Em um determinado momento da história deste nosso planeta, havia dois homens intelectualmente fenomenais. Um deles, Giuseppe Toselli, formou-se em física nuclear, mecatrônica, química molecular, filosofia e medicina, e trabalhou fenomenalmente pelo avanço da ciência em todos esses campos. Foi celebrado pela humanidade como uma jóia e chegou a ganhar o prêmio Nobel seis vezes consecutivas em uma mesma cerimônia. O outro homem não fez nada disso, então é considerado vastamente superior. É ele quem vamos acompanhar.
Seu nome era Jorge Antumnes. Trabalhava como gari. E foi trabalhando como gari que encontrou um bilhete todo retorcido na calçada da cidade. Julgou ser, pela extensão do documento, uma notificação comovente de suicídio ou a maior e mais detalhada lista de compras do mundo, completa com diagramas do supermercado e planos alternativos para obtenção de cereais no caso de uma emergência. O peso para papel improvisado que o impedia de sair voando com o vento, um corpo fraturado e coberto de sangue, apontava para a primeira hipótese. Jorge olhou rapidamente em volta, identificando o momento em que nenhum dos mais de mil transeuntes curiosos dispostos em semi-círculo ao redor da cena estivesse prestando atenção, e surrupiou o papel. Pode até parecer uma atitude estranha, mas ele teve dois bons motivos. Quer dizer... não é tão estranho assim um gari catando papel da rua, mas ele não pegou por causa de seu dever. O papel que pertenceria à lata de lixo da prefeitura foi roubado por Jorge por um interesse pessoal. E isso é que é estranho. Tá, não que seja estranho funcionários públicos desviarem propriedade da prefeitura, mas... ah, esquece. Vamos aos dois motivos:
O primeiro era seu intestino preso. Como gari, ele não ganhava um salário exatamente opulento, o que o privava de adquirir iogurtes reguladores de intestino. Ou livros. Isso resultava em horas entediantes intermináveis de análise de azulejos. Jorge já seria um grande conhecedor do assunto e poderia ganhar muito dinheiro na área, não fosse por analisar todos os dias o mesmo azulejo. Infelizmente não havia mercado para alguém com tão alto nível de especialização. Tendo a intenção de evitar o desperdício de futuros estudos, ele buscava em sua profissão coisas interessantes, que pudessem entretê-lo durante suas horas menos nobres. O segundo motivo para o roubo do papel evidenciava sua inteligência: o corpo era muito pesado para se carregar. Além de que se daria por falta do cadáver com muito mais facilidade. Não fosse por esses detalhes muito astutamente observados, Jorge não só aproveitaria seus momentos de batalha intestinal para treinar suas capacidades de ventríloquo, mas teria também alguma companhia em casa para o horário das refeições, o que seria refrescante. Especialmente porque seria uma companhia que, como seus demais semelhantes na escala de transmutação para adubo, não acarretaria em gastos alimentares extras. De qualquer forma, não ficou a lamentar a oportunidade perdida de fazer um amigo que a vida desfez e deu-se por contente tendo sua distração menor para mais tarde.
E o mais tarde, nesse dia específico, veio mais cedo. Em parte por causa de uma barganha com um senhor inescrupuloso da barraquinha do centro que envolveu um pacote de batatas frias, refrigerante de fabricação local, dois cachorros-quentes, sendo um deles recondicionado, e as palavras “legalmente eu não posso vender isso para o senhor, mas...”, em parte por conta da expectativa quanto à sua primeira leitura em meses que não continha um capítulo para contra-indicações e efeitos adversos. Mas embora não fossem destacados, eles certamente estavam lá, em concentrações metafóricas acima da dose recomendada...
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3 comentários:
Cacete, acaba esta merda de história sem enrolão da porra.
Obviamente, na mensagem anterior, eu escrevi como um gari ruim.
Não, não. Esse é aquele quinto negócio de que eu falei contigo.
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