura
ainda proibia Raul Seixas de gravar algumas músicas, como o ¿rock das
aranhas¿, por julgá-la imoral.. Até o RPM foi censurado por causa de
¿alvorada voraz¿, que falava de escândalos do governo..... ao mesmo tempo,
Ovelha gravava uma música americana em português, wando cantava ¿você é
luz¿, e outros cantores bregas se acumulavam nas rádios e prateleiras, ao
lado do eterno TED, ODAYR YPSILON JOSÉ... Mas ainda havia um ódio, uma
revolta junto aos jovens que se amontoavam em shows de bandas como Capital
Inicial, IRA!, Barão Vermelho, Legião Urbana. Renato Russo escrevia
¿geração coca-cola¿, ¿que país é esse¿, músicas que demonstravam que os
jovens não estavam satisfeitos... que queriam mudanças, que precisavam de
mudanças.... Mas ao mesmo tempo Fábio Júnior cantava ¿caça e caçador¿,
Roupa Nova cantava ¿Dona¿, Dominó cantava ¿P da vida¿.... Sempre existiram
dois pólos na música nessas épocas, os que não estavam nem aí e os que se
preocupavam em tentar mudar alguma coisa, por menor que fosse. Não digo que
os que não estavam nem aí estivessem errados, a presença deles é muito
útil, não devemos esquecer que músicas românticas, bregas, todas são
válidas e úteis, todas tem um motivo pra existir, elas divertem as pessoas,
mas as músicas de protestos são importantíssimas, representam uma parcela
descontente da população... Hoje há menos problemas do que na época da
ditadura? Certamente há um problema a menos, a dtadura. Mas o resto está
perfeito??? Maravilhoso??? Será que apenas Gabriel o pensador ainda quer
fazer uma música que se revolta contra alguma coisa que acontece? Não sou
fã dele, mas ele é o único que ainda se revolta e tenta mostrar isso em
suas músicas.. mesmo que no meio entre algo com ¿lora burra¿, uma estupidez
incrível deste compositor..... mas o que é chato é ver que o tão amado e
respeitado Renato Russo (esclareço que ele é amado por milhares de pessoas,
nas quais eu não me incluo, porém o respeito por ser um grande compositor),
um compositor muito bom, de uma capacidade léxica incrível, que consegue
expor de forma sutil suas idéias, tenha deixado de escrever suas canções
críticas, e tenha passado a contar casos de amor homossexual em suas
músicas. O mesmo que ocorreu com Cazuza, outro grande compositor que podia
ter demonstrado ainda mais sua indignação em usas músicas, mas preferiu
cantar o que que ¿faz parte de meu show¿. Ok, respeito suas vontades, mas é
triste ver tamanha capacidade desperdiçada. Deixa isso pro Fábio Júnior.
Mas o que acontece é que ao ter a liberdade de expressão tão desejada, as
pessoas deixam de se expressar. Por que na ditadura, onde ninguém podia
falar, as pessoas falavam, e agora que podemos cantar tudo, preferimos
dizer que ¿um tapinha não dói¿, dizer que não sei ¿o que fazer quando um
querer só faz chorar, só faz sofrer um coração¿, ou até contar que ¿ toda
vez que eu chego em casa a barata da vizinha tá na minha cama¿, Claro que
essas músicas têm que existir, mas apenas essas têm que existir?? Uma
música criticando o sistema de ensino é inútil? Uma música criticando o
sistema de saúde, as balas perdidas, a guerra do tráfico, o vandalismo, as
drogas, a polícia corrupta, será que tudo isso deve ficar restrito aos
grupos de rap da periferia??? não há como fazer uma música como era feita
por Chico Buarque, melodiosa, harmoniosa, bem escrita, revoltada e
significativa?? Sim, há. Mas ninguém faz. No momento em que temos a maior
oportunidade de falar, nos calamos.. quando nos deixam falar, nos
calamos.... como se agora não fizesse sentido falar, pois podemos
falar...... é como um criança que só quer colocar o dedo na tomada porque a
mãe disse pra ela não fazer, mas se a mãe permitisse que ela colocasse, ela
não iria colocar.... é uma atitude ridícula de todos os lados, pois sabemos
que isso ocorre também porque as gravadoras não querem esse tipo de música,
pois essas músicas não vendem... e sabemos que essas músicas não vendem
porque as gravadoras não querem, pois se conseguem vender até cd do
Tiririca, conseguiriam vender qualquer coisa... mas minha crítica até aqui
foi apenas uma introdução ¿aquilo que falei lá em cima... (aliás, o djavan
tem uma capacidade incrível para fazer letras de música, por que será que
ele não para um dia e ao invés de falar de aprender japonês em braile, ele
não faz uma música criticando o sistema de ensino pra deficientes
auditivos??) Bem, hoje temos uma capacidade de divulgar informação enorme,
temos um cardume de formas de divulgarmos o que queremos, seja pela
internet seja pelo rádio, pela tv, qualquer lugar... mas a internet é um
modo bem peculiar. Um computador, uma linha telefônica, coisas a que grande
parte das pessoas tem acesso. Seja em casa, trabalho, cyber café, escola...
Um pulso... é o que se paga por qualquer tempo de utilização do telefone no
domingo.... com o Itelefônica, que te dá 15% de desconto, você paga 85% de
1 pulso. Pra colocar qualquer tipo de informação.... Eu olho e vejo um
blog.... é grátis, você coloca o blog de graça, gratuitamente, é grátis e
além de tudo você não paga nada para colocar esse blog, que não te custa
nada e que não é necessário pagar para utilizá-lo, além de não ter custos.
Um blog, que pode ser acessado por milhares de pessoas, que pode ser
mostrado pra milhares de pessoas. Isso e a liberdade de expressão com a
qual sonharam tantos de nossos ícones da música, do cinema, da tv.... é o
espaço perfeito pra podermos falar o que pensamos, como pensamos, pra
discutirmos idéias, teorias, pra conversarmos, pra compararmos nossas
idéias e ¿sodoestearmos*¿ nossos passos, de acordo com as anãlises que
fizermos do que foi dito.... é um espaço onde podmeos colocar até uma
crítica completa sobre a obra do esforçado Marx, tendo como base a teoria
durkheimiana e por trás disso, Malthus.... pode.... pode colocar o que
quiser, e muitas pessoas podem ler, gostar, odiar, pode gerar polêmica,
pode gerar um grupo de amigos/colegas, pode gerar ¿discução¿ e consequente
caos, que levará a um crescimento mental, cultural e intelectual enorme,
pode gerar uma discussão como o post de Urion sobre matrix gerou, uma
discussão aberta, cheia de opiniões divergentes, com respeito às opiniões
existentes, uma discussão que fez as pessoas que leram e participaram se
sentirem melhores, aprenderem mais, sobretudo.. uma discussão.....
O blog é um espaço perfeito pra isso, mas o que eu vejo normalmente?? Vejo
a estupidez de blogs que escancaram uma vida monótona, inútil e brega pra
pessoas que tem ainda menos pra fazer do que aquele que está escrevendo.
Vejo blogs onde há mensagens sem nenhum sentido de pessoas em estado
psicológico lastimável, e que quer ¿compartilhar¿ sua tristeza com os
outros ao invés de tentar resolver seu problema. Blogs de louvação a
namoradas de pessoas que mal sabemos quem são, que contam detalhes
altamente dispensáveis da vida sexual de desconhecidos, blogs com mensagens
do tipo ¿ hoje estou com sono... vou dormir...¿ ; hoje é segunda.. me dá
muita preguiça na segunda feira... acho que é porque vem depois do
domingo.... vc já notou que o dia de domingo, no plural vira o nome de um
homem?? DOMINGOS.... interessante né??¿.. blogs, blogs e mais blogs, espaço
cultural livre utilizado da forma mais ridícula possível, da forma mais sem
sentido... não quero saber se o dono do blog tem sono, gosta de pizza,
gosta de verde, amarelo, roxo, azul, magenta, cinza escuro e palios
verdes..... não me interessa, não interessa pra ninguém pois não sabemos
nem quem ele é...... não interessa nem pra mãe dele...Isso é uma coisa
ridícula.. é como se tivéssemos a possibilidade de sermos Chicos Buarques e
Zecas Baleyros, mas preferíssemos ser Mcs Serginhos, Wanessas Camargos e
KLBs....... Nós temos a possibilidade de disseminar cultura, de adquirir
cultura, de colaborar com discussões, de aprender a discutir, a defender
ideias, a protestar.. mas o que fazemos?? Escrevemos que a ex namorada está
ligando pra nossa casa... escrevemos que fomos num restaurante com a
namorada...e ainda colcamos embaixo.... eu amo minha namorada..... e
colocamos isso piscando e um detalhe... mas ela comeu muita pizza
ontem....FODA-SE, FODA-SE FODA-SE...... vamos usar o espaço que temos pra
fazer algo de útil, de interessante, de importante, pra nós, pros otros,
vamos fazer posts engraçados, que chamem a atenção, vamos discutir teorias
novas, vamos pensar em idéias revolucionárias, se é que elas existem, vamos
fazer algo decente e parar de fazer posts ridículos sobre detalhes
impertinentes de nossa própria vida, que não dizem respeito e não
interessam a ninguém..... vamos viver para o mundo e parar de olharmos para
o nosso próprios umbigo... ter um blog pessoal, um diário na internet e
achar que isso é interessante para os outros é julgar que somos as pessoas
mais importantes do universo, que há muitas pessoas querendo ler se eu
escovei os dentes hoje.... Mas não é.. Paremos de ser egoístas e pensemos
que podemos fazer um blog juntos, todos, grandes discussões..... vamos
fazer um blog pra ser comentado, pra ser lido, pra ter idéias novas, pra
ser sincero, pra ser real, pra ser nosso, pra ser geral e não egoísta, pra
ser cultural e não inútil, pra ser interessante e não pra ser fofoca de
gente que nem famosa é.... se é pra saber da vida de alguém que eu não
conheço, eu compro a ¿contigo¿...... Eu quero informação nova, eu quero um
blog Belchior e não um blog Art Popular... eu qeuro ter essa liberdade de
expressão pra expressar alguma coisa e parar com essa coisa ridícula e
infantil de escrevermos como foi nosso dia achando que outros querem
saber...... Por isso , a MYB Productions está lançando o MAB ¿ Movimento
anti-babaquice. Cujo slogan é ¿Blog é cultura. Diário que é diário é
segredo absoluto¿. Esse slogan representa a verdade que é: num diário
escrevemos coisas íntimas que não contaríamos para ninguém. Pergunte a
qualquer mulher que já teve um. Elas escrevem até como foi a primeira vez
delas, com cada namorado.... isso é coisa que não se coloca no blog, mas
então não é um diário, é uma fabriquinha de emoções forçadas e forjadas,
para enganar/ludibriar/sacanear os idiotas que lêem achando que estão
descobrindo coisas sobre outras pessoas. Qualquer um auqi consegue fazer
pelo menos 3 tipos de blogs diferentes, e colocar mensagens todos os dias
criando his´torias diferentes.. pode-se tentar com
1- o maníaco depressivo que perdeu a namorada e os amigos e quer se matar
2- o namorado apaixonado que coloca o nome de sua namorada no post de 3 a 4
vezes e se declara em todos os posts
3- a menininha confusa que não sabe se deve ficar com 7 pessoas por noite,
se deve transar com o namorado, se deve se masturbar, se deve ser lésbica,
se odeia a mãe ou se odeia a irmã, se é patty e vai ao shopping, se é pobre
e quer ir e não pode.

Por isso lanço o movimento, que acho que causará discussão, controvérsias,
brigas, ódio e caos, mas levará ao crescimento....
MAB- (não é Maria Aparecida Baccega) mas é MAB ¿ Movimento Anti-Babaquice!
Não ao Blog diário..... Blog é cultura, Diário que é diário é segredo
absoluto!
Obrigado, MYB productions
É importante saber quem é quem nessa panela."

Vale dizer que hoje esse singelo rapaz hoje trabalha pros capetas chupadores de bolas do status quo e que a última vez que ensaiou brincar de Chico Buarque faz já uns bons anos. Mas se hoje ele é brando na poesia eu espero que seja negro demais no coração e um dia largue tudo pra virar um tipo de panfletário maluco de praça pública ou metralhe uma sala de cinema em que esteja passando Juno ou filme similar.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

De Posições Curiosas

Eu me toquei (haha) do fato de não trazer, há algum tempo, postagens de caráter puramente informativo e/ou elucidador. Embora, verdade, eu tenha aqui exposto várias práticas humanas, geralmente são coisas rotineiras, como etiqueta, trânsito, bonecas infláveis. É basicamente como ficar numa praia, de plantão, berrando “olha o mar, pessoal! Olha o mar!”. As diferenças são só duas: com o número mensal de visitas a este blog, o grito está mais para o sussurro de um tímido com amigdalite, e eu gosto de pensar que estou adicionando “ele tem peixes, corais, plânctons...”, muito embora o complemento esteja, na realidade mais para “e é meio molhado”. De qualquer forma, eu quase nunca investigo as práticas menos conhecidas das pessoas. Que é o que eu queria fazer hoje. E, como eu digo às garçonetes que me atendem em restaurantes finos: para começar, que tal sexo? Que é o que eu queria fazer hoje.

A saber: esta listagem está ordenada dos hábitos mais brandos ou comuns aos mais sórdidos e impopulares. Eu espero que exista essa correlação, por tudo que é mais sagrado. Alguns dos nomes estão em inglês, outros em japonês. Eu não tenho culpa se o povo daqui é muito certinho (ou não dá nomes divertidos para as práticas realizadas, o que deve ser o caso mais provável). O que pôde ser traduzido sem nenhuma perda de significado foi.

Soggy Biscuit - Algo como “biscoito molhadinho”. Como eu mencionei, estou começando das mais comuns, então isso é aquilo que você já fez (ou ainda faz, se tem de onze a quarenta e sete anos) com os colegas num domingo entediante: vocês se juntam ao redor de um biscoito ou bolinho e batem uma (cada um). Quem chegar primeiro sai da roda. Quem chegar por último come o biscoito ou bolinho. Eu não consigo imaginar coisa de sucesso pior, especialmente porque homens se masturbando em volta de um Bono não chega a ser uma cena considerada excitante. Menos ainda se for o vocalista do U2 em vez do biscoito. O prospecto de talvez chegar a ter que comer o produto da brincadeira também não parece pura lascívia. Volte duas sentenças, depois continue desta. Sei não, pra mim o resultado prático da brincadeira seria um monte de marmanjos esfregando seus pintos murchos. Boa sorte pra dormir hoje à noite, aliás, com essa imagem mental. Se você realmente não quiser ficar com ela, continue lendo porque certamente as piores, a seguir, cuidarão de suplantá-la. E, aliás, falando em pintos murchos,

Turkey Slap - Essa é a famosa “surra de pau mole”. Geralmente é reservada àquelas mulheres confiantes que se acham tesudíssimas. A vingança mais doce que se pode exercer em uma dessas (ALTAMENTE DISCUTÍVEL) é surrá-la com um pênis flácido, mostrando total desinteresse sexual, hostilidade tremenda e uma péssima compreensão da teoria de artes marciais que separa “armas viáveis” de “pontos vulneráveis”. Mas, deve ser dito, nem sempre o genital masculino precisa estar flácido. Exemplos um e dois. Imagens altamente desagradáveis, meus amores, estejam avisados.

Bukkake - Mais ou menos a mesma coisa que o biscoitinho, só que nesse caso, o biscoito é uma mulher. Eu não sei se isso chega a ser mais ou menos nojento. Por um lado, mesmo que seja uma mulher altamente degradada, pelo menos agora tem uma mulher na parada. Por outro, para a mulher não deve ser bom. Se bem que também não deve ter sido bom para o biscoitinho. É confuso. Vamos deixar assim: se a mulher em questão tiver mais gordura trans que o Passatempo, aí é sem dúvida bem mais nojento.

Eletroestimulação erótica - Choque elétrico. No cu. No pinto. Na xana. Sério.

Dirty Sanchez - Pare de ler caso ainda não tenha jantado. Ou, melhor ainda, eu vou usar eufemismos: imagine um trem entrando num túnel. Que é estreito, apertado e cheio de... hã... carvão. Depois o trem sai e a montanha se vira para que ele entre pelo outro lado do túnel. Como é apertado e o trem está todo sujo de carvão por causa de suas incursões do outro lado, parte desse carvão fica depositado ao redor da entrada, formando algo como um bigode na montanha. Sujo. Tipo o que mexicanos usam. Daí “Dirty Sanchez”. Adorável, não?

Donkey Punch - Tem um desenho. Olhe bem. O que vem à sua cabeça, além de “parece justo” ou "essa mulher devia depilar as axilas"? Para dar crédito ao sacana, tem uma teoria em volta dessa prática. A idéia é que, dando um belo de um soco na nuca no ser que está depositado à sua virilha, você vai tensionar seus músculos de forma espasmódica, aumentando o prazer da relação. Sei não. Eu já tomei uns socos (não desse jeito!) e nunca tive espasmos por conta deles. Além disso, se você é o tipo de pessoa que curte uns sopapos eu não sugeriria fazer sexo, mas tomar aulas de boxe ou gritar “eu adoro Nx Zero!” num baile funk.

Angry Dragon - Esse é mais curioso que nojento. E um pouco mais cruel que o anterior, também, porque não tem nenhuma desculpa que prometa tornar o ato prazeiroso para o/a receptor(a). Funciona assim: você se oferece como microfone até personificar a fonte do Ibirapuera. Quando o indivíduo de aparente péssimo filtro sexual para parceiros, cheio de boa vontade, receber seu presentinho, você pluga a garganta dele com seu instrumento ou soca-lhe a boa e velha porrada na nuca. O resultado vai ser o mesmo: tosse e um tanto de coisas que faziam parte de você até alguns momentos atrás sendo expelido via nasal. Isso é como bigodes de dragão chinês ou labaredas de dragões ocidentais. Explicado o “Dragon”, você pode facilmente deduzir de onde vem a parte do “Angry”, não pode?

Romantismo - ???

sábado, 8 de agosto de 2009

Sai! Mim Gênio!

Eu mencionei há pouco tempo aqui as love dolls japonesas. Eu vou pular completamente a parte em que eu discorreria sobre o quão complexa deve ser a mente do indivíduo que pensa "sabe de uma coisa? É mais fácil eu fazer minha própria mulher que ir à boate catar umas biscates", pular os cálculos demonstrativos de como seria mais barato se manter à base de prostíbulos (o que eu ainda não comprovei matematicamente, mas que deve seguir a linha do cálculo de gastos anuais com carro próprio versus táxi), e ir diretamente à nossa dose diária de misoginia.

Eu fiquei aqui matutando se existiria algum desses para as mulheres (não por interesse pessoal, eu espero). Eu duvido. Em primeiro lugar porque o Japão é dono de uma das culturas mais estranhamente misóginas, machistas e.. bom, simplesmente bizarras do mundo. Para que isso não seja marcado com o clássico [citation needed] da Wikipedia, eu vou referenciar estupro de menininhas ginasiais por tentáculos gigantes. O Japão é ridiculamente doente. Isso é pra lá de cientificamente comprovado. O que é um empecilho para a produção da versão feminina a menos que ela seja em formato de polvo, venha com uma câmera que automaticamente faça upload para o youtube e só seja vendida em tamanhos insalubres.

Outra dificuldade é que se o sr. Mitsubishi, lá, for à reunião de desenvolvimento de produtos e pedir algo que enlouqueça as mulheres, que as vicie, que as seduza, que as faça gemer, gritar, que seja uma fonte inesgotável de prazer, que até as machuque, que as deixe com as pernas bambas e que seja irresistível, ele poderia sair com um produto bem diferente de um homem artificial. Na verdade, pela descrição, seria algo assim.

Ou talvez fosse alguma coisa mais sofisticada. Algo em que a Skynet deveria ter pensado. Por que fazer vários robôs com a cara do Schwarzenegger? Sério? Não funciona. Você mata um monte de gente, mas os mamíferos cretinos restantes se põem a trepar loucamente e todo seu trabalho tem que ser refeito ad infinitum. O negócio é atacar justamente aí, na habilidade de reproduzir. Se a Skynet desenhasse uma máquina de satisfazer mulheres que funcionasse tão bem quanto ou melhor que os homens, a humanidade seria extinta em poucos anos e sem desperdiçar tantos recursos. E, francamente, não é tão complicado assim, vá. É só pegar um caixa eletrônico e adaptar um vibrador. Pronto, tá desfeita a humanidade. E não só por parte das mulheres. Porque até para aquela fração dos homens para a qual a parte do vibrador pode até ser meio chata, rola uma graninha depois, então tudo bem.

As mulheres não deveriam ficar muito ofendidas com o que eu escrevi. Até porque o que eu estou dizendo é, de um certo ponto de vista, que é muito fácil superar um homem como companheiro. E eu sei que isso pode variar um bocado de espécime para espécime, mas no geral a verdade é que nós somos uns merdas. E eu poderia argumentar isso de várias maneiras, mas, quando possível, prefiro usar somente o Homem-Aranha. E aí? Aquela idéia do caixa eletrônico com vibrador está parecendo cada vez mais interessante, não?

(A propósito, alguns dos links contidos aqui são bastante perturbadores. Eu espero que você comece lendo textos de baixo para cima para que este aviso tenha efeito.)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Ê, Charadista, Vai Uma Seta?

Uma história de romance, degradação, redenção, crime e críticas político-sociais que dá um pau na de qualquer filminho europeu. É, poucas coisas são tão emocionantes quanto uma tabela de cliparts aleatórios, se você souber lê-los.


Esta é a história de uma vaca que freqüentemente se punha de quatro para toda sorte de negões orgásticos. Isso até ela encontrar um guru (isso é um guru, certo?) no filme do Rei Leão - quer dizer, Rei Peixe, para não infringirmos direitos autorais -, quando passou a dedicar sua vida ao ciclismo ecológico. Percebeu que era palhaçada quando, anos depois, lembrou-se do quanto gostava de pintos tentando entrar em seus ovos. Quis voltar à vida de farra, mas sua breve vida de hippie a tinha deixado um dragão. Então ela recorria ao álcool para seduzir cartomantes albinos e outras sortes de homens. Numa noite sombria, um malfeitor que tinha torcicolo, hérnia, problema no joelho e uma mão entalada num pote a eletrocutou com um taser para desfrutar de sua aranha à força. Uma boa idéia, mas ele foi preso e os palhaços do sistema legal fixaram sua fiança em euros. Transcorrido tudo isso, nossa vagabunda viu um programa de pesca e, em suas memórias, voltou à sua infância, lembrando-se do Rei Peixe, de um tempo mais simples e inocente. Passeou feliz pela cidade, pelo caminho cheirando as rosas, as uvas e o padeiro português que masturbava seus clientes. Encontrou enfim um cavalheiro muito bem apessoado em posse de uma pizza e resolveu se oferecer a ele de corpo e alma. Tomou um karate na testa pra deixar de ser besta e se lembrar que era já uma velha porca, frouxa e gasta pela vida, como as que eu tenho na minha moto. Então, numa clara rejeição à cultura consumerista estado-unidense, tomou como seu novo gospel o filme Jamaica Abaixo de Zero e envelheceu sozinha nas montanhas, esquiando com um único pé.

domingo, 2 de agosto de 2009

Eu Que o Pus Doido, Ventre Fervente! Quê?

Breve introdução: eu sempre imaginei que acabaria por plagiar alguém no decorrer da história deste blog. Nunca imaginei que seria eu mesmo o plagiado. Mas ocorre que eu me apossei dos conteúdos de um HD antigo e encontrei em meio às minhas porcarias, não surpreendentemente, uma porcaria. Em forma de texto. Uma história verídica de viagens, emoções, carros velozes, reviravoltas mas, infelizmente por falta de orçamento, sem mulheres gostosíssimas de biquíni, o que acaba com as chances da minha ligeira epopéia virar um filme do Michael Bay. De qualquer forma, vai o texto abaixo sobre a Super Máquina do mal, o carro que me levou a usar motos, o carro que Satã criou num dia em que estava sem noção. A propósito, o texto já não é muito bom e como está bem desatualizado, sendo de uns bons quatro anos atrás, eu resolvi torná-lo visualmente mais atraentre com algumas ilustrações. Aí vai:

Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo

Eu tenho uma linha de pensamento bastante romântica no que tange a veículos automotivos. Acredito que ele deva poluir pouco e retratar seu usuário com alguma precisão. Isso está cada vez mais raro hoje em dia, com todos esses Gols e Palios andando pelas ruas, todos iguais, quase indistingüíveis. Mesmo carros mais caros, portanto mais raros, quando avistados, têm enormes chances de estarem perto de uma ou duas duplicatas.

Não que eu seja defensor ferrenho de carros "tunados", super potentes, preparados para rachas, cheios de porcarias como aerofólios gigantes, saias, luzes de neon, pinturas psicodélicas. Não para meu uso, pelo menos, porque devo dizer que um carro desses só me agrada por dizer muito sobre seu dono - uma besta que pegou um carro adequado e cagou nele todo.

Veículo tunado

Pois bem. Eu possuía um Siena cinza. Em nada especial, a não ser pelo aerofólio preto na parte traseira. E pelo câmbio de seis marchas pouco esperto. O que acontecia era ser a sexta marcha tão forte quanto qualquer quinta. E a primeira tão forte quanto qualquer primeira. Então tudo que eu fazia era ter que mudar mais marchas no mesmo espaço de tempo sem nenhuma vantagem. Ah, e eu preciso mencionar os amassados, ralados e descascados. Com o passar dos anos esse carro foi sofrendo alguns acidentes de percurso. Três carros, estando um deles imóvel no momento da colisão, e três pilastras, todas elas imóveis, apesar de alguns depoimentos meus.

É claro que eu nunca consertei um arranhão sequer. O martelinho de ouro é pura hipocrisia automotiva. Ostente suas cicatrizes de batalha com orgulho! Você sobreviveu ao trânsito! Assuma que você é braço-duro! E economize uns trocados. Não que isso importe; o relevante mesmo é o negócio de honra, ideologia e essas palhaçadas todas.

Some-se a isso o fato de o ponteiro de temperatura ter um misto de epilepsia com parkinson, sendo completamente maluco e ineficaz, e você tem um carro bacana, involuntariamente personalizado, reconhecível à distância pelo reluzir do ferro retorcido enferrujado. Eu gostava desse carro. Mas, cansado de uma vida de maus tratos, ele resolveu fugir numa noite gélida de verão, saindo da rua Saint Hilaire para nunca mais ser visto novamente por olhos humanos. Pelo menos não inteiro, eu acho.

Descrição do comparsa do veículo na fuga. Aparentemente atende pelo nome de iStockphoto.

Resumindo uma parte muito, muito (e muito) longa, fiz o B.O. e dei entrada na papelada do seguro. E recebi o dinheiro. A seguradora demorou para pagar, mas eu tenho a impressão de que fiquei mais tempo sentado na delegacia para fazer o boletim que as três semanas transcorridas desde que saí de lá até o dinheiro cair nas minhas mãos.

Estando com a maior sensação de riqueza da minha vida, saí em busca de um veículo. Longas pesquisas depois, pretendia pegar outro Siena, mas dessa vez um com o motor mais econômico da Fiat (aliás, o motor 1.0 mais econômico do mercado - tomem nota). Longas pesquisas depois e desisti de comprar o Siena porque o que eu havia ganhado do seguro não chegava nem perto de comprar outro carro. A menos que fosse velho. Foi quando eu tive a iluminação: por que comprar um desses carrinhos modernos que parecem de brinquedo se eu posso comprar um brinquedão antigo que quase parece um carro?

Então pesquisei e reduzi minha lista de veículos até chegar aos finalistas: Del Rey, Voyage, Santana e Opala. Desses eu estava mais inclinado a comprar o Opalão. Longas pesquisas depois, ao saber que consumo médio de um Diplomata era 4km/l, eu fiquei bastante desestimulado. E chutei o pau da barraca de vez. Eu ia pegar um carro velho e gastar o resto da grana do seguro para colocá-lo de pé, então que isso fosse feito com um carro que desse gosto em ser visto de pé. Quando migrei minha mente para os foras-de-série.

O vencedor, após uma grande contenda com o Puma, foi o Miura. E, para encurtar uma longa história (e, claro, algumas longas pesquisas), comprei um Miura Targa, um carro com o qual eu me identifiquei bastante. Ambos preferimos ficar longe de injeções, temos cabeças abertas, roncamos, nos recusamos a trabalhar de manhã e temos até a mesma idade. Agora pretendo virar alcóolatra para sermos um par perfeito. Até chamamos atenção na rua do mesmo modo - posso ver as cabeças virando e pensando "não acredito que essa porcaria funcione" agora esteja eu de carro ou a pé.

Miura

Arrumei uma coisinha aqui e outra coisinha ali, rodava pela cidade já naturalmente, embora não pudesse estacionar porque estava sem travas nas portas. Como ainda estou. E porque o freio de mão não funciona. Como já não funcionava. De qualquer forma, decidi ir de São Paulo a Mogi das Cruzes com meu veículo para testar seu desempenho na estrada e para mostrá-lo a meus familiares. O que retrata bem o conceito "uma péssima idéia porcamente executada".

Primeiramente o vidraceiro responsável por instalar travas elétricas, alarme e borrachas novas de vedação decidiu começar a trabalhar quando eu cheguei para buscar o carro. Preocupado com o rodízio, já que a placa tem final 0, o que me impede de circular com meu parceiro carburado pelo centro expandido às sextas, pedi para que apenas montassem e desmontassem a porta, deixando o vidro torto, para que eu pudesse sair e não levar multas. Não, na realidade não foi o que eu pedi. Mas foi o que fizeram enquanto eu "almoçava" um "sanduíche" bastante insalubre em uma "padaria" ao lado. Nesse meio-tempo, aliás, pedi o telefone para ligar para meu bom amigo Gilberto "Ay ay ay mis tacos" Silveira Gornati para avisar que não poderia levá-lo para o interior. Fui xingado e mandei-o entuchar algumas coisas em seu ânus como é de praxe. E dali a pouco o dono do estabalecimento de vidros, borrachas e companhia ligou para se desculpar, pois alguém tinha dito a ele que eu estava muito bravo pelo serviço estar atrasado. Saí de lá às quatro, esperando estar já na Dutra às cinco.

Acontece que eu fui muito bem, esbanjando felicidade, até a Marginal Tietê. Quando fiquei ainda mais feliz porque o afogador pôde ser desligado - o carro já estava quente e não morria mais. Percebi que estava com vontade de urinar. Guarde esta informação. Radiante, fui para a pista expressa, que estava tão parada quanto a interior, e fiquei ouvindo minhas musiquinhas de boiola serem tocadas no rádio. Dali a alguns segundos notei que o carro estava com a temperatura bem elevada. Pensei "droga de trânsito, eu e meu possante temos que ficar suando entre esses caminhões porcos!". Uma luz no painel acendeu. Com o desenho de um termômetro. Rezei para ser a luz que indica quando o termômetro do carro está quebrado, o que explicaria o porquê de ele estar marcando uma temperatura tão absurdamente elevada.

O indicador de temperatura me preocupava, entre outros avisos curiosos.

Um certo desconforto na espinha e a grande nuvem que saía do capô me diziam que não era nada disso. E, mesmo que eu não entendesse nada de carros, a expressão facial de um motorista de caminhão que estava ao lado já me dizia tudo que eu precisava saber - eu estava fodido. Todos me deram passagem, mas a essa altura o carro já não obedecia meus comandos. Tive que carregá-lo para o acostamento eu mesmo, cortando três faixas da Marginal. Isso pode não parecer muito divertido, mas quando você chega à parte de terra e percebe que está patinando porque não tem mais como firmar o pé no chão para empurrar seu veículo velho e fervido... meu amigo, que coisa engraçada. Especialmente para quem vê de dentro de um carro moderno e confortável. Então puxei o freio de mão. E abri o capô. E sentei. Olhei para meus gatos, socados em uma caixa de tranporte. Pela primeira vez no dia, pensei: "meu carro antigo não fazia isso...".

Um caminhoneiro estava parado, também, porque o trânsito de produtos inflamáveis não é permitido à tarde, no horário do rush. Fiquei batendo um bom papo com ele sobre carros velhos, acidentes automobilísticos, estradas e alternativas para burlar pedágios. Duas horas depois, já às sete, pedi a ele um pouco de água. Ele não tinha, mas abriu o reservatório do caminhão e me deu um bocado da água que o caminhão utilizava para conter e proteger os produtos químicos. E, enquanto eu colocava aquela água no meu radiador, pensava em criancinhas morrendo e famílias sendo explodidas na estrada porque eu tinha consumido a água de proteção do caminhão que bateu em uma carreta que derrapou na poça d'água quente que meu carro tinha deixado na pista. O que me fez abrir um sorriso discreto e pedir mais água.

Em uma nota paralela, sempre fui contra o arremesso de lixo nas estradas. Mas foi uma garrafa usada e suja de X-tapa que me permitiu levar água do caminhão até meu radiador, então sinto que devo alguma coisa aos porcos que causam enchentes. Talvez uma bifa e um beijo.

Prossegui, então, rumo a um posto, onde completaria o nível de água e seguiria viagem - ou voltaria para casa. Não cheguei a andar cem metros e parei porque o carro estava fervendo. Repeti todo o processo de abrir o capô, sentar, olhar os gatos etc. E fiquei parado, vendo uma Pampa à minha frente, parada também. Vinte minutos depois, a Pampa ainda parada, ocorreu-me que eu poderia ajudar em alguma coisa (e pedir um celular antes que minha mãe acionasse as forças armadas). Andei até lá e vi um mecânico gordo, sujo e asqueiroso bufando no motor deles. Tanto melhor. Pedi o celular e falei brevemente com o mecânico. Ele grunhiu alguma coisa em resposta e deduzi que ele daria uma olhadinha no meu veículo a seguir.

Enquanto isso liguei para minha mãe avisando que estava parado perto do Playcenter com o carro, mas que decidiria o que fazer e resolveria de alguma forma. Agradeci à senhora da Pampa por ter-me emprestado o celular e fui com o gorducho nojento ao meu carro. Quis pedir "por favor olhe meu carro sem tocá-lo", mas achei melhor deixar o sebo daqueles dedos lingüicentos entrar nas engrenagens para auxiliar na lubrificação e evitar o desgaste das peças.

Alguns olhares depois, ele mordeu alguns fios, desencapando-os. Pensei que fosse apenas uma pausa para uma boquinha, mas ele logo colocou os fios no meu carro e ligou a ventoinha diretamente na bateria. E disse que eu podia ir embora. Perguntei quanto devia e, neste momento, minha vida mudou. Parei de crer na bondade do ser humano. O filho da puta, cretino, escroto, corno manso, porco gordurento, cuzão, resto de porra seca regada a donuts, docinho de coco bigodudo do inferno, mulherzinha da cela do Tyson, cobrou oitenta reais pela porquice. Como eu estava animado, fiz papel de trouxa. Paguei, liguei o carro e fui embora. E parei no próximo acostamento porque estava fervendo de novo. Pela terceira vez. Mas quem está contando?

Mecânico

Foi a segunda vez no dia em que pensei "meu carro antigo não fazia isso...". Tudo bem. Fiquei lá e pensei em esperar o gordo escroto passar para que ele desse outra olhadinha, dessa vez grátis, sob ameaça de eu arrancar aquele bigode com meu calcanhar. O que seria uma pena, porque eu teria que jogar um bom tênis fora. Em vez disso parou um motoqueiro, olhou o carro e disse uma frase que salvou o dia.

-Que que houve?

-[Só me faltava mesmo um curioso de merda] Está fervendo.

-Deve ser a válvula entupida.

-[Merda, curioso e metido a entendido] É a ventoinha.

-Certeza? Geralmente é válvula.

-[E se eu chutasse esse cara agora?] Já falei com um mecânico.

-E você acha que eu sou o quê? Dono de uma padaria?

-[...] ...

Depois desse diálogo interessantíssimo, ele deu uma olhada no carro, enquanto um cara com uma Fiorino estacionava com o carro fervido também. Ele havia sido atendido havia pouco tempo por esse mesmo mecânico motoqueiro. Tinha desentupido a válvula.

Ocorria que a ventoinha dele não estava funcionando, também. E, vendo os dois carros, o mecânico ia mexendo, fuçando e pedia água. Eu buscava a água. Busquei quatro galões. O que quer dizer que eu atravessei a Marginal oito vezes. Com galões d'água. Sexta à noite, às oito e pouco. Excitante. Quando eu cheguei, pediram que eu segurasse uma peça do meu carro rente à calçada. Foi o que eu fiz. A peça foi despedaçada por um martelo enquanto meu pensamento exato era "legal, não conseguiu consertar, ficou com raiva e quebrou! Agora empresta o martelo aqui para eu bater no capô com tudo!". Acontece que ele arrancou um pedaço da válvula termostática para que meu carro ficasse o mais frio possível. Ligamos para testar. Ferveu. Tive pensamentos impuros. E o guincho encostou e disse "vim buscar esse carro".


Cinco segundos, mas muito mais tempo dentro da minha cabeça, depois, eu consegui perguntar um "quê?" muito xoxo. Ele reiterou: havia vindo com o propósito de buscar meu carro. Pensei que fosse a Morte dos veículos. Ou que fosse o guincho da prefeitura e o prefeito tivesse decretado meu carro uma calamidade. Talvez os deuses estivessem dizendo "renda-se, seu grande imbecil". Pensei nos meus gatos. E no sanduíche insalubre do "almoço".

Levou algum tempo até que eu conectasse o guincho à minha mãe (mentalmente, claro, embora naquele momento eu tenha desejado ir além). O que ocorre é que ela ligou para o meu pai, que ligou para um mecânico, que ligou para o guincho. E procurando por mim também estavam a CET, a DERSA e alguns comandos especiais familiares. A Polícia Rodoviária, no entanto, não desperdiça recursos procurando gente pela Marginal, como disse à minha estimada genitora - ponto para eles!

Tá certo.

Reembolsado pela viagem inútil o guincho e resolvido o problema do motor com algumas gambiarras extras, o mecânico foi embora (não antes de um conflito civilizado com um maluco que eu preguiçosamente vou omitir), finalmente imaginei poder seguir viagem. O guincho, no entanto, muito gentil, ofereceu-se para me escoltar por alguns quilômetros, para ter a certeza de que eu seguiria bem a viagem. Tive vontade de enfiar a cabeça do bom homem nas câmaras de explosão do meu veículo e no meu joelho, alternadamente. Não que eu seja a pessoa mais ingrata do mundo. O que ocorre é que minha bexiga já estava explodindo. Cace nas linhas acima desde quando eu estava com o desejo forte de urinar! Puta que pariu, umas quatro horas espremendo minha bexiga e aquele maldito ser do inferno se oferece para fazer um favor? Aceitei, espumando de ódio e agradecendo, entrei no carro e pisei o mais profundamente que consegui do acelerador, esperando que o lento guincho me perdesse de vista. E o cara sempre ali, de forma que eu não poderia ir para a pista interior e parar em um posto. Mas quinze minutos depois eu cheguei à Ayrton Senna, já bem escura, parei o carro no acostamento e corri como o Cadeirudo, corri feito uma gazela tresloucada com um rojão atolado na bunda* e resolvi meus problemas em um grande barranco deserto.

E, muito feliz, para completar minha epopéia, tirei a capota do meu veículo, liguei os faróis ocultos e pisei fundo. Enquanto eu ensurdecia por causa do vento, aparava em minha testa alguns gramas de carga do caminhão de lixo à minha frente e me divertia loucamente com o brinquedão, pensei pela terceira e última vez naquele dia: "meu carro antigo não fazia isso". E rodei por mais algumas horas antes de ter que deixá-lo no mecânico. Onde está até a presente data de finalização deste texto.

*Nenhum animal foi ferido na confecção desta metáfora.

Você leu tudo. Você merece.