quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Aparar Filosofar Obeso

-Porra! Essa bola foi fora!
-Foi o caralho, maluco!
-Foi fora, manda aí, é nossa!
-Cala a boca, velho.
-Dá essa porra aqui! Vou cobrar.
-Vai o cacete, sai fora.
-Dá essa merda aqui antes que eu fique puto!
-Ah, é? E que é que tu vai fazer? Bater em mim?
-Não... vou não...
-Então xiu aê!
Ao dizer dessa frase, um toco de madeira desenhou um arco muito bonito que começou acima da cabeça de um rapaz e terminou tentando entrar na cabeça do outro.
-CARALHO!
-Taí, agora dá essa porra.
-Tu me bateu, seu porra! Tu mentiu!
-Menti nada, quem bateu em você foi o pau.
-Ah, é?
-É.
-Então também não vou bater em você.
-Ah, mer...
E foi-se uma bela muqueta no nariz.
-Porra, cê bateu em mim.
-Bati não, meu braço que bateu! Seu corno!
-Seu filha da puta, seu braço é você.
-Meu braço é eu? Picas que meu braço é eu!
-Meu não é e só tem nós dois aqui, essa porra é sua.
-É meu mas não é eu. Tu fala com meu braço, por acaso? Se cortar meu braço eu morro?
-Caralho, é parte de você.
-É só parte.
-Mas a parte não é parte sem o todo.
-Tá, mas até por uma questão lógica, só a parte não é o todo.
-É, só que o todo não é todo sem a parte. O conjunto A não é o conjunto A se você tirar um elemento que seja dele. Aliás o conjunto A todo é parte do conjunto A, porque A está contido em A. Sendo a parte também o todo.
-Ah, é? Você se contém?
-Lógico. Eu sou, majoritariamente, parte integrante e indissociável de mim.
-Então teu braço é tu, porque faz parte de você?
-É.
-E quanto tu tá com ar no pulmão ele é você, também?
-Deixa eu ver... é. Tá em mim. Faz parte.
-Legal. E quanto tu solta? E quando tu mija? Tá se jogando fora?
-Bom, aí deixa de fazer parte de mim.
-Beleza. Então eu não vou te molhar...
-Saca esse pinto e ele vai deixar de ser parte!
-Velho, se tu for pegar refúgio em semântica, lógica e filosofia, faz direito. Se tu não me bateu, se eu mijar em você tu não vai poder fazer nada.
-E se eu arrancar seu pau, ele não vai mais ser parte de você e você não pode reclamar por eu arrancar algo que não é seu. E até arrancar, é lógico que eu não vou ter arrancado, então você não vai ter motivo nenhum pra reclamar porque eu ainda não vou estar fazendo nada.
-É... isso faz sentido.
-E aí, quer mijar em mim e perder o pau?
-Não, beleza, vai, deixa quieto.
-Então foi fora?
-Foi, vai.
-Tá. Agora vou te comer de porrada, então.
-Beleza.

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