quinta-feira, 2 de abril de 2009

Auto Dum Niilismo Dadá

Dia Internacional do Autismo é algo tão fantasticamente engraçado que me deixa sem palavras. Em primeiro lugar porque ele se baseia naquele conceito bacana de que é legal se importar por um dia com alguma coisa que não afete sua vida diretamente. Talvez você doe um dinheirinho pra se sentir socialmente responsável e uma boa pessoa. E depois passe a esquecer completamente o assunto, esperando sem ansiedade pelo próximo dia de alguma disfunção. Em si e só, isso já é bastante curioso.

Alguns argumentos podem ser feitos e não sem boas doses de verdade: o dinheirinho que você doa realmente ajuda, mesmo que você seja um babaca hipócrita. E conscientizar a população sobre um problema tem o potencial de melhorar a vida dos portadores, mesmo que marginalmente. Não ter que ficar incessantemente explicando os detalhes do tipo de câncer, por exemplo. Afinal todo mundo já vai saber alguma coisa a respeito e não vai precisar ficar perguntando o que é para fingir interesse.

Neste caso em específico, no entanto, o legal é que o dia é originalmente o “World Autism Awareness Day”. Então eles não querem dinheiro. Eles querem só que vocês percebam que existem autistas. E é onde a coisa fica legal. Em primeiro lugar, existe a escolha de mau gosto da palavra “awareness”. Sério, qualé? É algo como fazer um triatlo em prol dos aleijados (e depois jogar maçãs neles). É quase cruel. “Ei, seus estúpidos, vejam como é que se percebe as coisas! Olha só! Olha aqui como eu percebo vocês! Hahaha! Tomem essas, seus autistas imundos!”. Como deveria ser de conhecimento público, no entanto, “quase” é uma negativa. E essa crueldade do cruelando não chega ao cruelado porque autistas simplesmente não se importam com o que diabos você pensa. Eles são provavelmente as únicas pessoas do mundo que estão cagando pro que você pensa.

Veja bem: foda-se você se estiver zombando de um autista ou se não entender a condição dele. Ele está ocupado demais desenhando círculos com giz de cera na própria perna para sequer notar sua existência. Os únicos jeitos que eu conheço de incomodar um autista são roubar seus pertences ou enchê-lo de tabefes, mas eu conduzi experimentos que parecem mostrar que isso também incomoda não-autistas, então eu acabo não vendo vantagem nenhuma.

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