terça-feira, 13 de julho de 2010

Almejo Cu, Viu, Ovo Canalha?

-E eu posso jogar for a o frango?
-Pode. Já deve estar azedo, mesmo.
-Ok. Eu... ah, está azedo, mesmo. Pronto. E então, algo interessante no seu dia?
-Não. Mesma porcaria de sempre.
-A Patrícia não te amolou hoje?
-Amolou. Igual a todos os dias. Hoje foi por causa de umas molduras que estavam...
-Alguém arregaçou sua bunda na tesouraria?
-Como é que é?
-Sua bunda. Perguntei se alguém a arregaçou. Na tesouraria.
-Você é louco de falar assim comigo, Carlos?
-Para você, aparentemente, sim. E eu não sei por que motivo. Me parece uma pergunta simples. Eu, que sou seu marido, tenho privilégios exclusivos quanto à sua bunda. Me parece normal inquirir a respeito deles.
-Merda, Carlos. Vem você com as suas loucuras de novo. Depois me pergunta porquê de nós não fazermos mais sexo.
-Correção: eu não pergunto. Você é quem freqüentemente enumera os motivos, quando eu tento alguma coisa.
-É lógico. Porra, é lógico. Não tenho tido tesão por você, Carlos. Você anda largado, não me trata como devia.
-Ah. E como eu deveria tratá-la, Maria? Por favor, diga-me.
-Com mais respeito, Carlos. Com mais carinho. E podia se tratar com mais respeito, também. Você está estagnado, sem motivação profissional, sem cobiça.
-Entendo. Eu imagino que seu amante te trate melhor.
-Oi?
-Eu interceptei esta carta, endereçada a você. Ela faz diversas referências a um caso que você está tendo.
-Você abriu minha correspondência?
-Indignação seria aplicável caso não fosse uma carta relativa a uma relação extraconjugal, eu imagino, não? Pois bem... este senhor te trata com mais respeito?
-Se você quer saber, sim. Trata, sim, Carlos. Melhor do que você. Ele não me trata como uma posse qualquer, me conquista todos os dias.
-Ahã. Infelizmente você não leu a carta. Ela veio em forma de rap, contando a vida de vocês.
-Me deixa ver isso.
-Melhor ainda, vou ler pra você. Na terceira estrofe:
Meu trabalho é minha sina, tenho que ganhar dinheiro
Sua xota é a razão de eu não gastar tudo em puteiro
Se quero uma noite boa, eu ligo pra você
Não é lá essas coisas, mas melhor que ver TV

Chame-me de louco, mas não parece lá tão respeitoso.
-Tsc. Você não entende, Carlos. Ele se expressa mal, mas o MC Jebão me trata com carinho. Carinho que você nunca expressou. E isso é muito importante para uma mulher.
-Bom... esse tipo de carinho, com certeza, eu não me lembro de ter expressado. Aqui no fim da página:
Varre minha casa, faz a minha feira
Te levo pra o canto onde você deixou a sujeira
Te chamo de rampeira, te passo uma rasteira,
Arregaço sua bunda, sua cara na poeira

O ponto positivo de eu ler essas coisas é que te acho menos estabanada. Eu realmente acreditava que você vivia batendo o rosto na quina do armário da cozinha. Até mesmo quando você chegava da rua já assim, o que me devia ter chamado a atenção.
-Tá, ele é bruto, mas é o jeito dele. Além disso, ele se estressa muito no trabalho, porque é um homem motivado, profissionalmente empreendedor, não um sem rumo, como você, que se acostumou ao seu empreguinho. Uma mulher se sente bem
-Motivado profissionalmente? Ele é um rapper da periferia.
-Não é só isso que ele é, ok? Ele é uma boa pessoa, sustenta sozinho a mulher e os quatro filhos.
-Sim, eu sei até como. Está aqui, na página sete:
Quando mato vagabundo que não paga minha droga
Penso como é gostoso quando a gente namora
Sua bunda é minha lua, a luz dela me ilumina
Quero comer ela crua enquanto conduzo a chacina

O que me deixa mais triste, nisso tudo, eu confesso, Maria, é ele rimar “droga” com “namora”. Mas em segundo lugar vem você estar dando pra uma chaga social da periferia.
-”Chaga social”? Olha você com seu preconceito. Ele realmente é o gerente supervisor local da área de venda de entorpecentes, sim, mas nem por isso deixa de ser uma pessoa culta e interessante.
-Ah, sim. Dois quilos de páginas em rap, quase uma Ilíada, e a única referência a algo culto que eu vi foi no começo do terceiro capítulo:
Dentro da biblioteca, mão nesse pau
Bateu vontade de xereca e você se deu mal
Em rota pra sua xota na seção de ficção
Você foi a minha mina, eu fui seu rei Salamão

-Tá, não é desse tipo de cultura que eu estou falando. Ele é culto no sentido espiritual, bondoso e temente a deus.
-Olha, não é... ah, não vou nem argumentar. Cadê aquela passagem...? Aqui. MC Jebão, 2:28:
Você diz pro seu marido que está indo à romaria
E eu falo pro meu pau “hoje é dia de Maria”
Quando eu te como na igreja é durante o sermão
De joelhos você louva minha ejaculação

-...pelo menos ele não é um homem de meia-idade, já...
-Veio uma foto em anexo.
-...deixa pra lá.
-Pronto? É só isso?
-O que mais você quer que eu diga, Carlos?
-Que você vai terminar tudo com esse cara e jamais falar com ele de novo.
-É? Você não vai me largar, mesmo depois de eu ter te feito passar por essa humilhação?
-Hã? É claro que vou.
-Então que diferença faz se eu continuo com o Jebão ou não?
-Bom... eu fui tirar satisfações com ele, pessoalmente. A gente discutiu um pouco, fumou unzinho... ele tem um certo charme, né? E eu só quero você fora das nossas vidas.

4 comentários:

João do caminhão disse...

Me pergunto por quanto tempo você ficou bolando o rap. A parte da mina do rei Salomão ficou muito boa! E que final! Você é maluco!

Vinhote Que Rusga disse...

O final é previsível. Alguém como MC Jebão não é do tipo que uma mulher deixa passar - nem se ela for homem.

Luzielle da conveniência do posto disse...

Veja o dono deste blog, por exemplo.

Vinhote Que Rusga disse...

Não sei disso não, sou só o caseiro daqui.