Agora, se eu puder contradizer ou, ao menos, floccinaucinihilipilificar o conteúdo da mensagem anterior, permitam-me. É bem verdade que existem poucas pessoas bradando - diabos, existem poucas pessoas sussurrando - coisas úteis, significantes ou interessantes pelos blogs da vida. Não entrando no mérito de que sem dúvida alguma o fato de o Juninho ter dado uns pegas na Carlinha deva ser importante para a Cocotinha (aliás, sem dúvida, não - Cocotinha, sua escrota, não devia estar se importando com esse homem que não presta), a verdade é que muito do que se publica não é de interesse social. E muito menos intelectual.
Mas vamos pensar nisso direito: o que diabos se deve publicar? Como disseram certa vez que diria eu, se eu gosto de cagar na janela, ninguém tem nada a ver com isso. Perfeito. Então pode-se tudo. Mas o que é que faz alguma diferença? Tá, é outro debate infinito acerca do que é fazer diferença, mas vamos atochar a masturbação filosófica cu acima e simplificar ao máximo: o que deve ser expressado é simplesmente o que não costuma ser.
Isso é bastante óbvio. Num meio em que todo mundo diz "eu odeio mintira e injustissa :xxxx s/ scrap naum me add", eu quero ver sendo publicado "adoro estrupar criansinhas :xxxx me add aih frmz". Não que eu necessariamente ache um barato estuprar criancinhas (e não que eu não ache - deixe um comentário com seu endereço, aqui, se você tiver menos de doze anos, só por via das dúvidas), mas eu quero ver sendo exposto algo que geralmente não é. Porque o resto não precisa mais ser, macacada. O que não é contrário ao normal ou, no mínimo, inusitado, é demagogia. E pra isso eu tenho o Datena, o governo e mais setecentos outros nichos específicos de idéias gastas diferenciadas. Porcaria, pra isso tem gente na rua. Pra isso tem o velho que diz "que bissurdo" todo dia quando passa notícia de criancinha estrangulada e depois dá risada de Zorra Total*.
É mais ou menos como o doidão já disse: "não se preocupe com roubarem suas idéias - se elas forem boas, você terá que socá-las goela abaixo das pessoas". E é bem por aí. Se você decidir se esforçar, então que esteja contra alguma coisa. Porque caso contrário, por mim e pelas leis da cinemática, você pode ir embora. Então, sim, essa é a parte repugnante desses blogs de "oioioioioioi comprei meu iPooood XD" - fodam-se você e seu iPod. Uma caralhada de gente compra iPods e você está desperdiçando bits e bytes à toa. Está contribuindo para o encarecimento do tráfego e da hospedagem de informações valiosas na internet por causa das suas porcarias desinteressantes. Igualmente eu não me importo se você tiver terminado seu namoro, se estiver gostando da sua festinha, se estiver animado com o prospecto de dar uma bimbada esta noite. E isso porque eu não te conheço. É pra isso que se publica as coisas: para que elas cheguem a pessoas que não conhecemos. Caso contrário eu posso estabelecer uma linha de contato muito mais direta e pessoal, certo? Especialmente em se tratando de internet, o que se faz é jogar idéias ao vento e ver se elas chegam a algum lugar. E esses detalhes tão pequenos de vocês estão atrapalhando a anemocoria dos meus importantíssimos trocadilhos!
Então nada de ficar publicando detalhes da sua vida e nada de ficar repetindo idéias e sentimentos que todo mundo já conhece, ok? A menos que tenha algo original para colocar neles ou ao menos uma luz nova sob a qual pô-los. O que é que resta? Coisas que sejam contra coisas em número maior e coisas que não se sabe que são coisas. Mais ou menos isso? Ok. Isso seria teoricamente ideal, não? Tirando o fato de todos terem que ficar quase mudos quando as idéias de equilibrassem socialmente em volume, mas isso é algo que não poderia acontecer. Pelo menos não globalmente.
Opa. Que é o que traz problemas. Como eu mesmo já sabotei ali acima, existem nichos e nichos de discursos demagogos. Então, enquanto a idéia de estuprar criancinhas pode ser até já cansativa no meu nicho (toda terça à noite ali na loja da Harley na Cerro Corá, hein, pessoal? Pode aparecer e leva as que for consumir), é possível que não seja para outras pessoas. Como Zezinho dizendo "ai que flor linda dá vontade de apertar e depois cantar e aí socar o Janjão bunda adentro" em seu fotolog pode ser relevante de ele for um fazendeiro texano (pré-Brokeback). É lógico que é mais provável que ele seja só um emo de Perdizes, mas vá saber. A rede não faz distinções.
Em segundo lugar, essa noção de que ir contra o zeitgeist é de alguma valia é um negócio complicado. Lógico que você pode ter um porquê para gritar, espernear e se descabelar, mas ir contra o padrão não deve ser, de modo algum, um tipo de filtro. Nem devia fazer nenhuma diferença. Na verdade o título de contracultura e nossa simpatia para com ela é o que sempre a mata. Qualquer movimento legítimo que se torne expressivo vai acabar atraindo uma manada de idiotas de modo a perder o sentido. Aconteceu com os hippies, com os beats e com Star Wars.
O porquê está largamente aberto a especulação, mas eu diria, como de costume, que é porque as pessoas são umas idiotas. É natural, está no sangue. Nós estragamos as coisas. O movimento hippie foi uma beleza, quando surgiu. Gente desiludida com a sociedade, buscando uma alternativa. Olha que coisa boa. Ah, e drogas pra cacete. Olha que coisa boa. E Beatles. O que já fica meio não tão bom assim, mas a galera gosta, vá. O que foi que aconteceu com os hippies?
Eles foram pro saco. Como e quando exatamente é difícil precisar, mas é mais ou menos seguro dizer que pelo Woodstock as coisas já não iam tão bem e que pelo Altamont Free Concert tudo já estava podre. E hoje os ex-hippies são executivos, trabalham em escritórios e mandam seus filhos tirarem boas notas e obedecerem os professores. Mas tudo bem, porque sempre existem novas gerações de hippies, certo? Certo?
Eu acho que não. Peraí, vamos recapitular pra quem tem ADD: estávamos (e podemos retomar, no final) discutindo o que valeria a pena ser publicado. Eu disse que o que fosse contra o estabelecido deveria ser de alguma valia, mas sabiamente comecei a argumentar contra essa tese. E cheguei aos hippies como exemplo.
É verdade que não tem novas gerações de hippies hoje. Não se identifica uma geração idealista. O máximo que persiste são os mundrungos da faculdade que compram camisa de grife com a cara do Che, mas esses não se pode nem mencionar. Esse povo só é comuna pra comer menininhas (e devem perder feio pros capitalistas, porque esses têm carros além de papo-furado). Nosso grupo de subculturas (e não só aqui, mas globalmente) é de góticos, punks, emos etc. Nenhum desses grupos têm crenças ou bandeiras. Talvez originalmente tivessem, mas foram estragados ainda no começo. Talvez pelo próprio design, é verdade, mas ainda assim deveriam ter resistido um pouco mais.
Por que o que representa um emo? O que ele quer? Poder expressar suas emoções? Bicho, não tem ninguém te impedindo - faz isso à vontade, não precisa usar essas roupas babacas, o cabelinho nojento e se aglomerar com uma ganguezinha se vocês não têm, na verdade, nada em comum entre si a mais que com o resto das outras pessoas. Os punks, pelo menos, tinham alguma ideologia no meio daquelas desfigurações arbitrárias. Que a esta altura do campeonato já foi perdida. Aliás os punks não deixavam de ser hippies hardcore. E a ausência deles me faz perguntar de novo: cadê os hippies desta era?
Cadê o povo que é realmente subversivo? Não necessariamente destrutivo, mas um Larry Darrell da vida. Não tem? Ou finalmente aprederam que contracultura tem que ser algo individual? Lógico que não - as pessoas não aprendem coletivamente, assim, a pensarem de forma mais individual. O que acontece é que hoje a galera que seria hippie se interessa é por iPods, Macs, festinhas e não por uma linha filosófica. Deve estar ligado ao que ocasionou toda essa vontade das pessoas de serem "indies" - como não existe mais uma contracultura para se clamar um rompimento ideológico com o que está estabelecido, a galera usa música para alegar uma certa independência, mas essa música, em si, não exprime nada de único ou diferente. Se destacam por serem desconhecidas. Ou se destacavam, porque hoje até os que se chamavam de indies morreram e todos os seus artistas foram lançados no iTunes e são ouvidos em seus iPods, mp4s e tocadas por seus DJs de fundo de quintal. São um bando de neopaninari tecnófilos. Sabe o que, agora, mais passa perto da contracultura de antigamente? Sabe o que é que ainda é contra as autoridades, faz sucesso na música e é celebrado por aí em festas altamente subversivas? O Comando Vermelho cantando funk. É uma beleza: "meto tiro pela perna, pelas costas", "pra subir aqui no morro até o BOPE treme". Isso aí, moçada, beleza. Essa é a nossa "geração do amor". Flower Power neles, turma do Proibidão. Manda ver, Lil' Wayne. Mp3 na orelha e mp5 na mão.
Bom, não dá pra negar que aí esteja nossa contracultura. Francamente, eu preferia os hippies. Então eu acho que é isso que valeria a pena publicar hoje em dia, segundo eu mesmo há alguns parágrafos. Letras de funk. Os que eu mencionei acima cuidam da parte de serem contra a cultura vigente, mas ainda tem os "originais", as coisas novas, nas quais ninguém pensou ainda. Tipo Dança do Quadrado. Não faz quase nenhum sentido, que é o que quase garante sua originalidade. Crédito pro cara que inventou isso.
Então vamos voltar à estaca zero, deixar regras de publicação pra lá e aceitar os "adhoro meu mozin nhoooom :****", sabendo que a alternativa é a Dança da Motinha 2. Eu poderia e deveria discursar sobre o porquê de a contracultura estar sempre fadada a se degenerar e desaparecer, mas vai que algum representante da atual lê a respeito e acaba tendo uma boa idéia pra perpetuar o funk carioca. Não vou correr esse risco, não.
Não que tenha algo de errado com nada isso. É o curso natural das coisas e, a longo prazo, sabe-se lá se é bom ou ruim. Não dá pra dizer nem a curto. Mas, só pra encerrar, que a gente sente falta de uma geração idealista, sente. Devia ter grupos enormes de gente como o André Dahmer, não como o Dado Dolabela.
*Problema detectado P.S.: se ele ri todo dia de Zorra Total, então esse cara deve estar alucinando, dado que tal "programa" só passa aos sábados. A menos que ele tenha gravados alguns episódios, mas isso é ainda mentalmente mais preocupante que alucinações e - graças a deus - foge à normalidade. Considere o exemplo mesmo assim.
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