quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Blasfemar o Torso

Eu vou falar sobre motos, mas se você não se interessar pelo tema talvez possa traçar algum paralelo com outro assunto qualquer.

Em primeiro lugar você tem que escolher o que você quer. Existem diversos tipos no mercado e a escolha do modelo errado pode trazer problemas. Vamos passar, uma a uma, pelos tipos e suas características:

Existem as mais belas do mundo, as esguias italianas, que são uma delícia para se montar e muito melhores ainda para se ter ao lado em uma foto ou roda de amigos. O problema é que elas costumam ser muito, muito caras de se manter. Qualquer probleminha vai te dar uma baita canseira pra reparar e, se der alguma coisa mais séria, não adianta nem tentar procurar uma assistência – já era. Melhor encostar num canto e tentar arrumar outra. Dá pra tentar ignorar os perigos e continuar montando, mas é provável que, nesse caso, ela vá embora, arrancando seu couro e te deixando quebrado no processo.

Muito parecidas são as que têm o mesmo porte das italianas mas vêm de outros lugares. Até do Japão, da coréia e daqui mesmo do Brasil. São incrivelmente semelhantes às italianas em beleza e você vai pirar nas curvas inacreditáveis. A única coisa em que perdem é que não são tão impressionantes por existirem em maior número – uma estrangeira de Milão é muito mais impressionante que uma aqui de Manaus. Ainda assim, são excelentes exemplares e quem não é muito entendido nem nota essas sutilezas. Um pouco menos caras e difíceis de se manter, mas ainda a anos-luz da realidade da maioria das pessoas do mundo.

Se por um lado essas são charmosas, impressionantes e de desempenho excelente, por outro montar nelas é muito cansativo e elas são perigosas, porque praticamente pedem pra você sentar a mão sem dó e numa dessas sua vida e sua liberdade podem ir pelo ralo. Se você quiser mais conforto, pode pegar uma dessas baixinhas e pesadas. Não parece uma boa idéia, eu sei, mas em primeiro lugar, dá pra montar nelas por horas sem ficar cansado. São muito mais econômicas, fáceis de se modificar ao seu gosto e geralmente, no caso das que têm mais de 200kg, você nem precisa cuidar da relação nem checar se ela anda bem lubrificada como seria de praxe; é pegar, fazer o que quiser e deixar encostada na garagem pra quando quiser usar mais tarde. E toda vez ela vai te servir muito bem. Outro ponto interessante é que ninguém parece querer roubá-las.

Se quiser economia extrema, no entanto, sua melhor jogada é pegar uma dessas que andam por aí aos montes e não têm nada de especial – servem pra se montar e passear, mas não é o que você apresentaria pros amigos com um sorriso no rosto (a menos que seja a sua primeira). Requerem alguma manutenção, mas você pode muito bem seguir o exemplo de uma parcela da população e usar sem dó, não dar muita atenção ao que ela pede e trocar quando estiver dando muita dor de cabeça, porque é fácil de se substituir. Aliás é provavelmente o certo a se fazer, porque como em todos os modelos, quanto melhor você tratar, mais chances tem de um marginal qualquer tomar de você.

Outro é o tipo bem feio mas muito prático, daquelas que te levam pela lama e pela buraqueira (que é o que você mais vai encontrar por aí, especialmente vivendo num país de terceiro mundo) sem reclamar. Não têm nada de impressionante em matéria de curvas – aliás são bem ruinzinhas. E também não são as mais econômicas. Acho que essas duas características explicam a baixa popularidade do modelo. O que salva é o conforto, que costuma ser grande, mas requer algum costume e a falta de preconceito com a aparência decididamente pouco formosa. Ah, e se você pegar um bom embalo, vão vibrar bastante.

O que vale para todas elas são alguns conselhos básicos: tenha cuidado quando for pegar uma usada – já vêm com vários defeitos, vícios e gambiarras que você não conhece e vai ficar um tempão arrumando. Às vezes compensa pegar uma bem antiga, porque não são muito exigentes em termos de cuidados e são fáceis de se ter. Por outro lado são difíceis de repassar e apresentam já um desgaste bastante acentuado. Não tente fazer o seu modelo beber menos que o que for natural dele, porque isso pode se reverter em problemas muito mais sérios.

É isso aí. Você já sabe de tudo que precisa pra adquirir a sua. Eu só acrescentaria que tem muita gente prática, que pega e já fica pensando no repasse, e tem muita gente mais romântica que pega pra casar, mesmo, sem se importar com quanto dinheiro vai pelo ralo. No fim das contas de ambas as formas perde-se bastante grana. Só compensa ser prático se você gostar de variedade e não quiser ter os típicos problemas que vêm naturalmente com o tempo.

4 comentários:

Nalí disse...

Muito instrutivo, gostei.
Eu gostaria muito de ter uma moto, mas sem a parte de pirar nas curvas. Ou em ladeiras.

Vinhote Que Rusga disse...

Instrutivo? Saco. Eu estava tentando ser misógino e cínico. Preciso aprender a dosar minha sutileza cavalar.

Anônimo disse...

Nossa, mas é um paralelo perfeito com a arte de fazer bolos.

Mono disse...

É comigo?? é comigo, que você tá falando, porra??

Ah.. ah bom.. é que achei que fosse comigo. Pode continuar.