quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Ali, Sovina

Sair e trabalhar na rua é muito interessante porque todo dia você aprende algo sobre alguma coisa diferente. Geralmente que essa alguma coisa é mais irritante ou/e estúpida do que você supunha até o momento do aprendizado. A única vantagem sobre o trabalho em escritório, eu acho, é que, embora no escritório haja um aprendizado semelhante, todo dia algo se provando mais irritante e/ou estúpido, é geralmente o mesmo algo (ou alguém). Então além de fulo, você vai ficar um tanto mais entediado pela falta de variedade.

Permita que eu divida com você o que eu aprendi hoje. Em primeiro lugar, aprendi que não gosto de carros grandes. Quer dizer... eu já sabia disso. Mas aprendi que desgosto mais deles do que imaginava. Agora, para mim, além de eles serem veículos patéticos e ostentativos inimigos do meio-ambiente, amigos dos egocêntricos e refúgios de micropênis, são também compras burras, inimigos do trânsito, da moral e dos bons costumes. Eu nem estou falando dos EcoSports da vida - esses são carros médios que fingem ser grandes, fingem ser off-road, mas na verdade não passam de Fiestas travestidos e fermentados. Eu falo do Tucson, da FreeLander e de seus semelhantes gordos. Essas porcarias são quase tão largas quanto um ônibus! E parecem ter lotação máxima de um cretino, pelo que eu vi. A vontade que me dá é de passar arrancando espelhinhos desses Godzillas urbanos cada vez que os vejo, mas minha momentânea ira é aplacada quando eu posso testemunhar um desses babacas tentando estacionar onde há poucas e pequenas vagas. Não importa a minha pressa - eu me pemito parar e disparar um sorrisinho na direção deles (por falta de um revólver).

Outra coisa interessante que eu aprendi é a não visitar mais lugares como a Vila Sônia (e suas imediações, como algumas regiões obscuras do Butantã). As ruas têm buracos enormes, as pessoas são mal-encaradas. As prostitutas de baixo nível à mostra em pleno dia, sem as quais eu diria que nada nesse lugar vale a pena, eu imagino que reúnam as duas características. Entrei num shopping e o barulho de buzinas era ensurdecedor. Pensei se tratar do mais comum - gente buzinando para um carro quebrado. Não sei o porquê de elas fazerem isso, mas faço idéia. Um dia vou fazer uma campanha nacional alertando as pessoas sobre o fato de carros como Ipanema, Voyage, Brasília, Fusca, Del Rey, Chevette, Belina e similares não terem um sistema de reparo automático movido a som, porque todo dia eu vejo bons samatritanos buzinando freneticamente para tentar ajudar seus semelhantes. Bom, não era esse o caso. Aparentemente há também o mito urbano de que uma quantidade excessiva de barulho pode abrir cancelas estragadas. De certa forma, fazer barulho é uma forma de abrir seus caminhos, estão aí o ditado "quem tem boca vai a Roma" e as Diretas Já que não me deixam mentir. Só que nesse caso específico de carros e cancelas, não funciona. Eu fico pensando em quem decidiu que carros têm que ter buzinas. "Olha, tá aqui um instrumento que não auxilia em nada no deslocamento do veículo, mas que faz barulhos pra cacete". Pra ser justo, a buzina é interessante para avisar quanto à presença do carro quando ele está, por algum motivo, não sendo visto, mas acho que já é hora de confiscarmo-las porque as pessoas não são suficiente maduras para que a elas sejam confiados dispositivos barulhentos. Aliás é por isso que não é socialmente aceitável pessoas andarem por aí com reco-recos, apitos e línguas-de-sogra. Ficaríamos todos malucos.

Ne mesmo shopping, diga-se de passagem, eu testemunhei um acontecimento muito curioso. Um simpatissíssimo rapaz em uma moto trocou algumas palavras não muito cordiais com uma simpatissíssima senhora em um carro que estava preso em uma fila de similares. Eu imagino que o rapaz não estivesse ouvindo direito o que a senhora disse por causa do capacete, já que ele parou a moto de modo brusco ("brusco", em verdade, em verdade vos digo que é uma palavra que deixa um pouco a dever, ainda), jogando-a de qualquer jeito apoiada ao pezinho, que por sua vez jogou-a de qualquer jeito apoiada ao chão (viu quão brusco?), e correu em direção ao carro da mulher gritando "fala isso na minha cara". Na barra lateral direita existe um filme rotulado "farofa" que é uma merda. Eu não mudei de assunto, não, peraí que já vai fazer sentido. Nesse filme, um dos piores atores do mundo, pessoa que eu admiro enormemente por ser de uma polinabilidade louvável, olha para o espelhinho de seu carro surpreso ao ver que existe uma figura potencialmente perigosa se aproximando. Eu sempre calculei ter sido mais uma atuação pífia por parte de meu bom amigo, mas percebi que, na realidade, foi perfeita. A mulher (viu? voltei!) enfiou a cara quase dentro do espelhinho ao perceber que o rapaz se aproximava e fechou o vidro tão rápido quanto conseguiu. Tadinho do vidro. Tive pena dele. Eu fiquei confuso na minha torcida, porque eu não gosto de torcer para os agressores, mas eu realmente não sei o que escalou a altercação àquele ponto. Se a mulher era uma das milhares de nojentas que jogam bituca de cigarro pela janela e o garoto era um azarado que quase caiu por ter inadvertidamente encaçapado uma bituca de três pontos no bolso do casaco, então eu deveria estar grudado à grade, feito um hooligan, torcendo por ele. Nenhum outro cenário que eu imagine me motivaria o suficiente - pelo menos nenhum que não envolva o Jason ou a máfia chinesa.

Eu também odeio shoppings metidos a besta. Tenho um repúdio especial pelo Rodrigo Santoro e pelo Shopping Ibirapuera, porque um está estampado no outro a cada esquina desse último (se você estiver confuso sobre qual é qual, eu digo que a estampa é em escala real, o que deve te ajudar) de um modo pseudotridimensional falsíssimo. O Shopping Iguatemi é outra porcaria. Ambos os shoppings cobram - e muito - por algumas míseras horinhas de estacionamento, e têm a pachorra de cobrar a mesma coisa de carros e de motos. A minha vontade é de explicar para eles, com o auxílio de um porrete, que motos ocupam muito menos espaço. Outro shopping tinha a cara-de-pau de cobrar períodos únicos de 12h no estacionamento. E por coisa de dez reais.

Enfim, eu poderia escrever um livrinho do ódio, pra tirar uma grana disso tudo. Mas já existe um mais completo que domina o mercado há muuuuito tempo, provavelmente por ter a vantagem de ser graciosamente dividido em dois testamentos.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

---------------------

Quando você anda de moto, o mundo todo é o seu quintal. E a sua lavanderia.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O Mexer Inepto

RELATÓRIO 569854622456785.256482182.222461254486-2
CAMPO DE MIAUSCHWITZ

TESTE 0000000000008: Habilidade de Caça

O EXPERIMENTO
Um grupo de dois gatos que já se mostrava bastante ineficiente na busca de alimento foi desafiado quando um deles foi adulterado para emitir feromônios que os atiçassem à busca da fonte da emissão. Mais especificamente, o aroma de presunto. O experimento foi conduzido por volta da uma hora da tarde. Mais especificamente, durante o horário de almoço; por sua vez, mais especificamente, um sanduíche de presunto.

O EFEITO
Os gatos fungaram por cerca de dez minutos, assombrados pelo odor, incapazes de direcionar seus narizes ao pedaço de presunto que repousava nas costas de um deles. Foi basicamente isso. O cientista continuou entediado, mas agora também perplexo pela baixa eficiência dos felinos, que põe à prova a teoria de Darwin, porque um animal tão patético não pode ter sobrevivido ao processo de evolução. Pô, um gato preto. Com um pedaço de presunto vermelho nas costas. E um total fracasso.

EXTRAS DO DVD
Como, após dez minutos, o objeto de estudo dos testes desistiu da busca e retornou ao cientista, ele ofereceu aos felinos um pedaço de alface, que foi prontamente confundido com presunto pela presença do cheiro e levou algumas mordidas que causaram pronto arrependimento e susto. Usar o alface como isca para direcionar os focinhos dos gatos para o presunto provocou sucesso indireto: eles permaneceram estúpidos o suficiente para estarem a menos de um centímetro do presunto, buscando-o com o afinco do exterminador do futuro em busca da Sarah Connor, e continuarem lambendo a verdura. Com o exercício de yoga que o gato apresuntado estava sendo forçado a fazer, ele caiu e rolou por cima de suas costas, o que soltou o pedaço de presunto e permitiu a ele ser encontrado. Depois de mais um minuto de fungadas frenéticas.

RESUMO
Experimento estúpido, gatos mais. Não realizá-lo novamente. Evitar também a realização de novos gatos.



DESTACAR
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------


Autenticação do supervisor do campo: ____________________________

Autenticação dos demais visores: ________________________________

Autenticação dos gatos: _________________________________________

.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Apátrida Amoroso

Eu estava conversando sobre como a ânsia de falar com alguém, quando esse alguém é sabidamente desagradável, pode ser sintomática. Me foi relatado que poderia ser um sintoma do amor, e então eu, romântico que sou, me dispus a imaginar o agente patogênico dessa doença em específico. Poderia ser um vírus. O vírus do amor. O que me soou extremamente brega e deve ser o nome de um ou dois filmes e de vinte ou trinta músicas. Curiosamente, se pensarmos por outro lado, seguindo o mesmo raciocínio cansado e batido, ninguém nunca chegou a imaginar amor como fruto de uma doença parasitária. Então eu resolvi corrigir essa injustiça e apresento o projeto de pagode, ainda procurando por um ritmo, caso alguém queira contribuir:

O Parasita do Amor

Comi a carne da paixão (3x)
E a pipoquinha do prazer
O ovo no meu coração
Me enfartou por você

Pra te ter tá um sufoco
Eu te acho uma gata
E você me acha um porco
Mas meu amor é saginata

Eu tento me declarar
Mas, meu amor, eu gaguejo
Eu só quero te amar
Como um piolho-caranguejo

Ô meu amor, meu chamego (3x)
Vê se me dá algum sossego
Vem e faz um strip-tease
Que eu te mostro a elefantíase

Nota do autor: o piolho-caranguejo é também conhecido como piolho-do-púbis. Um nome bem mais legal porque te dá já a localização e deixaria mais clara a metáfora, mas que eu só conseguiria rimar com Anúbis, o que eu deixo para os Bangles.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Inferno de Dante

O sol já se pôs há muito tempo; é a hora sem lei. Hora gélida e inóspita. Apesar disso, em uma rua de depravações, mulheres se vestem com o mínimo necessário para apelarem à libido de seus clientes. Ah, é - e elas têm pintos, então pense bem no que seria o "mínimo necessário". Por ela, dirigindo, passa um homem sonhando com xoxotas, mas pensando que ficaria muito satisfeito com qualquer um desses produtos alternativos que se apresentavam por perto e lamentando não ter alguns minutos a perder. Estaciona seu furgão em um canto escuro do subsolo, ignorando a figura humana que o observa do topo de uma laje, mas ciente dos que o aguardam. Enquanto ele retira um enorme malote do porta-malas, não se sabe se ele pensa nos homens que o aguardam, sobre como o fazem com um misto de ansiedade e desespero, monitorando cada som emitido, sentindo cada vez mais a fúnebre proximidade do pacote. Todos esses homens descritos fazem parte de uma elite pouco divulgada. São compensadores de cheques. Aliás, peraí. Não todos - os travecos não. Quer dizer... talvez até um ou outro seja, o que não me espantaria, para complementar o salário ruim, mas... ah, você entendeu.

Eu nunca cheguei a comentar como exatamente se dá a compensação de cheques de um banco. Isso é incrível por dois motivos; pela conjunção de fatores de eu ter passado mais de um ano tanto como como compensador quanto como escriba voluntário aqui nesta joça e pelo assunto ser tão ridiculamente fascinante que me espanta pessoas não morrerem espontaneamente por falta de informações a respeito. É tão legal assim.

Eu poderia comentar sobre o processo em si, mas o seria algo frio, sem alma. Quem dá a verdadeira vida aos seus pedaços de papel rabiscados são os seres humanos que trabalham com eles. Dengoso, por exemplo. Era chamado assim porque teve um caso de suspeita de dengue e ficou afastado do trabalho por alguns meses. Sendo super sapeca e fazendo o que é popularmente conhecido como "trocadalho do carilho", um de seus colegas o vestiu com essa simpatissíssima alcunha. Que, segundo nosso time de pesquisadores de campo, era repetida cerca de trinta vezes ao dia, tanto em peças conversacionais como fora delas e indiferente à presença ou ausência do sujeito possuidor do apelido. Em oito meses de serviço, tempo em que tanto o alcunhador como o alchunhado foram transferidos de horário, estima-se que dez pessoas inocentes (entenda-se: que não tiveram suspeita de dengue nem fizeram parte da criação do gracejo) tenham sido forçadas a ouvir a mesma piada sem graça 5.280 vezes (22x30x8). O crime às vezes era promovido a hediondo por ser cometido com a captura do braço da vítima e um olhar penetrante que pedia reação favorável (riso) em vez de adequada (soco). Mas eu me desvirtuei do tópico. Melhor passar ao filet mignon do papo de vez para que você exploda em júbilo, antes que de curiosidade.

O básico do processo, altamente automatizado, é colocar os cheques em uma máquina que irá digitalizá-los, arquivando-os para futura referência, e conferí-los, por meio de leitura da banda magnética. Estando tudo certo, eles serão enviados para as agências dos clientes correntistas para serem pagos. Mas isso é um resumo que ignora largamente a beleza dos detalhes que fazem desse trabalho tão compensador (haha).

Chega um pacote gigantesco contendo milhares de cheques. Que iriam direto para a máquina se não fosse por um pequeno detalhe. Milhares de pequenos detalhes, para ser mais exato: grampos. O grande problema por trás disso é que não é um funcionário da área de compensação que escreve o manual procedural da agência bancária. Se fosse, não estaria escrito nele "[...] não grampear documentos, cheques [...]", o que aparentemente pode ser interpretado como "[...] pede-se o favor de grampear excessivamente toda e qualquer sorte de papel [...]". Não, não, estaria escrito "[...] para cada grampo encontrado em cheque vindo dessa agência será aplicado um semelhante, como multa, ao saco escrotal do responsável [...]". Talvez em letras garrafais. E no título. Porque é levemente perturbador quando cerca de 150.000 cheques precisam ser filtrados por uma equipe de nove pessoas que partilham um único extrator de grampos. Acho que tétano só não é a causa mais principal de óbito nesse ramo porque mais gente acaba morrendo de sono.

É, sono mata. E o período em que ele mais ataca é o seguinte à extração de grampos. Os cheques vão para a máquina e até eles voltarem so é preciso esperar. Por quase uma horinha. Pela madrugada. Isso é bem mais difícil do que parece. Basicamente se tem duas opções principais de distração - conversa e acessórios. A primeira é problemática ("Ele é dengoso... hehehe") e a segunda pode se esgotar rapidamente até para os mais aplicados no caminho do ócio. Permita-me explanar com um exemplo. Foi-me feita uma piadinha dessas do tipo "se você soltar do alto de um prédio X e Y, qual chega primeiro?" e eu, pra entreter meu colega sapequinha, elaborei uma resposta longa que continha um cenário fisicamente perfeito, um cenário absurdo, provável foco do gracejo, e uma conclusão zen. Mal cheguei à segunda parte, contudo, e a brincadeira acabou porque ele não aceitava o princípio da aceleração constante da gravidade. Eu, sonolento, com 10% do meu cérebro ativo na tarefa, 30% no meu lugar feliz e 60% dormindo, disse "tá... peraí", peguei uma caneta e um grampeador do meu chefe, jogando ambos no chão. Se meu chefe ficou muito curioso com as minhas ações, já que ele estava alheio à conversa, meu interlocutor ficou muito feliz ao perceber que o grampeador chegou ao chão pouco antes. ("Dengoso... hehehe") Eu comecei a argumentar sobre a resistência do ar e estava pronto para jogar ambos os objetos envolvidos no teste pela sala, em lançamento balístico, para demonstrar, mas tive um súbito flash de consciência do que eu estava fazendo e então me resignei a ficar com fama de meio doido e deixá-lo sem um conhecimento elementar da física. Como esse era mais ou menos o layout de todas as conversas que se travava lá (assunto desestimulante, eu ficando com fama de meio louco ao fim, pessoas a ponto de arremessarem objetos por causa de uma divergência de idéias), resolvi dedicar minha atenção aos objetos inanimados, o que me rendeu a outra metade de loucura percebida que faltava. Especialmente quando meus colegas testemunharam meu teste de arco-e-flecha feito com clipes e elásticos, mas também em diversas outras ocasiões, imagino eu. ("Hehehe... dengoso...")

Ainda tem muito texto pela frente, então talvez você queira parar agora e tomar um cafezinho. Eu espero. E, enquanto espero, posso divagar um pouco sobre o café. É uma bebida maravilhosa, estimulante e sempre presente em escritórios e afins. Então imagina-se que eu deveria ter acesso a essa maravilha tecnológica, certo? Bom, eu tinha. E cheguei a fazer uso dela, até, por algum tempo. Resolvi parar com essa estratégia por dois motivos: primeiro porque era brutalmente ineficiente. Tentar parar o sono das três da manhã com café é como tentar parar uma potente locomotiva. Com café. Você pode até pensar em jogá-lo quente sobre o condutor, mas isso não pararia a locomotiva, só a deixaria fora de controle enquanto o responsável por cuidar dela estivesse ocupado te esganando. Ah, e o segundo motivo: o café era feito às seis da manhã, todos os dias. Às três da manhã ("olha aí o dengoso... hehe...") aquela beleza já tinha ficado por muito tempo dentro de uma garrafa térmica em companhia de uma dose exagerada de açúcar. O resultado era uma bebida meio fria, fermentada, muito pouco revigorante e responsável por deliciosas gastrites. Falando nisso, quem saiu pro cafezinho já voltou, certo? Então eu continuo minha explanação.

Uma vez retornados os cheques começava a verdadeira diversão da noite. O trabalho fica frenético. Gente se estapeando pelo único grampeador que presta e o restante escolhendo apressadamente algum que funcione mais ou menos. Pense "Ilha das Flores" para uma boa representação visual, só que com um dos porcos segurando um humano pelo braço e dizendo "olha aí... olha o dengoso... hehehe...". Pega-se então um bolo enorme de cheques para que sejam separados por agência. São cerca de mil agências e noventa mil cheques, o que resulta em um trabalho bem pentelho. Separados os cheques, é hora de meter quantos grampos raivosos couberem e adorná-los com uma fitinha identificante. Alguns desses cheques são para devolução, e eles são separados à parte porque têm destinos diferentes. Mais especificamente, pequenos envelopes de pano conhecidos como "lonitas". Bonitinho, né?

Agora permita-me descrever visualmente o galpão. Imagine um refeitório infantil, com longas bancadas brancas. Remova os bancos, as crianças, os pratos e boa parte da iluminação. Agora adicione centenas de malotes verdes (onde o cheque vai enfiado dentro, né?). Voilá. As próximas horas são divididas em tarefas dinâmicas e variadas que requerem um comportamento mais pró-ativo, dinâmico, de um funcionário com desejo de crescer e que esteja, no mínimo, cursando no ensino de grau superior. Estarão dividias aqui para melhor entendimento, menções ao dengoso suprimidas:

Tarefa #1: Separar lonitas por bancada correspondente. Individualmente separá-las por grupo tabelado. Ordená-las de acordo com o número da agência. Preenchê-las com cheques a serem devolvidos. Fechar lonitas. Lacrar lonitas.

Tarefa #2: Separar grupos de cheques por bancada correspondente. Individualmente separá-los por grupo tabelado. Ordená-los de acordo com o número da agência. Preecher os malotes com eles e com as lonitas. Fechar malotes. Lacrar malotes.

Tarefa #3: Separar grupos de malotões coloridos por bancada correspondente. Individualmente separá-los por grupo tabelado. Ordená-los de acordo com o código de destino. Preenchê-los com malotes verdes. Fechar malotões. Lacrar malotões.

Tarea #4: Ir ao centro de compensação do Banco do Brasil ouvindo pagode ou um motorista contar histórias obscenas e mexer com travestis. Chegando lá, separar malotões coloridos e grupos de malotes por fileira correpondente. Ordená-los de acordo com o código de destino. Preencher com eles malotes gigantes. Felizmente o pessoal do Banco do Brasil é que fecha e lacra esses malotes homéricos.

Depois de tanto estresse é bom descansar um pouco antes de bater o ponto. Aliás é mandatório, porque o Banco do Brasil fecha bem antes do horário de saída dos funcionários dos bancos, então o serviço obrigatoriamente termina antes do horário de expediente. Geralmente rola um segundo round de luta contra o sono, em que ele vem vingativo e melhor preparado.

Mas espere! Não é só isso! Quando se é contratado para trabalhar num setor tão bonito e se "sabe" mexer em um "computador" (pouquíssimo conhecimento necessário, e mesmo assim raro, aplicado em um computador era jurássico) também entra no maravilhoso mundo da era digital. Coisas bacanas do lado da elite dos funcionários incluem:

Problema: Cheque pirata! Deus do céu! Que fazer?

Solução: Muito simples. Existe um programa chamado "confdigito" que avalia a banda magnética do cheque e confere o dígito verificador. Uma maravilha, em teoria. Na prática, nem tanto, porque aparentemente todo mundo tem acesso a essa merda de programa e os cheques falsos sempre acertavam os dígitos verificadores ultra secretos. O único jeito, então, era encontrar esses cheques manualmente no bolo e evá-los ao chefe de seção, que iria conferir os dados da conta. Embora seja fácil de acertar o dígito, aparentemente o nome do correntista é mais bem guardado, então o real não batia com o impresso no cheque. Dessa forma, rode o programa "confdigito". Sim, todo mundo na empresa está ciente de que não funciona mais, mas rode mesmo assim. Não tem problema que você tenha que digitar à toa a banda magnética de uns trinta cheques em um 486 que não consegue acompanhar a velocidade de digitação de um capiau catador de milho. É o procedimento padrão e precisa ser feito. Quando falhar a identificação do pirata pelo programa de reconhecimento e identificação de fraudes, leve-os ao seu chefe, que irá checá-los um a um, sem pressa, enquanto vê vídeos de pornografia. Depois irá retorná-los dizendo "é falso" ou "confere". Se conferir, segue normalmente. Caso contrário, vai para uma pilha de "a ser devolvido motivo 35". Eu posso já ouvir sua dúvida: "mas como se escolhe quais cheques verificar? Você disse 'trinta cheques', e que passava por uns noventa mil!". Verdade. Quanta sagacidade. Entra aí a experiência de muito tempo trabalhando em uma agência bancária, um tipo de sexto sentido que toca, na sua cabeça, um alarme quando algo está fora de lugar, quando algo parece suspeito. Isso e o fato de os cheques falsificados serem AZUIS e o banco só emitir cheques VERMELHOS. Em 90% dos casos, pelo menos. Os outros 10% erram o número ou nome do banco. O mais comum era vir um cheque teoricamente da Caixa Econômica Federal, mas com dados numéricos da Nossa Caixa ou aberrações semelhantes. Deve ser confuso para os falsários esse negócio de duas caixas. De qualquer forma, mesmo sendo ridiculamente óbvio que sejam falsificados, por que não gastar meia horinha com o procedimento padrão? Ele é tão simpático.

Problema: Outros bancos são porcos e erram os dados dos cheques no arquivo lógico do sistema! Subproblema: o que é o arquivo lógico do sistema?

Solução: Nada a temer. A máquina irá conferir os dados enviados com a banda magnética e cuspir o cheque, porque não confere com o que ela espera. A mesma coisa acontece com cheques amassados. Mande-os todos para um tião qualquer separar e ordenar manualmente e devolva-os por "motivo 37". Não os amassados, lógico - separe os erros da máquina dos erros das pessoas. Em vez de ajustar os dados manualmente ou devolver todos, perca muito mais tempo procurando os dados que não conferem por um arquivo lógico gigantesco, feito para ser lido por máquinas e não por homens, com dados de 150.000 cheques, rodado com DOS e sem função de busca. Que totoso! Se você quer saber o que é um arquivo lógico, vai uma definição simples: é dor! Depois de separados os erros, é necessário informar o banco sobre o engano que eles cometeram. Então tem-se já o modelo de uma cartinha sendo simpática e dizendo "seu arquivo lógico está com problemas e tem nos enviado dados errôneos, o que nos causa grandes transtornos blá blá blá". Essa carta então é enviada por fax e largamente ignorada pelo outro banco, já que para eles não dá problema nenhum. O Itaú era o campeão em trabalho porco e mandava o maior número de informações desencontradas. Também era o que estava recebedo a carta TODOS OS DIAS em DUAS VIAS havia TRÊS ANOS. Sím, é algo tão ESTARRECEDOR que justifica CAPS LOCK. Logicamente eles não tomavam nenhuma providência e nós não parávamos de mandar as cartas, já que em time que está perdendo não se mexe. Aliás, essas cartas iam, em média, por dia, para seis bancos. Itaú (341), Real (356), Unibanco (409), Caixa Econômica (104) e mais dois variados. Nunca aconteceu com o Banco do Brasil (001) - parabéns pra eles pelo bom trabalho. Duas vias pra cada banco, três vias para a chefia e uma para nós mesmos. Uma porrada de papéis. Como todas essas vias voltavam depois para nós com comprovantes de recebimento, isso resultava na maior pilha de papéis que eu garanto que você não consegue nem conceber.

Problema: A máquina não registra nem microfilma os cheques que ela não processa, como os números 35 e 37. Como proceder?

Solução: Muito simples, gafanhoto. Nós não vamos querer que um cheque desses deixe de existir em cópia no departamento. A solução é novamente mandar um tião com todos esses documentos para um scanner. Geralmente eu. A parte boa e que se fica livre de ouvir sobre o densgoso por uns trinta minutos, exceto quando ele sobe pra tomar um copo d'água. De qualquer forma, eis o que se faz no scanner: digitaliza-se os cheques motivo 35 em um arquivo e cheques motivo 37 em outro. Depois digitaliza-se os mesmos cheques ordenados por agência. E depois digitaliza-se as cartas. Isso tudo, veja bem, para arquivo e para envio para a chefia e para as agências.

Problema: Esse negócio de digital, sei não... parece pouco confiável.

Solução: Sem problemas, seu retrógrado de merda. De modo semelhante aos engenheiros que não confiavam nas calculadoras na época dos Beatles, esse sistema digital não é bem visto. A solução é, logicamente, em vez de não adotar o sistema digital por desconfiança e parecer um neoludita ensandecido, adotá-lo e acumular o sistema anterior. Então o que acontece é que, se criado um programa de mensagens cru e porco para envio de informações, envie os dados necessários por ele, mas também continue enviando a cópia em papel impresso. E quando for criada a intranet da empresa com sistemas de e-mail e envio de arquivos digitalizados, envie-os. E continue também enviando cópias pelo sistema de mensagens porco e um malote com cópias dos documentos. Por que fazer o trabalho uma só vez se você pode fazê-lo três vezes? Se trabalho enobrece o homem, seja três vezes mais virtuoso. Para fazer uma analogia, é o equivalente a contratar um caminhoneiro para levar um carregamento de bananas a Pernambuco. Porém, por não confiar em caminhões, você manda via trem um carregamento de bananas sobressalente. E, por segurança, envia também um terceiro carregamento de bananas via riquixá. Isso é muito pouco eficiente para você, confuso para quem vai receber o mesmo carregamento de bananas três vezes e especialmente chato pra o seu único funcionário, o motorista/maquinista/riquixeiro. E eu uso o exemplo com bananas porque o sistema comunicativo ultra redundante parece ter sido criado por macacos, que vão gostar da analogia. (Quem leu tudo até aqui já tem direito a um docinho. Pode continuar lendo, tá no fim).

Problema: Festas!

Solução: Ah, sim, às vezes rola uma festinha. Afinal compensadores também são gente, geneticamente falando, e fazem festinhas. O problema de festas é que não pode ter álcool no ambiente de trabalho, então elas geralmente eram feitas com refrigerante. E não existem padarias, lanchonetes nem nada parecido que funcione até a alta madrugada por lá, exceto o Habib's que funciona até a uma. Então festa era à base de esfiha fria (de, no mínimo, quatro horas atrás) e refrigerante quente (porque não tinha freezer). Alternativamente um dos nossos queridos colegas resolveu, um dia, fazer uma festa com sanduíches e... leite! Leite quente! Faça um experimento: fique acordado até as quatro da manhã, hoje. Então tome um copo de leite quente. Continue acordado. Anote os resultados. É tortura fazer isso com zumbis da madrugada.

Eu teria muitos e muitos causos particulares para contar, quase todos envolvendo uma boa dose de sonolência, mas acho que por enquanto é melhor eu ficar pelo básico, que é o funcionamento do ambiente de trabalho. Já deu pra entender que o banco é um mundo mágico, praticamente um parque temático da burocracia, certo? Tipo a Disney, só que onde o personagem principal não é o Mickey, é o Dengoso, e todo mundo é um tipo misto de Pateta com Soneca. Acho que, levando em conta o fuso, até o horário de funcionamento é o mesmo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

---------------------

Se todos os blerghs são blorgs e todos os blorgs são slerms, por que diabos eles não se chamam todos por um outro nome, único e que não pareça estar sendo vomitado?

terça-feira, 11 de novembro de 2008

---------------------

Uma andorinha só não faz verão. Mil delas juntas também não. Talvez, no máximo, possam ser responsáveis por uma chuvinha sasonal. Das fedidas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A Paladin Minister

Eu queria deixar recomendado aqui o excelente filme Italian Spiderman, obra-prima do cinema ítalo-australiano. A primeira parte segue aqui abaixo, o resto vocês podem encontrar pelo Youtube com um mínimo de esforço. Especial atenção a todas as partes, por favor, já que são todas ótimas, mas uma especial atenção redobrada às partes três e seis, para as quais, falando em termos científicos, eu pago um pau enorme.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Supreme Homo

Certa vez me disseram que o Super-Homem é o maior vilão de todos os tempos. Dos quadrinhos, pelo menos, senão ele teria que competir com Palpatine, Cthulhu, Cheney e vários outros contra os quais não teria a menor chance. O racioncínio por trás dessa afirmação é bem simples: em vários cross-overs, o Super-Homem já enfrentou uma gama muito maior de heróis que qualquer Coringa, Thanos ou Massacre. Até porque enquanto esses vilões clássicos geralmente enfrentam grupos que garantam um bom quebra, o Super-Homem não se importa nem um pouco com isso e já enfrentou, por exemplo:

Hulk – Você até poderia dizer que o Hulk teria alguma chance, porque ele é ridiculamente forte. Mas enquanto o Hulk arremessa tanques de guerra e racha ilhas ao meio, o Super-Homem arremessa continentes. E isso na última versão, mais fraquinha, porque ele já chegou a jogar sinuca com planetas na era de ouro. Além de ser muito mais forte, ainda ultrapassa a velocidade do som e tem visão de raios-x, de calor, sopro congelante e diversos outros poderes de frutinha que não fariam muita diferença mas contam como uma espécie de bônus por variedade.

Homem-Aranha – Sério... sacanagem. Não só o Homem-Aranha não tem a mínima chance de machucar o Super-Homem como a versão cinematográfica dele é muito mais afetada e baitola que a do azulão. O único caso em que pode haver uma vitória do Aranha aqui é se estivermos falando do Aranha japonês contra o Super indiano. Porque o robô Leopardon arrebentaria com a cara daquele Kumar. Em se tratando de versões clássicas, tenha dó.

Batman – Um ser semi-onipotente de superpoderes messiânicos contra o filho bastardo que um ninja zoófilo teve com o inspetor bugiganga? Claaaaro, por que não? Além de ser uma premissa babaca, pra piorar as coisas sempre que acontece uma dessas o Batman acaba ganhando. Ou porque ele sempre tem um estoque de kriptonita à mão ou porque ele usa bombas atômicas e trajes robóticos. De qualquer jeito, é uma vitória muito mentirosa!

Muhammed Ali – Bom... ele derrubou o George Foreman, o Joe Frasier... mas eu ainda acho que o Super-Homem teria vantagem. Acho que acho errado, porque Cassius também ganha, e sem nenhuma ajuda – derruba o homem de aço num gancho de direita. E depois perde uma simulação pro Rocky Marciano, que deve ser o humano mais forte do universo.

Enfim, o Super-Homem realmente enfrentou todos esses oponentes. Roubalheiras à parte, nenhum à altura dele, porque afinal ele é absurdamente forte, absurdamente rápido e absurdamente voôso. Mas eu encontrei um páreo para ele que não precisa recorrer a essas palhaçadas de pedrinhas coloridas. Então sem mais delongas, aqui vai a minha breve versão de Super-Homem contra as leis da física:

Uma bala A viajava a cerca de 430m/s quando encontrou um corpo B, de Borrabotas, que continha uma bala C de alvejadas anteriores. Como acontece num jogo de bilhar, a bala A tranferiu sua inércia à bala C, ejetando-a, e alojou-se dentro de B. Ou, na realidade, dentro de B menos uma certa porcentagem de B equivalente ao buraco causado por A e C. Calcule o provável cenário dessa cena adotando como personagens uma casa lotérica, alguns policiais, um sargento, reféns, um Super-Homem e um punhado de bandidos.

- Cacete! É o Super-Homem! Até que enfim eu não vou mais ter que aturar heróis de meia-tigela! - soltou o sargento.

- Sim, senhor. Eu sou o Super-Homem. Em que posso ajudá-lo nesta fantástica manhã em que o sol brilha iluminando o sonho americano?

- Bom, Super-Homem, uns cabeças-de-Vivarina, reféns, uma casa lotérica. Mesma merda de sempre. Dá pra resolver?

- Ora... será um prazer, louvado seja Allah.

E para que realmente sua atividade de busca e apreensão de malfeitores fosse como ele descreveu, Super-Homem resolveu usar sua super-velocidade para retirar todas as armas e os reféns das mãos dos meliantes e deixá-los desarmados e apreensivos dentro de um cubículo, o que seria engraçado. E pôs-se a correr hipervelozmente em direção à lotérica, tocando em cerca de um quarto de segundo o chão com seu nariz. O que acontece é que ele aprendeu que não importa o quão fortes e rápidas sejam as suas pernas, se você as movimentar muito velozmente tentando dar um impulso, vai superar a resultante da força normal com a do coeficiente de atrito de sua bota de pano com o gramado, fazendo você escorregar com assombrosa rapidez. Percebendo isso, Super-Homem tentou aumentar sua força normal fazendo uma redistribuição vetorial do seu impulso. Isso teve duas conseqüências bastante óbvias: um enorme buraco no gramado e um homem de capa sendo lançado balisticamente por uma distância irrisória.

O sargento, testemunhando esses eventos, já previu mais um fracasso e pensou em pedir o telefone de outros heróis mais habituados ao mundo real, como o Homem-Lógico ou o Anagraman. Enquanto isso, Super-Homem bolava um modo de chegar à casa lotérica. Correr estava fora de questão, mas ele poderia voar! Seu vôo nunca foi exatamente um fenômeno físico.A propulsão vinha aparentemente do nada e o impulsionava como mágica. Apesar das teorias que dizem ser o vôo do Super-Homem uma manifestação do tubo digestivo dele usado como turbina, numa espécie de versão escatológica do super-sopro, o vôo do homem de aço era um poder muito limpo em termos de efeitos colaterais. Então pôs-se a voar em super velocidade até a porta da lotérica. E em cerca de um quarto de segundo, de novo, que parece ser o tempo de reflexo do homem de aço, ele de viu em outra parte da cidade, tendo deixado uma linha reta de caos e destruição.

O que acontece é que o Super-Homem não tem muitos poderes sobre o tempo, além de girar a Terra ao contrário. E nem tem um cérebro super acelerado. Se tivesse, poderia parar com essa palhaçada de combate ao crime e ser um matemático brilhante. Ou melhor: um físico, já que tinha acesso às estrelas diretamente e um telescópio embutido no olho. E quando você se move a cerca de 3.000m/s seu cérebro não consegue nem interpretar o que está acontecendo. Você não consegue reagir a nenhum obstáculo, até porque não o está vendo – é tudo um grande borrão. Então Super-homem voou lentamente de volta até a lotérica, volta e meia caindo ou batendo em um poste por estar com um caso de superlabirintite.

Quinze minutos depois lá estava ele, de volta à cena do crime, já enfezado. Resolveu que ia deixar o show de lado e ser curto e grosso, objetivo e eficiente. Foi entrando porta adentro e tomando uma saraivada de balas que ricocheteavam e atingiam civis inocentes - de tudo menos da curiosidade - que espiavam fora da área de isolamento. Uma vez cara a cara com o primeiro crminoso, socou-o, deixando-o com o pulmão perfurado por meia costela. Nessa hora um dos bandidos resolveu atirar em um refém. Super-Homem, como estava próximo e previu o tiro e sua trajetória, pôde usar somente seu braço para ser hiperveloz. Isso é bom, porque ele pode contrabalançar o movimento do braço com seu poder de vôo. Foi possível colocar o braço no caminho da bala tão logo ela foi lançada, salvando um homem voador, surdo e severamente queimado de ser baleado. Lógico que o homem não estaria surdo ou com sérias queimaduras se um braço não tivesse alcançado Mach 8 a um palmo de seu nariz, sendo tão destruidor quanto um meteoro a esse ponto, rompendo seus tímpanos com o rompimento da barreira de som e deslocando tanto ar quanto um tufão.

Todos na lotérica severamente feridos por esse ato impensado, Super-Homem tinha resolvido o problema, embora não de uma forma exatamente eficiente. Envergonhado, resolveu passar o resto de seus dias tricotando. Lentamente. Fim.

Ou não, porque não se sabe se ele é imune a radicais livres, caso em que talvez não houvesse um final, mas uma segunda história, sobre o maior suéter do mundo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Inábil Sonho de Oz

Aquele desenho da Disney é uma baita lição de vida. O leãozinho Sinbad fica com medo do tio, o Omar, Ismar, algo assim, e sai de casa. Anda pelo mundo afora e aprende a viver em contato com um porco e uma toupeira, que é o melhor que se acha por aí. Então volta e vê que não tem mais capim por causa do tio, que tomou o lugar dele de rei. Lear - lembrei do nome. Aliás é melhor eu resumir o filme todo. Vale a pena.

Um macaco decide levantar um filhote de leão num palco. Esse filhote gosta de correr por cemitérios de mamutes rindo na cara do perigo, o que é perigoso porque hienas vêm atacá-lo. E quantas vezes em nossas vidas não nos vimos correndo felizes entre carcaças de mamutes quando fomos supreendidos por hienas? Ele foge. Uma manada estoura, então ele vira hippie e foge de casa pra ir viver na pobreza cantando com os amigos. Depois de um tempo ele acha uma garota e percebe que não vai fazer muito sucesso com ela enquanto estiver sujo, pobre e seu hobby for ficar olhando pro céu drogadão, alucinando com as nuvens. Fica com vontade de voltar pra casa e assumir o empreguinho de rei que o pai dele tinha arrumado. Só que não tem mais vagas e a nova administração do lugar acabou com os recursos da empresa. E isso é muito comum. Quantas vezes não deixamos passar uma boa oportunidade para seguir um sonho e depois vemos que nosso tio se aliou a hienas, tomou nosso reino e começa a levar nossa raça para a extinção? Aí rola um quebra pau e ele recria o ecossistema completo em alguns meses, provando que nada é impossível. E um macaco decide levantar um filhote de leão – outra lição de vida fabulosa. Quantas vezes não vemos um macaco levantar um filhote de leão num palco e percebemos que, lá atrás, já haviam feito isso? Muito bonito, muito bonito. E instrutivo.

Segue uma foto do desenho para o caso de vocês não se lembrarem:

domingo, 26 de outubro de 2008

---------------------

Sabem por que não se vende armas aos domingos? Porque também não se conserta PlayStations.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Doideira Num Velhote

“-Bom dia, doutor. Tudo bom com o senhor?

-Ah, tudo ótimo, tudo ótimo. E contigo, tudo bom?

-Naquelas, naquelas. O que é bom, porque se ficar bom demais, a gente relaxa.

-Grande verdade.

-E então, o que posso fazer pelo doutor hoje? Quer mais um saco de cinco quilos? O Rufus deve estar se empanturrando esses dias, hein?

-Pois é, rapaz, o Rufus morreu.

-Morreu?

-É.

-Coitado. Meus pêsames.

-É...

-...

-...

-E o que é que eu posso fazer pelo doutor?

-Ah, é verdade. Eu vim pedir o meu dinheiro de volta.

-Seu dinheiro de volta, doutor? Não entendi.

-Bom, eu comprei sua ração para o meu cachorro e ele morreu. Eu gostaria de ser reembolsado.

-Hã... isso é muito incomum, doutor.

-Eu não vejo nada de incomum. Meu cachorro comeu sua ração e morreu, então eu no mínimo gostaria do meu dinheiro de volta. Olhe aqui, eu trouxe o resto do pacote para o senhor.

-Deixe-me ver... parece estar dentro da validade. O cheiro está bom. Nada de errado.

-Claro que tem algo errado. Quer que eu traga o corpo do meu cachorro para provar?

-Doutor, do que o Rufus morreu?

-O veterinário disse que foi 'esmagamento craniano'. Provavelmente influenciado pelo caminhão que o atropelou.

-Ahã... ok... e desculpe incomodar, mas o doutor pode me dizer qual a relação desse evento com a ração?

-Não consigo imaginar nenhuma, na verdade.

-Então eu gostaria que o doutor me explicasse o porquê de eu dever retornar o dinheiro.

-Ora, não se faça de besta. É muito simples: por que eu compraria ração para o Rufus?

-Bom, os cachorros precisam comer.

-E por quê?

-Porque senão eles morrem, doutor.

-Isso. Eu comprei a ração para evitar que meu cachorro morresse. Não funcionou. Então eu exijo meu dinheiro de volta. E francamente, não esperava toda essa petulância por parte do senhor. Sou cliente antigo e achei que seria tratado com o mínimo de respeito.

-Certo, doutor, mas seu cachorro digeriu a comida, processou-a, fez uso dela.

-Quer que eu devolva as fezes dele também? Posso trazê-las, embora ache isso ultrajante.

-Não, meu doutor. Preste atenção, por favor: seu cachorro fez bom uso da ração. E continuaria vivo à base dela se não fosse pelo caminhão.

-Não venha querer se escorar em tecnicalidades. O senhor sabe muito bem que é sua responsabilidade moral devolver o dinheiro que eu gastei aqui em vão tentando manter meu cachorro vivo à base dos seus produtos chinfrins. E o senhor vai me devolver todo meu dinheiro ou eu vou meter processo atrás de processo nessa lojinha barata até deixá-lo sem nada, nem o que comer além desse resto de ração que estou devolvendo. E deixo-a para que o senhor a coma, seja atropelado por um caminhão e então entenda meu ponto de vista!

-Olhe, eu vou dar ao doutor o dinheiro, mas unicamente porque já estou no ponto em que ou pago ou estrangulo-o com suas próprias tripas, gritando o quão miserável e louco o senhor é.

-Pronto! Foi tão difícil? Pelo amor de deus!

-Tome esta merda de dinheiro e não dê mais as caras por aqui.

-O que é isto?

-É dinheiro, doutor. É dinheiro. Pegue e vá embora.

-Tem quarenta reais aqui.

-Qual o problema? Quer trocado? O valor exato? Não tenho, pode ficar com o troco, só vá embora.

-Meu senhor, o Rufus tinha treze anos.

-E daí?

-Treze anos sendo alimentado com ração daqui. Eu calculo que o senhor me deva cerca de seis mil reais. E isso porque sou bonzinho e não estou cobrando os juros...

E foi assim que eu vim parar aqui, meritíssimo.”

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Blasfemar o Torso

Eu vou falar sobre motos, mas se você não se interessar pelo tema talvez possa traçar algum paralelo com outro assunto qualquer.

Em primeiro lugar você tem que escolher o que você quer. Existem diversos tipos no mercado e a escolha do modelo errado pode trazer problemas. Vamos passar, uma a uma, pelos tipos e suas características:

Existem as mais belas do mundo, as esguias italianas, que são uma delícia para se montar e muito melhores ainda para se ter ao lado em uma foto ou roda de amigos. O problema é que elas costumam ser muito, muito caras de se manter. Qualquer probleminha vai te dar uma baita canseira pra reparar e, se der alguma coisa mais séria, não adianta nem tentar procurar uma assistência – já era. Melhor encostar num canto e tentar arrumar outra. Dá pra tentar ignorar os perigos e continuar montando, mas é provável que, nesse caso, ela vá embora, arrancando seu couro e te deixando quebrado no processo.

Muito parecidas são as que têm o mesmo porte das italianas mas vêm de outros lugares. Até do Japão, da coréia e daqui mesmo do Brasil. São incrivelmente semelhantes às italianas em beleza e você vai pirar nas curvas inacreditáveis. A única coisa em que perdem é que não são tão impressionantes por existirem em maior número – uma estrangeira de Milão é muito mais impressionante que uma aqui de Manaus. Ainda assim, são excelentes exemplares e quem não é muito entendido nem nota essas sutilezas. Um pouco menos caras e difíceis de se manter, mas ainda a anos-luz da realidade da maioria das pessoas do mundo.

Se por um lado essas são charmosas, impressionantes e de desempenho excelente, por outro montar nelas é muito cansativo e elas são perigosas, porque praticamente pedem pra você sentar a mão sem dó e numa dessas sua vida e sua liberdade podem ir pelo ralo. Se você quiser mais conforto, pode pegar uma dessas baixinhas e pesadas. Não parece uma boa idéia, eu sei, mas em primeiro lugar, dá pra montar nelas por horas sem ficar cansado. São muito mais econômicas, fáceis de se modificar ao seu gosto e geralmente, no caso das que têm mais de 200kg, você nem precisa cuidar da relação nem checar se ela anda bem lubrificada como seria de praxe; é pegar, fazer o que quiser e deixar encostada na garagem pra quando quiser usar mais tarde. E toda vez ela vai te servir muito bem. Outro ponto interessante é que ninguém parece querer roubá-las.

Se quiser economia extrema, no entanto, sua melhor jogada é pegar uma dessas que andam por aí aos montes e não têm nada de especial – servem pra se montar e passear, mas não é o que você apresentaria pros amigos com um sorriso no rosto (a menos que seja a sua primeira). Requerem alguma manutenção, mas você pode muito bem seguir o exemplo de uma parcela da população e usar sem dó, não dar muita atenção ao que ela pede e trocar quando estiver dando muita dor de cabeça, porque é fácil de se substituir. Aliás é provavelmente o certo a se fazer, porque como em todos os modelos, quanto melhor você tratar, mais chances tem de um marginal qualquer tomar de você.

Outro é o tipo bem feio mas muito prático, daquelas que te levam pela lama e pela buraqueira (que é o que você mais vai encontrar por aí, especialmente vivendo num país de terceiro mundo) sem reclamar. Não têm nada de impressionante em matéria de curvas – aliás são bem ruinzinhas. E também não são as mais econômicas. Acho que essas duas características explicam a baixa popularidade do modelo. O que salva é o conforto, que costuma ser grande, mas requer algum costume e a falta de preconceito com a aparência decididamente pouco formosa. Ah, e se você pegar um bom embalo, vão vibrar bastante.

O que vale para todas elas são alguns conselhos básicos: tenha cuidado quando for pegar uma usada – já vêm com vários defeitos, vícios e gambiarras que você não conhece e vai ficar um tempão arrumando. Às vezes compensa pegar uma bem antiga, porque não são muito exigentes em termos de cuidados e são fáceis de se ter. Por outro lado são difíceis de repassar e apresentam já um desgaste bastante acentuado. Não tente fazer o seu modelo beber menos que o que for natural dele, porque isso pode se reverter em problemas muito mais sérios.

É isso aí. Você já sabe de tudo que precisa pra adquirir a sua. Eu só acrescentaria que tem muita gente prática, que pega e já fica pensando no repasse, e tem muita gente mais romântica que pega pra casar, mesmo, sem se importar com quanto dinheiro vai pelo ralo. No fim das contas de ambas as formas perde-se bastante grana. Só compensa ser prático se você gostar de variedade e não quiser ter os típicos problemas que vêm naturalmente com o tempo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

---------------------

Nunca confie no que os seus próprios pensamentos dizem a você. Lembre-se de que seu interlocutor é um cara chamado "mente".

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Bávaro Escusado

Estava eu tranqüilamente (é, se quiserem derrubar o trema vão ter que passar por cima do meu cadáver, seus porcos) voltando do mercado onde comprei uma "especialidade láctea" "sabor cheddar" "barata" de gosto repugnante quando encontrei um rapaz muito interessante.

Correndo exasperadamente pela faixa de pedestres, cabo de vassoura em punho, uma ponta próxima ao olho e outra apontada em direção aos carros. Eu imaginei que se tratasse de um rifle, e imagino que ele estivesse pensando a mesma coisa. Jorrava alguma sabedoria ininteligível enquanto ajustava a mira.

Eu estava bastante contente por encontrar alguém simpático e curioso até ele inverter longitudinalmente a posição da arma e começar a brandí-la como um taco de beisebol. Eu imaginei que ele fosse louco, então, porque qualquer idiota sabe que é extremamente perigoso agitar dessa forma um rifle. Mas, pensando bem, eu nem sei se estava carregado - talvez ele estivesse só pregando uma peça em todo mundo. Super sapeca.

De qualquer forma, ele me lembrou de alguns amigos que eu tinha feito pela região e que não vejo há muito tempo. O Bob, por exemplo. Vive por aqui, cada hora num canto; costuma bradar a plenos pulmões que aquele que não sabe o nome dele merece morrer, que Minas Gerais tinha uma quantidade número X de alqueires (que costuma variar um bocado de semana a semana) e mais qualquer coisa que venha à mente dele.

Eu me lembro do Batman, que habitava um ponto de ônibus da região. Todo dia quando eu ia de ônibus para a faculdade era pego de surpresa por uma figura que saía das trevas, enrolada em uma capa escura, e repentinamente a abria em um gesto imponente. Acompanhando esse gesto vinha um aroma muito peculiar - o que acontecia era que ele gostava muito de comer arroz e era daquele tipo que apronta uma batelada para a semana toda. Muita gente faz isso, mas geralmente são pessoas que moram em casas e possuem refrigeradores, sem os quais elas não seriam muito diferentes do Batman. Eu tenho quase certeza, aliás, de que conhecia a identidade secreta dele. Um rapaz que passou pelo ponto e falou um pouco comigo sobre estar precisando de trabalho, não ter lugar pra morar, ser pintor de interiores... Em que momento os pais dele foram assassinados pelo Jack Nicholson eu não sei, mas algum tempo depois o cavaleiro das trevas estava espalhando seu arroz podre pelas calçadas de Gotham.

Outra figura curiosa que eu só vi uma vez na região foi um sociólogo italiano que quase foi atropelado por cinco veículos, o meu incluso, em um período de segundos. Logo após a subida de um morro íngreme, você era pego de surpresa pela presença do pesquisador, que por sua vez parecia estar sendo pego de surpresa pela presença de uma lata, e provavelmente tenha ficado ali se surpreendendo com ela por mais meia hora depois que eu fui embora. Eu e meu amigo pensamos se tratar de um bêbado, mas ele não estava a beber da lata, estava a estudá-la com bastante parcimônia. Daí concluímos ser um sociólogo italiano conduzindo um experimento e, não tendo encontrado nenhuma falha nesta teoria, aceitamo-la.

E tinha também o louco da direção. Gente boa, tinha o carro mais ecológico do mundo, composto por um volante, um painel e algumas alavancas. Costumava andar pelas ruas, parar aos semáforos vermelhos, dar seta, pedir passagem, pegar aquela estradinha gostosa no final de semana rumo a Bertioga. Certa feita parou atrás do carro da minha ilustre progenitora e, revoltado pela imobilidade constante do veículo que obstruía seu caminho, aplicou-lhe uma volantada no vidro. Em defesa de mamãe, ela não podia mexer o carro pois estava estacionada em local permitido. Foi quando comecei a achar que esse meu amigo não andava lá essas coisas. Recentemente até conheci outros conhecidos dele e até aprendi seu nome, mas infelizmente minha memória não é lá essas coisas.

Por outro lado, se já conheci algumas boas figuras, fiquei de conhecer outras tantas. O cara do carro amarelo, por exemplo, que ficava na Paulista com seu Farus e seu cachorro empalhado, eu nunca vi. E agora que meu veículo foi estraçalhado é bem pouco provável que eu vá sucedê-lo. Uma pena, porque meu nome seria bem aliterável, teria boa força de mercado. Eu me tornaria o "velho do veículo vinho".

Gosto dos meus amigos. Devia comandar uma grande reunião, mas não sei se daria certo. Quer dizer... eu sei que a maioria deles iria, desde que eu conseguisse uma salsicha e uma cordinha, mas não tenho a certeza de que eles se dariam bem. Pra começar, O Sociólogo Italiano já tem nome de vilão, eu vou ter o Batman, que provavelmente vai querer tirar um racha de Batmóvel com o louco da direção, quando vão atropelar o Bob. Uau. Só visualizo merda acontecendo. Acho que eu estava meio pinel ao pensar em juntá-los todos.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Conversando Com Doois

Ao redor do caixão reforçado os parentes choravam e reclamavam sobre o quanto a vida é injusta e quão rapidamente ela acaba. Irônico, porque o conteúdo do caixão, Astolfinho, 225, havia sofrido um infarto fulminante aos trinta e dois anos, enquanto saboreava o terceiro leitão à pururuca do dia, e às portas da morte, ponderou sobre o quanto os leitões são injustos e quão rapidamente eles acabam.

Astolfinho chegou ao PURGATÓRIO – DIVIRTA-SE e lá ficou por muito tempo, papeando com Nietzsche e eventualmente sujando os cantinhos da sala, até ficar maluco de fome e começar a papear com os cantinhos e sujar Nietzsche, ganhando seu ingresso para o céu.

Sentou-se ao lado de um velho barbudo com cara de sábio e ficou lá parado. pensando em um lombo ao molho de laranjas. Isso durou algum tempo, até o velho quebrar o silêncio:

-E aí?

-Opa.

-Certo?

-Beleza.

Transcorreu uma quantidade de tempo bastante grande até o silêncio ser quebrado de novo. Segundo Astolfinho, tempo suficiente para preparar uma porção de bolinhos de bacalhau. E contando desde a pesca do peixe. O silêncio foi quebrado de novo:

-Aqui é o céu.

-É?

-É.

Mais um pato à califórnia de silêncio.

-E eu sou Deus.

-Legal.

Três costelas na brasa. Deus ficando impaciente.

-E aí, não vai falar nada?

-Olha, Deus, eu primeiro fiquei quieto por estar nervoso, depois eu imaginei que você não quisesse que eu ficasse te perturbando com falatório.

-Hum...

Deus pareceu pensativo por cerca de uma salada Waldorf e então disse:

-Então... você vai pro inferno.

-Hein?

-É, vai pro inferno. Daqui a pouco.

-Por quê, Deus?

-Capricho.

-Capricho? Eu nunca li Capricho.

-Não, panaca. Capricho meu. Você quebrou minha regra maior.

-Mas eu nunca roubei! Nunca matei! Nem cobicei a mulher do próximo!

-E daí? Desde que não seja eu o roubado, o morto ou o próximo, por que eu me importaria?

-Ué. E seus dez mandamentos, Senhor?

-Eu não escrevi aquilo, não. Pessoal adora ficar colocando meu nome nas coisas. Em 2132 tem e-mails circulando com meu nome, é um inferno. Quer dizer... não um inferno. Não como aquele para onde você vai. Usei como força de expressão.

Isso deixou Astolfinho mais nervoso:

-E por que eu vou para o inferno então, Deus? Porque cometi os sete pecados capitais?

-Filhote, se você quiser comer um cavalo inteiro, fazer sexo com um pedaço de um cavalo ou ter uma centena de cavalos, problema seu.

-Peraí, Deus. Quer dizer que você não se importa com nada? Nem se eu convocar demônios dos quintos dos infernos? Então não entendi. Por que vou ser punido?

-Bom, eu me importo, sim. E fiz questão de deixar bem claro que só uma coisa me deixa puto. E vocês sempre me ignoraram.

-Não entendo, senhor. O que é tão proibido?

-Manja Adão e Eva? Que eu expulsei do paraíso? Porra, capítulo um!

-Sim, senhor. Mas eu nunca confiei em nenhuma cobra! Nunca traí nenhuma ordem do Senhor – pelo menos não uma que me tivesse sido passada pessoalmente.

-Você comeu maçãs. Não pode comer maçãs.

-Maçãs? É isso? Porra, Deus, todo mundo come maçãs! Acho que não dá pra achar quem não tenha comido uma ou duas maçãs na vida.

-AAAAAAAARGH! PAREM DE COMER MINHAS MAÇÃS!

Assim, mais rápido que um Miojo, Deus, em sua raiva divina, babando feito um São Bernardo hidrofóbico que acabou de abocanhar um punhado de Cebion, esmurrou um botão e lá foi Astolfinho queimar no fogo do inferno como um suculento pedaço de cupim.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

---------------------

Eu acredito em duas coisas: que há uma luz no centro do universo irradiando paz e harmonia. E que a gente está fora de alcance.

sábado, 20 de setembro de 2008

---------------------

A coisa mais emocionante que eu já fiz foi ser extraído de dentro do útero de uma mulher pra ser estapeado por um mascarado coberto de sangue. Em comparação, todo o resto depois disso parece meio entediante.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Conversando Com Deeus

Estava rolando uma partida de polícia e ladrão de gente grande pela avenida com direito a tiroteio e um cara morreu. Esses fatos não foram tão diretamente conectados quanto alguém pode imaginar a princípio. Veja bem: o tiroteio assustou o cachorro de uma madame, o que a levou a mimar o bichinho e largar o chuveiro aberto. Isso drenou a caixa e fez a pressão da água do prédio ficar baixa, o que motivou a reclamação de um morador ao zelador, que não ficou nada motivado até sua falta de motivação motivar uma segunda reclamação ao síndico, que conseguiu motivá-lo por motivos óbvios. Então o zelador subiu no telhado e, como todo mundo sabe, daí a morrer é um pulo. Que, no caso do zelador, foi motivado por um pombo que caiu morto em sua cabeça, vítima de uma bala. A cabeça do zelador chegou ao pavimento no exato momento em que o guarda Borrabotas foi baleado.

Quase “tempo” nenhum depois, o zelador “acordou” em uma sala muito bem decorada, chique, cheia de quadros neoimpressionistas, mesas de madeira maciça em estilo barroco, uma bandeja de prata, talheres de prata, um candelabro de prata e a reencarnação de Nietzsche em um vaso de prata. Reemprateação, no caso. Um folheto de papel velho e carcomido pregado com uma tachinha enferrujada em um belíssimo quadro de Toulouse Lautrec dizia “PURGATÓRIO – DIVIRTA-SE”. Ao fundo, bem distante, a música Safety Dance se repetia infinitamente.

Muito confuso, o zelador ficou ali ponderando o que diabos deveria fazer até chegar à conclusão de que deveria ponderar sobre as coisas, o que odeixou muito contente por poder se gabar de não ter desperdiçado tempo algum, mesmo que imaginasse que tempo não seria algo exatamente escasso por ali. Ponderou sobre sua vida, sobre sua mortalidade, arrependeu-se levianamente de tudo que fez de errado e pensou estar pronto para o céu. Esperou mais um bocadinho, ponderou mais um bocadinho e chegou à conclusão de que, se não tinha ido ainda, é porque deveria ponderar mais. E foi o que fez.

Esse ciclo se repetiu até o zelador ficar ridiculamente entediado e cheio de dúvidas. Começou a considerar a hipótese de ficar preso ali para todo o sempre, sem uma revista pornográfica de prata sequer, o que o deixou levemente ansioso. Resolveu puxar um papinho com Nietzsche.

-Ei, Friedrich, o que é que a gente fica fazendo aqui?

-Sendo um vaso de prata vazio.

-Hum... deixa eu ver se entendi. É pra eu me livrar de todos os meus pensamentos e meus preconceitos, descarregar tudo que já aprendi na vida e me abrir a novas idéias e experiências divinas, que eu não poderia vivenciar enquanto ainda mantivesse resquícios do meu antigo eu moralista, que sou agora?

-Não, seu idiota. Eu fico sendo um vaso de prata vazio porque sou um vaso de prata vazio. Você fica sendo um idiota, porque é um idiota. Não me aporrinhe.

-Pô, você não foi muito útil. Vamos lá, eu estou confuso e perdido aqui. Ajude-me com um de seus pensamentos sábios.

-Tá. Imagine que você é apenas uma maçã no meio de milhares de outras maçãs.

-Ok.

-Pois você é a mais idiota de todas as maçãs! Não me aporrinhe!

Resignando à conversa por meio de um covarde consenso com as idéias expressas por seu interlocutor, o zelador sentou-se e ficou pensando lá com seus botões o porquê de ter talheres se não havia comida. Talvez não precisasse comer no purgatório. Essa linha de pensamento não combinava, contudo, com a fome que ele sentia. Seguindo um pouco pela corrente de pensamento do sistema digestório, logo reparou que a sala não tinha portas. O que quer dizer que não havia nenhuma saída para um banheiro. Isso era um pouco preocupante, porque o zelador tinha morrido num sábado às três da tarde, depois de ter devorado uma baita feijoada. Considerou o que fazer, numa batalha contra o relógio biológico, até chegar a uma conclusão que não deixou Nietzsche nada feliz. E, ao executar, sob protestos do outrora bigodudo balde, sua idéia, ascendeu ao céu.

Deu de cara com a figura de um velho pensativo. “Deus?”, perguntou.

-Que é?

-Deus, é você?

-Tanto faz.

-Tanto faz? É provavelmente a coisa mais importante que já aconteceu em toda a minha vida. Ou pós-vida. Eu preciso saber se é com Deus mesmo que eu estou falanzo.

-E se eu dissesse que sou? Você acreditaria? Podia ser o Belzeba mentindo.

-Bom... é...

-Então corta o papo. Se eu quisesse ficar ouvindo suas asneiras eu me apresentaria como uma orelha gigante, não como um velho sábio. O velho sábio fala, você ouve. O velho sábio fica quieto, você fica quieto.

-Mas Deus, tenho tantas perguntas. O sentido da vida, qual é? O que eu aprendi ou devia ter aprendido? Como e por quê o senhor criou o universo? Qual religião é a certa? E por que eu estou sozinho aqui com o senhor? Cadê os outros mortos? Fui o único digno?

-Olha, chega. Eu já te avisei e você me aporrinhou com a sua tagarelice, igual a todo o resto dos que já morreram. É por isso que eu estou sozinho e que você vai pro inferno, como todo o resto dos tagarelas.

-Mas Deus, espere! Você não me avisou das conseqüências.

-Dane-se. E eu mandei um barco, um helicóptero e Nietzsche em forma de balde.

-Quê?

-Foi uma piada.

-Foi uma piada? O que, bom Deus? Sua última frase? Sua zombaria de Nietzsche, ao fazê-lo receptáculo fecal? A forma como eu morri? A criação do universo?

-Bom... tudo isso.

E, com essas palavras e com o apertar de um botão, despachou rumo ao inferno o zelador.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Arte do Contrabaixo

Cifra do melô do extrato bancário (em dó maior):



Intro:

   C                      Dadd9                       F#6
Aí, pessoal, essa é pra quem ainda acha

P                                  K6-2 700MHz
A produção artístico-intelectual uma coisa desejável

            SSRI
E pro Chamburcy! Vambora!



                               C
Fui pro ponto de partida

               C/INSS
Recebi os meus duzentos

                               D
Minha carteira foi batida

               D
Começaram meus tormentos



                   C/B B
Juros e correção monetária



                               C
Achei no chão um real

               Dm
Comprei um saco de pão

                               C/D
Não paguei o meu cartão

               D
E meu nome foi pro pau



                   C/B B
Juros e correção monetária



                               D
Me flagrei apaixonado

               D
Essas coisas do cupido

                               D
Paguei ela com um cheque

               C
Que logo foi sustenido



                   D/B B
Juros e correção monetária

                   D/B B
Juros e correção monetária (x2)



                   D
Ô e o remédio do meu vô



                   D/B B
Juros e correção monetária (x4)

                   D/B B
Juros e correção monetária (x8)

etc



Eu faria uma caralhada de comentários. Até sobre como C ser paradoxalmente Dó e D ser Ré. Pô, D é que dá dó e se eu tiver que apelar à Ré, que seja por algum C. Mas vou deixar pra lá, já foi estrago demais por um dia.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

---------------------

O mundo é uma mesa de sinuca divina, o Big Bang foi a tacada inicial e nós somos como ácaros nas bolas (da mesa, não nas dos jogadores). Espero que estejamos perto da caçapa. Discuta.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Lira dos Vinte Anos

Isso vai ser chato:

Às vezes me impressiona a capacidade que as pessoas têm de pensar no automático e o quanto elas parecem gostar disso. Ninguém parece gostar hoje de ser surpreendido ou chocado, a menos que estejam devidamente preparados, o que mata um pouco do propósito do choque. Essa é uma das principais razões do famoso (e aqui vai mais um termo clichê que eu espero que me renda boas buscas no Google) declínio da civilização ocidental. Parece que todo mundo tem noções preconceituosas, e eu não me refiro à discriminação de negros, brancos ou integrantes do Blue Man Group. Falo da falta total de lógica, de responsabilidade social e de inteligência.

Um amigo meu, certa feita, entrou em duas faculdades e optou por cursar uma em detrimento da outra. Em vez de cancelar a própria matrícula, no entanto, ele nem se preocupou – o sistema tratou de excluí-lo. Seis meses depois de ele estar ocupando uma vaga sem dar as caras pelo campus. Veja só: ele tirou, para sempre, o futuro de um pequeno economistinha. Mesmo que esse economistinha consiga entrar no ano que vem, o próximo economistinha vai perder a vaga, e assim por diante. Foi um ato vil e irresponsável que, levando-se em conta o quão importante é para um vestibulando (ou pelo menos para os que têm chances de passar pela seleção de uma universidade pública como a que o meu estimado amigo sabotou) o ingresso em uma faculdade nesse nosso sistema pseudointelectocêntrico (bonito, né?), tem grandes chances de ter arruinado a vida inteira de um imbecil. Chamo de imbecil por ser alguém que dá valor excessivo a esse tipo de coisa – e vamos admitir que todo moleque ou moleca de dezoito a vinte anos é imbecil.

Vamos lá: estudo é bom. As crianças devem estar na escola e cada um de nós tem que batalhar para ter um grau de instrução cada vez maior, certo? Esse é o (mais uma palavra-chave chavão) paradigma. Só que é um modo babaca de pensar. O mercado está sobrecarregado de economistas, por exemplo, então socialmente o que meu amigo fez foi tão somente prevenir a criação de uma peça redundante e sem função do maquinário. Para uma imagem mais nojenta, ele retardou insignificantemente o crescimento de uma gigantesca espinha, uma bola de pus nojenta que cedo ou tarde vai estourar. Para uma imagem ainda mais nojenta, pense no quadro original, só que com advogados em vez de economistas. Ha ha.

Esse simples outro modo de pensar nas coisas é resistido a extremos por toda sorte de indivíduos. Mesmo os mais intelectualizados sociólogos teóricos acadêmicos que cheguem a admitir essa filosofia são, via de regra, incapazes ou indispostos a aplicá-la em suas vidas “práticas”, por assim dizer. Existe uma grande diferenciação entre o que se admite como pensamento e as idéias nas quais se baseiam as ações. O que é uma forma menos ofensiva de dizer que esta merda de lugar anda coalhada de hipócritas.

Um exemplo bacana é a galera que lê romances espíritas e fala em cristo, em deus e no caralho. Não é exatamente uma regra, mas minha experiência pessoal é de que quanto mais pentelho se é com essas coisas, mais se é rabugento, irascível ou ladino. Pra não dizer chato, lógico. Não é nenhum ataque específico a qualquer religião, é só uma demonstração de palhaçada. Se você acredita que o mais importante é justamente o seu comportamento aqui para ser avaliado no pós-vida ou que o que vale aqui é compaixão e piedade, por que diabos você é uma pessoa horrível? (Você é.) É impossível você considerar algo como sendo a coisa mais importante na existência e não se devotar a ela completamente. E é impossível nos devotarmos completamente a princípios tão simples quanto boa vontade, não-agressão, compreensão e fracassarmos miseravelmente. O que explica nosso ar vil diante dessas crenças é muito simples: não são crenças verdadeiras. São a máscara mais socialmente aceitãvel que a gente adota no automático. É um certo mecanismo de sobrevivência do tipo estriado cardíaco e é muito eficiente.

Outro dia eu estava a racionalizar minha tendência a continuar desempregado e passei por um pensamento muito interessante: socialmente, é melhor para mim, bem como para centenas de outras pessoas, para todos os meus amigos, que contiemos desempregados. Raríssimos são os meus amigos que não poderiam ser sustentados pelos pais se fossem vagabundos de marca maior. O que eles estão fazendo é justamente tirar a vaga empregatícia de alguém que realmente precisa dela para sobreviver. O que todo cidadão jovem de classe média ou alta faz é brincar de casinha com recursos sociais que estariam muito mais bem alocados na mão de outra pessoa. Pior ainda para quem tem dois ou três empregos em começo de carreira – é um Robin Hood ensandecido, às avessas.

É um raciocínio que valoriza o ócio e defende a inatividade, sim, e vai contra a velha ladainha de que trabalho dignifica o homem. E eu garanto que eu perdi toda a credulidade que você poderia estar dedicando a mim com o parágrafo anterior. Especialmente se você trabalha, porque trabalhar geralmente é ruim, chato, feito unicamente para se ganhar dinheiro e com as justificativas de que é necessário, bom para o caráter, de que é o curso da vida. Mas não é nada disso. Pelo contrário, trabalho é ruim para o caráter, geralmente, porque é uma fonte de estresse e te deixa muito menos disposto a ser tolerante e a resolver seus problemas com dignidade, calma, parcimônia e várias outras coisas que você deve considerar boas. É também desnecessário para grande parte das pessoas, em vários pontos da vida, mas nem por isso elas largam o emprego ou passam a trabalhar menos. Então são todos usurpadores gananciosos.

Não que haja outra forma de sobreviver seguramente hoje em dia, veja bem. Por mais falho que seja o sistema, querer sair dele de sopetão e virar um hippie doidão, um amish maluco ou alguma variante assim não é tão viável. Em mais de noventa por cento dos casos em vez de hippie doidão você vai ser é mendigo, mesmo, e a vida de um mendigo geralmente é tida como não muito legal. Quer dizer... exceto por alguns deles. Tem um por aqui que às vezes está muito feliz. Especialmente quando está discursando sobre geografia, sociologia ou qualquer coisa desse naipe. De qualquer forma, como existe essa tomada de empregos por gente que não precisa deles, gente que acumula riqueza desnecessariamente, fica difícil você jogar for a um emprego quando não precisa dele. Grandes são suas chances de não conseguir outro quando precisar e acabar dando palestras sobre geografia em praça pública.

Para ajudar restaurar a ordem das coisas, se você tem grana, pode fazer duas coisas bastante simples: queimar toda a sua reserva financeira, restituindo o dinheiro que você acumulou à população em geral. Isso dá maiores chances à favorável distribuição de renda. Se quiser ser ainda mais seletivo, distribua você mesmo sua renda selecionando criteriosamente o que vai comprar. Calcule o gasto de modo a encerrar sua vida zerado, falido. A próxima pergunta é “e meus filhos, deixo para se foderem?”. Claro que não. Essa é a parte mais legal: você não vai ter filhos. Que tal? Em primeiro lugar, a gente já tem seis bilhões de pessoas. Um quinto sendo de chineses. Você tem dois motivos para não ter filhos, então. Primeiro porque ele tem uma chance em cinco de ser chinês, o que tem dezesseis chances em vinte e cinco de acabar com o seu casamento. Outra é porque a cada nascimento as coisas pioram. É mais um infeliz para alimentar, trabalhar e ser miserável. Veja o seguinte exemplo: a China é loucura! Um péssimo IDH. Já no canadá, lugar muito mal povoado, a vida é bastante boa. Não que só a quantidade de pessoas seja um diferencial nesses dois casos, lógico. Existe também a questão de PIB, entre outras coisas. Etão pegue os EUA como exemplo e compare ao Canadá. Uma porcaria, embora sejam podres de ricos em termos de superávit. De novo: não é tão simples, mas ambém não é coincidência de que os países onde a vida é considerada melhor, mais estável, mais organizada e mais civilizada tenham menos pessoas por metro quadrado que nos restantes.

Lógico que geralmente se tem fixa a idéia de ter um filho. Já está impressa no cérebro a rota da vida e ela passa pela procriação. Porque filhos são legais. Porque é uma experiência emocionante. Porque são o futuro. Porque são a continuidade do seu trabalho. Insira aqui sua ladainha favorita. No fundo, no fundo, você tem duas razões para ter filhos: em primeiro lugar, porque é carente. Precisa de alguém que seja mais carente para se sentir útil e poderoso, e filhos cumprem muito bem esse papel. Pelo menos enquanto estão vomitando em você; depois que chegam à adolescência e começam a vomitar pelas ruas e bares, aí só vão te dar dor de cabeça. De qualquer forma, lide você com a sua carência. Que merda de pai/mãe você vai acabar sendo se é incapaz de viver sem precisar do apoio psicológico de uma bolinha que caga e vomita em intervalos regulares? Em segundo lugar, você quer um filho para ter a quem passar suas posses e aspirações. Você vai morrer e apodrecer sete palmos debaixo da terra, e passar seu código genético e seus bens adiante não vai mudar isso. Ou pelo menos eu espero que não. Os dados estatísticos oficiais, pelo menos, dizem que o único malucão que voltou da morte não tinha deixado nenhum descendente, Dan Brown diga o que disser. Então tudo que você tiver acumulado vai ser inútil para você, sim. Criar um fim para o seu acúmulo irracional de tranqueiras é patético e triste, seu pulha.

Ah, vale espernear, dizer que eu sou um vagabundo louco, imoral, palhaço, o que for. Só não vale, como de praxe, pegar tonto e apelar na magia. Mas eu espero que você não possa negar logicamente a veracidade do que eu escrevi, caso contrário eu vou ter perdido meu preciosíssimo tempo de não-labutante. Ah, em uma última defesa, que aliás eu já fiz alhures, quem acha que a retirada de um punhado de pessoas faria estrago no sistema produtivo está redondamente enganado. Os ociosos têm muito mais valor do que se imagina em termos de produtividade. Eu mesmo podia estar roubando, podia estar matando, podia estar trabalhando, mas em vez disso estou aqui, não ganhando um tostão sequer pra despejar minha verbosidade preciosa. Ou pelo menos acho que estou. Posso estar no canto de um manicômio batendo minha cabeça contra a parede e imaginando estar aqui digitando desenfreadamente ao som de Bananarama. Se estou ou não ou se isso é recomendável para mim ou não e, sendo, se pelo conteúdo do texto ou pela voluntária exposição a conteúdo bananarâmico, são outros quinhentos.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Bodega e Tempero Ofegoso

Está acontecendo na cidade o Restaurant Week. Pra quem não sabe inglês, uma tradução livre seria "cozinha pretensiosa a preços acessíveis". Basicamente é uma promoção dos lugares pseudochiques, que vão vender pratos a vinte e cinco reais em vez dos costumeiros preços abusivos até o fim do mês. Chamo de "pseudochiques" porque é aquele lugar que é majoritariamente freqüentado pelos publicitários, designers e demais "artistas" e "profissionais liberais" - o lugar que não é nada de especial, mas como é caro, ganha status de "indie", "cult" ou "hip".

Pau no cu à parte, a promoção é até bacana, só tem duas sacadas: em primeiro lugar, espere pedir um copo de suco e pagar aqueles dez reaizinhos de costume. É impressionante como o truque desses lugares chiques e o dos botecões ralés é o mesmo. Manja aquelas paradas de caminhoneiros que dizem "almoce por dois real" e cobram cincão na Coca-Cola? Se não manjam, seus prebói de merda, experimentem um dia. Até porque os pratos servidos são os mesmos que nesses troços chiques.

Aí vem a segunda sacada: eu paguei vinte e cinco paus por um picadinho com batata. Verdade seja dita, era um excelente picadinho com batata, até melhor que o da padoca que fica aqui embaixo e cobra cinco e cinqüenta. Por outro lado aqui no boteco eu não passo mal, e nesse troço chique eu acabei por jorrar meu almoço pra fora do meu sistema digestório. Não vou dizer por que lado porque prefiro deixar à imaginação de vocês.

Eu fiquei tentando analisar a causa do meu... mal-estar, digamos, mas ainda não sei se foi a ausência das proteínas de barata às quais o meu corpo já se acostumou (é, estômago de pobre é fogo) ou se foi o fato de comer enquanto minhas estranhas se contorciam duplamente - fisicamente, tentando pronunciar "boeuf bourguignon", e moralmente, por ter que chamar um picadinho com (meia!!!) batata por esse nome esdrúxulo.

Ah, rola uma caixinha pro Ação Criança, também, para a qual eles pedem um real. Se você quiser, pode dar, mas antes que resolva se sentir bem por isso, saiba que, se você fosse uma pessoa legal mesmo, ia comer no Bom Prato por um real e dar os vinte e cinco pras criancinhas famintas/friorentas/que precisam de um upgrade no PC, seu hipócrita de merda.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Bo or Cock?

Só um adendo à última postagem:

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Facho Dos Sem Bedelho

Nada como uma boa noite de insônia para a gente se recuperar da dormilança de todos os dias, certo? Pois dia destes me peguei acordado às três da manhã e sem muitas opções de entretenimento. Meus livros estavam todos quebrados, então, como qualquer pessoa saudável, comecei a fuçar pela TV até achar um programa que alcançasse meus altos padrões de qualidade. O escolhido foi O Incrível Hulk. A série. Excelente e eu não tinha do que me queixar, mas ainda assim mantive-me à procura de algo melhor pela grade de programação, rolando-a a cada decepção com o seriado.

Num dado momento X, Bruce Banner (pros neófitos: esse é o Hulk) estava todo amarrado, dentro de um carro que estava sendo jogado em um compressor de lixo. Esse Bruce deve mesmo ser um cara muito zen, porque não parecia nervoso frente à própria morte. Isso eu deduzo por ele não ter virado o Hulk, não pela expressão facial, que era um misto de "peguei minha mulher transando com meu amigo" e "aquele bolinho devia estar estragado". Talvez ele tenha ficado tranqüilo por saber que ia virar o Hulk. O que é ridiculamente contraproducente. Hora de dar uma olhada no que mais está passando por aí.

Tem um aqui que parece bom. "De Olhos Bem Fechados" é um filme que eu nunca vi. Mas olhando mais de perto, opa; eu me enganei. É "De Olhos Bem Puxados". "2". E não parece uma comédia romântica.



Oba. Brincadeirinha com título de desenho infantil. Adoro desses. E estou começando a notar um padrão aqui. Sexo hard deve ser bom mesmo, todo mundo anda fazendo.

Voltando ao Hulk, ele começa a ficar verde. Bacana, já era hora. Enquanto isso, o lacaio bigodudo do vilão aciona o mecanismo esmagador de carros. E a tela mostra um instrumento. Muito bacana, porque eu não tenho idéia do que seja. Parece um velocímetro. E talvez seja um medidor de pressão. Mas eu deveria ficar amedrointado? "Oh, Deus, esse compactador de lixo tem 2000!" Mas 2000 de que? Newtons? Psi? Gramas? Se for pra colocar só um medidor de sabe-se lá o que, coloque-o mostrando mais de 9000, pelo menos. Vamos dar um giro pelos outros canais.



Refazendo Gostoso até parece ter uma boa premissa, mas Homens Trabalhando, além de um título mais legal, tem uma divertida chamada em "eles têm seus instrumentos sempre prontos".

Belezura, a esta altura o Hulk já ficou verde e está arrancando a capota do carro. Menção obrigatória às calças brancas muito apertadas em vez do short roxo de sempre. Eu me senti incomodado com aquela bunda verde muito apertada. Aliás, aí uma teoria para a raiva do Hulk: ele nunca rasga as calças, só incha nelas. As bolas dele devem ficar espremidíssimas. Quem não ficaria puto? Grade de programação.


Uhu! Mãos ao alto e membros também! "Fill Don't Spill 4" me deixa meio consternado. Será que todos os pornôs precisam mesmo chamar suas estrelas de "vadias"? Eu não trabalharia num ambiente desses. É assédio.

Legal, o Hulk subiu na capota do carro e parou o compressor, que atingiu 3000! Ooooh! Olha que legal: o Hulk voa. Ele subiu no carro pra segurar o compressor e o carro não está ficando amassado. Quer dizer que o (peso do Hulk)+(força do compactador)<(força do compactador). Será que o que deixa o Hulk inchado é gás hélio? Saco.



Addictd to Boobs 4 já é muito mais respeitoso, veja só. "Mamas". Eu imagino como seria se a descrição fosse sempre assim. "Veja deliciosas e ininterruptas inserções peniano-vaginais que vão te deixar louco!" "Come On In 4" ficou borrado porque eu ri. Mas é "com essas sacanas não tem cerimônia: é só bater e ir entrando". Poético.

Hulk está sendo vencido pelo grande instrumento metálico. Tem mais um refém no carro. Tudo parece perdido. Mas o que é que ele faz? Livra uma das mãos, desamarra o maluco, joga-o pra fora do carro (com muito pouca força, diga-se de passagem) e sai, dando uma cambalhota. Porra, Hulk, com dois braços tava difícil, com um não faz diferença? Quem é você? Lincoln Falcão? Droga, Hulk!



Aqui dois roteiros muito interessantes que falam por si. Se por um lado eu não consigo entender como o príncipe Distol pode proteger sua irmã do mal trepando com outra princesa, por outro eu entendo perfeitamente o porquê de o soldado "precisar tanto de sua arma".

O gigante esmeralda corre em direção aos vilões e ao capanga bigodudo, que tira uma arma da cinta. Mas não tem tempo de atirar, porque ela é rapidamente amassada pelas mãos do cara forte verde que percorreu muito espaço em pouco tempo e pareceu meio afoito para neutralizar a arma. Acho que confundiram. O Hulk não era invulnerável e lerdo? Tive a impressão de estar vendo The Flash. Que, aliás, era um seriado melhor. Tsc.



Whore Gaggers! Um pirulitão! Eu só não entendo como esse seria um novo gênero adulto. Sei lá, mas não parece muito diferente dos outros. Juggernauts é o que mais me perturba. "É tão simples como a teoria da relatividade". Será que Einstein era uma mula por ter tido tantos problemas com algo tão simples? Pensando bem, na verdade, ele devia ser um imbecil, mesmo, porque ele não tinha cara de quem sequer reparava em peitões - provavelmente motivo de ele ter se embasbacado com constantes cosmológicas quando a resposta estava tão à mostra num decote próximo. Ah, esses cientistas...

Ok, o Hulk ia esmagar os vilões, mas chegou a polícia e ele fugiu. O Hulk. Fugindo de duas viaturas da polícia. O que é que eles iam fazer? Atirar? Fazer uma dancinha mal coreografada? Hulk esmaga! Talvez ele só ache o barulho da sirene estressante. Mesmo assim, não podia ter parado um segundo, pra dar um soquinho, arrancar uma cabecinha? Ia fazer tanta diferença assim? Estou decepcionado, Hulk. Você só tem feito merda, nesses últimos trinta anos.


Robocock. E esse é um dos meus favotiros. Ok, a alusão a Robocop todo mundo percebeu. Mas a segunda, mais velada, a Soldado Universal, é que torna esse texto uma obra-prima das sinopses pornôs. E já que é com o Arnold, não podiam aproveitar pra fazer alguma piadinha com Exterminador do Futuro? Ou estão salvando essa pro crossover de Robocock e Refazendo Gostoso?

P.S.: Ao rapaz que procurou por "o'que é que da na garganta que pode causar bolinhas e doi e parece que tem algo pendurado" - bicho, vai ao médico. Que nojento.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

---------------------

Muita gente diz que é estupidez matar um urso para usá-lo como casaco, mas particularmente eu acho mais estúpido tentar usá-lo ainda vivo.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Silva Segundo

Aqui eu separei alguns vídeos interessantes que todo mundo (que é vagabundo e portanto tem tempo) deveria ver. Em primeiro lugar, se você acha que essa lista não deve ser levada a sério, favor ver este vídeo em primeiro lugar, para entender que a internet é um negócio sério:

Título: INTERNET – SERIOUS BUSINESS
Contém: gente gorda, musicalidade, sotaque estrangeiro
Vídeo muito bom. Especialmente se você perceber que é uma resposta a uma mini-discussão por vídeos do Youtube. Na minha opinião, a melhor coisa que podia ser dita. Mesmo que por um gordo.

Título: PROCRASTINATION
Contém: animação, behaviorismo, tetris
Provavelmente o motivo de você estar lendo isto aqui. Certamente o motivo de eu estar escrevendo.

Título: HATTEN ÄR DIN
Contém: chapéus, cola no presunto, LP
Um verdadeiro clássico. Qualquer um com mais de dez anos de internet deve ter visto esta maravilha enquanto ainda era uma das primeiras animações em FLASH. Tempos de bate-papo UOL, mesmo. É debatível se fica mais engraçado se você entender sueco. Veja bem: é uma música “árabe” (não se é árabe mesmo e não quero ser racista generalizando, ams é uma dessas nações de terroristas) que faz (pouco) sentido em sueco. Eu não entendo árabe nem sueco e não tinha idéia do que estava acontecendo – pra mim podia ser o clipe oficial da música. Isso não me impediu de adorar este vídeo.

Título: O CARA TUSSIU
Contém: Jaspion, Daileon, pênis robótico zooófilo
Para quem teve problemas entendendo o conceito de Hatten, aqui vai um bom exemplo em português. Excelente qualidade de animações.

Título: ALL YOUR BASE ARE BELONG TO US
Contém: All Your Base
What you say!!

Título: CHAD VADER – DAY SHIFT MANAGER
Contém: Vader, supermercado
É uma série de vídeos, na realidade. este é o link pro primeiro. Estrelando o irmão do Darth Vader trabalhando em um supermercado. Como diabos eles gravaram isso sem gastar muita, muita grana eu não sei.

Título: BATMAN – DEAD END
Contém: Batman, aliens, predador
Eu não consigo explicar o que acontece nesse vídeo melhor que isso: “Contém: Batman, aliens, predador”. Este gastaram, sim, uma baita grana pra fazer. E ficou um excelente trabalho. Está com legendas pros n00bz0rz em inglês, mas sem elas dá pra curtir melhor a fotografia (papo de viado, eu sei).

Título: GRAJEDI
Contém: jedi, PÃÃÃÃ
Pepa Filmes, absolutos e indisputados reis dos trash nos primórdios da internet, lá pelo período em que o que tinha de mais legal pra se gastar as dez horas mensais do provedor era o chat do UOL. Grajedi é bom, mas é bem mais fraco que, por exemplo, O Shaolin.

Dá saudade.