terça-feira, 27 de novembro de 2007

Molhe Comigo

-Homem-Lógico!

O guarda olhou espantado para o capitão. Mais surpreso que espantado, na verdade. Coisa de 65% de um, 30% do outro e 5% de um pavor de borrar as calças. O que foi uma excelente melhora, porque o pavor de borrar as calças estava em torno de 60% quando ele perguntou "que merda, capitão, quem é que vai lá pra dentro?" e temeu ouvir o próprio nome.

Ainda assim era assustadoramente arriscado apostar em um vigilante mascarado que não fazia parte da força policial, que não estava por perto e podia nem estar sabendo do ocorrido. Até onde o guarda Borrabotas sabia, ele podia estar bebericando suco de uva no sambódromo. Por outro lado, realmente não havia muita coisa a se fazer. Os assaltantes tinham reféns e, embora o banco estivesse cercado, seria muito difícil evitar um final trágico.

E enquanto esses pensamentos se organizavam meio lentamente em sua cabeça, ela foi perfurada por uma bala. Se não tivesse sido, ele veria uma figura imponente, um homem alto de cerca de trinta anos, moreno, vestindo um uniforme verde que já ficaria apertado em alguém cerca de trinta anos mais novo, perguntar:

-O que o Homem-Lógico pode fazer por vocês, capitão?

-Homem-Lógico! Graças aos céus. Temos um grande problema aqui.

-Não precisa dizer muito. Quantos são lá dentro?

-Vinte e um. Cinco assaltantes e dezesseis reféns.

-Já foram identificados?

-Já, sim. Temos as fichas deles aqui na viatura.

Dizendo isso, tirou todas as fichas e mostrou-as para o Homem-Lógico, enquanto tentava entender o que pensava aquela misteriosa figura. O olhar compenetrado parecia analisar todas as fichas ao mesmo tempo. O do capitão alternava entre o Homem-Lógico e as fichas. Um dos homens era careca, suspeito de ter participado da KKK vinte anos atrás, mas rumores diziam não ter saído da organização em bons termos. Outro era um terrorista árabe que, juntamente com um terceiro, loiro e absurdamente alto, havia operado com drogas na Colômbia. O quarto elemento do bando era mulato. O quinto poderia ser indígena ou japonês para que o quadro étnico ficasse mais completo, mas esse quinto, ou melhor, essa quinta, era uma mulher, jovem, fisionomicamente muito parecida com o loiro alto.

Então o Homem-Lógico parou um pouco e ouviu uma gravação de uma rápida conversa entre o capitão e um dos assaltantes, que parecia ser o líder. Era um dos homens, e o vocabulário revelava um nível de escolaridade não muito alto. Em um certo momento durante a discussão, a voz de uma mulher interrompeu e houve uma rápida discussão abafada. Não chegou a ser uma discussão violenta, estava mais para algo cooperativo.

-Já vi o suficiente. Hora de resolver essa situação.

Então correu, pulou o muro com a ajuda de seu Bastão Lógico e, uma vez dentro do banco, sacou seu Revólver Lógico e matou todos os bandidos. Dez reféns morreram no processo e o Homem-Lógico sumiu, para ser visto novamente em uma outra emergência policial ou, ocasionalmente, bebericando suco de uva no sambódromo.

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