quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Inferno de Dante

O sol já se pôs há muito tempo; é a hora sem lei. Hora gélida e inóspita. Apesar disso, em uma rua de depravações, mulheres se vestem com o mínimo necessário para apelarem à libido de seus clientes. Ah, é - e elas têm pintos, então pense bem no que seria o "mínimo necessário". Por ela, dirigindo, passa um homem sonhando com xoxotas, mas pensando que ficaria muito satisfeito com qualquer um desses produtos alternativos que se apresentavam por perto e lamentando não ter alguns minutos a perder. Estaciona seu furgão em um canto escuro do subsolo, ignorando a figura humana que o observa do topo de uma laje, mas ciente dos que o aguardam. Enquanto ele retira um enorme malote do porta-malas, não se sabe se ele pensa nos homens que o aguardam, sobre como o fazem com um misto de ansiedade e desespero, monitorando cada som emitido, sentindo cada vez mais a fúnebre proximidade do pacote. Todos esses homens descritos fazem parte de uma elite pouco divulgada. São compensadores de cheques. Aliás, peraí. Não todos - os travecos não. Quer dizer... talvez até um ou outro seja, o que não me espantaria, para complementar o salário ruim, mas... ah, você entendeu.

Eu nunca cheguei a comentar como exatamente se dá a compensação de cheques de um banco. Isso é incrível por dois motivos; pela conjunção de fatores de eu ter passado mais de um ano tanto como como compensador quanto como escriba voluntário aqui nesta joça e pelo assunto ser tão ridiculamente fascinante que me espanta pessoas não morrerem espontaneamente por falta de informações a respeito. É tão legal assim.

Eu poderia comentar sobre o processo em si, mas o seria algo frio, sem alma. Quem dá a verdadeira vida aos seus pedaços de papel rabiscados são os seres humanos que trabalham com eles. Dengoso, por exemplo. Era chamado assim porque teve um caso de suspeita de dengue e ficou afastado do trabalho por alguns meses. Sendo super sapeca e fazendo o que é popularmente conhecido como "trocadalho do carilho", um de seus colegas o vestiu com essa simpatissíssima alcunha. Que, segundo nosso time de pesquisadores de campo, era repetida cerca de trinta vezes ao dia, tanto em peças conversacionais como fora delas e indiferente à presença ou ausência do sujeito possuidor do apelido. Em oito meses de serviço, tempo em que tanto o alcunhador como o alchunhado foram transferidos de horário, estima-se que dez pessoas inocentes (entenda-se: que não tiveram suspeita de dengue nem fizeram parte da criação do gracejo) tenham sido forçadas a ouvir a mesma piada sem graça 5.280 vezes (22x30x8). O crime às vezes era promovido a hediondo por ser cometido com a captura do braço da vítima e um olhar penetrante que pedia reação favorável (riso) em vez de adequada (soco). Mas eu me desvirtuei do tópico. Melhor passar ao filet mignon do papo de vez para que você exploda em júbilo, antes que de curiosidade.

O básico do processo, altamente automatizado, é colocar os cheques em uma máquina que irá digitalizá-los, arquivando-os para futura referência, e conferí-los, por meio de leitura da banda magnética. Estando tudo certo, eles serão enviados para as agências dos clientes correntistas para serem pagos. Mas isso é um resumo que ignora largamente a beleza dos detalhes que fazem desse trabalho tão compensador (haha).

Chega um pacote gigantesco contendo milhares de cheques. Que iriam direto para a máquina se não fosse por um pequeno detalhe. Milhares de pequenos detalhes, para ser mais exato: grampos. O grande problema por trás disso é que não é um funcionário da área de compensação que escreve o manual procedural da agência bancária. Se fosse, não estaria escrito nele "[...] não grampear documentos, cheques [...]", o que aparentemente pode ser interpretado como "[...] pede-se o favor de grampear excessivamente toda e qualquer sorte de papel [...]". Não, não, estaria escrito "[...] para cada grampo encontrado em cheque vindo dessa agência será aplicado um semelhante, como multa, ao saco escrotal do responsável [...]". Talvez em letras garrafais. E no título. Porque é levemente perturbador quando cerca de 150.000 cheques precisam ser filtrados por uma equipe de nove pessoas que partilham um único extrator de grampos. Acho que tétano só não é a causa mais principal de óbito nesse ramo porque mais gente acaba morrendo de sono.

É, sono mata. E o período em que ele mais ataca é o seguinte à extração de grampos. Os cheques vão para a máquina e até eles voltarem so é preciso esperar. Por quase uma horinha. Pela madrugada. Isso é bem mais difícil do que parece. Basicamente se tem duas opções principais de distração - conversa e acessórios. A primeira é problemática ("Ele é dengoso... hehehe") e a segunda pode se esgotar rapidamente até para os mais aplicados no caminho do ócio. Permita-me explanar com um exemplo. Foi-me feita uma piadinha dessas do tipo "se você soltar do alto de um prédio X e Y, qual chega primeiro?" e eu, pra entreter meu colega sapequinha, elaborei uma resposta longa que continha um cenário fisicamente perfeito, um cenário absurdo, provável foco do gracejo, e uma conclusão zen. Mal cheguei à segunda parte, contudo, e a brincadeira acabou porque ele não aceitava o princípio da aceleração constante da gravidade. Eu, sonolento, com 10% do meu cérebro ativo na tarefa, 30% no meu lugar feliz e 60% dormindo, disse "tá... peraí", peguei uma caneta e um grampeador do meu chefe, jogando ambos no chão. Se meu chefe ficou muito curioso com as minhas ações, já que ele estava alheio à conversa, meu interlocutor ficou muito feliz ao perceber que o grampeador chegou ao chão pouco antes. ("Dengoso... hehehe") Eu comecei a argumentar sobre a resistência do ar e estava pronto para jogar ambos os objetos envolvidos no teste pela sala, em lançamento balístico, para demonstrar, mas tive um súbito flash de consciência do que eu estava fazendo e então me resignei a ficar com fama de meio doido e deixá-lo sem um conhecimento elementar da física. Como esse era mais ou menos o layout de todas as conversas que se travava lá (assunto desestimulante, eu ficando com fama de meio louco ao fim, pessoas a ponto de arremessarem objetos por causa de uma divergência de idéias), resolvi dedicar minha atenção aos objetos inanimados, o que me rendeu a outra metade de loucura percebida que faltava. Especialmente quando meus colegas testemunharam meu teste de arco-e-flecha feito com clipes e elásticos, mas também em diversas outras ocasiões, imagino eu. ("Hehehe... dengoso...")

Ainda tem muito texto pela frente, então talvez você queira parar agora e tomar um cafezinho. Eu espero. E, enquanto espero, posso divagar um pouco sobre o café. É uma bebida maravilhosa, estimulante e sempre presente em escritórios e afins. Então imagina-se que eu deveria ter acesso a essa maravilha tecnológica, certo? Bom, eu tinha. E cheguei a fazer uso dela, até, por algum tempo. Resolvi parar com essa estratégia por dois motivos: primeiro porque era brutalmente ineficiente. Tentar parar o sono das três da manhã com café é como tentar parar uma potente locomotiva. Com café. Você pode até pensar em jogá-lo quente sobre o condutor, mas isso não pararia a locomotiva, só a deixaria fora de controle enquanto o responsável por cuidar dela estivesse ocupado te esganando. Ah, e o segundo motivo: o café era feito às seis da manhã, todos os dias. Às três da manhã ("olha aí o dengoso... hehe...") aquela beleza já tinha ficado por muito tempo dentro de uma garrafa térmica em companhia de uma dose exagerada de açúcar. O resultado era uma bebida meio fria, fermentada, muito pouco revigorante e responsável por deliciosas gastrites. Falando nisso, quem saiu pro cafezinho já voltou, certo? Então eu continuo minha explanação.

Uma vez retornados os cheques começava a verdadeira diversão da noite. O trabalho fica frenético. Gente se estapeando pelo único grampeador que presta e o restante escolhendo apressadamente algum que funcione mais ou menos. Pense "Ilha das Flores" para uma boa representação visual, só que com um dos porcos segurando um humano pelo braço e dizendo "olha aí... olha o dengoso... hehehe...". Pega-se então um bolo enorme de cheques para que sejam separados por agência. São cerca de mil agências e noventa mil cheques, o que resulta em um trabalho bem pentelho. Separados os cheques, é hora de meter quantos grampos raivosos couberem e adorná-los com uma fitinha identificante. Alguns desses cheques são para devolução, e eles são separados à parte porque têm destinos diferentes. Mais especificamente, pequenos envelopes de pano conhecidos como "lonitas". Bonitinho, né?

Agora permita-me descrever visualmente o galpão. Imagine um refeitório infantil, com longas bancadas brancas. Remova os bancos, as crianças, os pratos e boa parte da iluminação. Agora adicione centenas de malotes verdes (onde o cheque vai enfiado dentro, né?). Voilá. As próximas horas são divididas em tarefas dinâmicas e variadas que requerem um comportamento mais pró-ativo, dinâmico, de um funcionário com desejo de crescer e que esteja, no mínimo, cursando no ensino de grau superior. Estarão dividias aqui para melhor entendimento, menções ao dengoso suprimidas:

Tarefa #1: Separar lonitas por bancada correspondente. Individualmente separá-las por grupo tabelado. Ordená-las de acordo com o número da agência. Preenchê-las com cheques a serem devolvidos. Fechar lonitas. Lacrar lonitas.

Tarefa #2: Separar grupos de cheques por bancada correspondente. Individualmente separá-los por grupo tabelado. Ordená-los de acordo com o número da agência. Preecher os malotes com eles e com as lonitas. Fechar malotes. Lacrar malotes.

Tarefa #3: Separar grupos de malotões coloridos por bancada correspondente. Individualmente separá-los por grupo tabelado. Ordená-los de acordo com o código de destino. Preenchê-los com malotes verdes. Fechar malotões. Lacrar malotões.

Tarea #4: Ir ao centro de compensação do Banco do Brasil ouvindo pagode ou um motorista contar histórias obscenas e mexer com travestis. Chegando lá, separar malotões coloridos e grupos de malotes por fileira correpondente. Ordená-los de acordo com o código de destino. Preencher com eles malotes gigantes. Felizmente o pessoal do Banco do Brasil é que fecha e lacra esses malotes homéricos.

Depois de tanto estresse é bom descansar um pouco antes de bater o ponto. Aliás é mandatório, porque o Banco do Brasil fecha bem antes do horário de saída dos funcionários dos bancos, então o serviço obrigatoriamente termina antes do horário de expediente. Geralmente rola um segundo round de luta contra o sono, em que ele vem vingativo e melhor preparado.

Mas espere! Não é só isso! Quando se é contratado para trabalhar num setor tão bonito e se "sabe" mexer em um "computador" (pouquíssimo conhecimento necessário, e mesmo assim raro, aplicado em um computador era jurássico) também entra no maravilhoso mundo da era digital. Coisas bacanas do lado da elite dos funcionários incluem:

Problema: Cheque pirata! Deus do céu! Que fazer?

Solução: Muito simples. Existe um programa chamado "confdigito" que avalia a banda magnética do cheque e confere o dígito verificador. Uma maravilha, em teoria. Na prática, nem tanto, porque aparentemente todo mundo tem acesso a essa merda de programa e os cheques falsos sempre acertavam os dígitos verificadores ultra secretos. O único jeito, então, era encontrar esses cheques manualmente no bolo e evá-los ao chefe de seção, que iria conferir os dados da conta. Embora seja fácil de acertar o dígito, aparentemente o nome do correntista é mais bem guardado, então o real não batia com o impresso no cheque. Dessa forma, rode o programa "confdigito". Sim, todo mundo na empresa está ciente de que não funciona mais, mas rode mesmo assim. Não tem problema que você tenha que digitar à toa a banda magnética de uns trinta cheques em um 486 que não consegue acompanhar a velocidade de digitação de um capiau catador de milho. É o procedimento padrão e precisa ser feito. Quando falhar a identificação do pirata pelo programa de reconhecimento e identificação de fraudes, leve-os ao seu chefe, que irá checá-los um a um, sem pressa, enquanto vê vídeos de pornografia. Depois irá retorná-los dizendo "é falso" ou "confere". Se conferir, segue normalmente. Caso contrário, vai para uma pilha de "a ser devolvido motivo 35". Eu posso já ouvir sua dúvida: "mas como se escolhe quais cheques verificar? Você disse 'trinta cheques', e que passava por uns noventa mil!". Verdade. Quanta sagacidade. Entra aí a experiência de muito tempo trabalhando em uma agência bancária, um tipo de sexto sentido que toca, na sua cabeça, um alarme quando algo está fora de lugar, quando algo parece suspeito. Isso e o fato de os cheques falsificados serem AZUIS e o banco só emitir cheques VERMELHOS. Em 90% dos casos, pelo menos. Os outros 10% erram o número ou nome do banco. O mais comum era vir um cheque teoricamente da Caixa Econômica Federal, mas com dados numéricos da Nossa Caixa ou aberrações semelhantes. Deve ser confuso para os falsários esse negócio de duas caixas. De qualquer forma, mesmo sendo ridiculamente óbvio que sejam falsificados, por que não gastar meia horinha com o procedimento padrão? Ele é tão simpático.

Problema: Outros bancos são porcos e erram os dados dos cheques no arquivo lógico do sistema! Subproblema: o que é o arquivo lógico do sistema?

Solução: Nada a temer. A máquina irá conferir os dados enviados com a banda magnética e cuspir o cheque, porque não confere com o que ela espera. A mesma coisa acontece com cheques amassados. Mande-os todos para um tião qualquer separar e ordenar manualmente e devolva-os por "motivo 37". Não os amassados, lógico - separe os erros da máquina dos erros das pessoas. Em vez de ajustar os dados manualmente ou devolver todos, perca muito mais tempo procurando os dados que não conferem por um arquivo lógico gigantesco, feito para ser lido por máquinas e não por homens, com dados de 150.000 cheques, rodado com DOS e sem função de busca. Que totoso! Se você quer saber o que é um arquivo lógico, vai uma definição simples: é dor! Depois de separados os erros, é necessário informar o banco sobre o engano que eles cometeram. Então tem-se já o modelo de uma cartinha sendo simpática e dizendo "seu arquivo lógico está com problemas e tem nos enviado dados errôneos, o que nos causa grandes transtornos blá blá blá". Essa carta então é enviada por fax e largamente ignorada pelo outro banco, já que para eles não dá problema nenhum. O Itaú era o campeão em trabalho porco e mandava o maior número de informações desencontradas. Também era o que estava recebedo a carta TODOS OS DIAS em DUAS VIAS havia TRÊS ANOS. Sím, é algo tão ESTARRECEDOR que justifica CAPS LOCK. Logicamente eles não tomavam nenhuma providência e nós não parávamos de mandar as cartas, já que em time que está perdendo não se mexe. Aliás, essas cartas iam, em média, por dia, para seis bancos. Itaú (341), Real (356), Unibanco (409), Caixa Econômica (104) e mais dois variados. Nunca aconteceu com o Banco do Brasil (001) - parabéns pra eles pelo bom trabalho. Duas vias pra cada banco, três vias para a chefia e uma para nós mesmos. Uma porrada de papéis. Como todas essas vias voltavam depois para nós com comprovantes de recebimento, isso resultava na maior pilha de papéis que eu garanto que você não consegue nem conceber.

Problema: A máquina não registra nem microfilma os cheques que ela não processa, como os números 35 e 37. Como proceder?

Solução: Muito simples, gafanhoto. Nós não vamos querer que um cheque desses deixe de existir em cópia no departamento. A solução é novamente mandar um tião com todos esses documentos para um scanner. Geralmente eu. A parte boa e que se fica livre de ouvir sobre o densgoso por uns trinta minutos, exceto quando ele sobe pra tomar um copo d'água. De qualquer forma, eis o que se faz no scanner: digitaliza-se os cheques motivo 35 em um arquivo e cheques motivo 37 em outro. Depois digitaliza-se os mesmos cheques ordenados por agência. E depois digitaliza-se as cartas. Isso tudo, veja bem, para arquivo e para envio para a chefia e para as agências.

Problema: Esse negócio de digital, sei não... parece pouco confiável.

Solução: Sem problemas, seu retrógrado de merda. De modo semelhante aos engenheiros que não confiavam nas calculadoras na época dos Beatles, esse sistema digital não é bem visto. A solução é, logicamente, em vez de não adotar o sistema digital por desconfiança e parecer um neoludita ensandecido, adotá-lo e acumular o sistema anterior. Então o que acontece é que, se criado um programa de mensagens cru e porco para envio de informações, envie os dados necessários por ele, mas também continue enviando a cópia em papel impresso. E quando for criada a intranet da empresa com sistemas de e-mail e envio de arquivos digitalizados, envie-os. E continue também enviando cópias pelo sistema de mensagens porco e um malote com cópias dos documentos. Por que fazer o trabalho uma só vez se você pode fazê-lo três vezes? Se trabalho enobrece o homem, seja três vezes mais virtuoso. Para fazer uma analogia, é o equivalente a contratar um caminhoneiro para levar um carregamento de bananas a Pernambuco. Porém, por não confiar em caminhões, você manda via trem um carregamento de bananas sobressalente. E, por segurança, envia também um terceiro carregamento de bananas via riquixá. Isso é muito pouco eficiente para você, confuso para quem vai receber o mesmo carregamento de bananas três vezes e especialmente chato pra o seu único funcionário, o motorista/maquinista/riquixeiro. E eu uso o exemplo com bananas porque o sistema comunicativo ultra redundante parece ter sido criado por macacos, que vão gostar da analogia. (Quem leu tudo até aqui já tem direito a um docinho. Pode continuar lendo, tá no fim).

Problema: Festas!

Solução: Ah, sim, às vezes rola uma festinha. Afinal compensadores também são gente, geneticamente falando, e fazem festinhas. O problema de festas é que não pode ter álcool no ambiente de trabalho, então elas geralmente eram feitas com refrigerante. E não existem padarias, lanchonetes nem nada parecido que funcione até a alta madrugada por lá, exceto o Habib's que funciona até a uma. Então festa era à base de esfiha fria (de, no mínimo, quatro horas atrás) e refrigerante quente (porque não tinha freezer). Alternativamente um dos nossos queridos colegas resolveu, um dia, fazer uma festa com sanduíches e... leite! Leite quente! Faça um experimento: fique acordado até as quatro da manhã, hoje. Então tome um copo de leite quente. Continue acordado. Anote os resultados. É tortura fazer isso com zumbis da madrugada.

Eu teria muitos e muitos causos particulares para contar, quase todos envolvendo uma boa dose de sonolência, mas acho que por enquanto é melhor eu ficar pelo básico, que é o funcionamento do ambiente de trabalho. Já deu pra entender que o banco é um mundo mágico, praticamente um parque temático da burocracia, certo? Tipo a Disney, só que onde o personagem principal não é o Mickey, é o Dengoso, e todo mundo é um tipo misto de Pateta com Soneca. Acho que, levando em conta o fuso, até o horário de funcionamento é o mesmo.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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Se todos os blerghs são blorgs e todos os blorgs são slerms, por que diabos eles não se chamam todos por um outro nome, único e que não pareça estar sendo vomitado?

terça-feira, 11 de novembro de 2008

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Uma andorinha só não faz verão. Mil delas juntas também não. Talvez, no máximo, possam ser responsáveis por uma chuvinha sasonal. Das fedidas.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A Paladin Minister

Eu queria deixar recomendado aqui o excelente filme Italian Spiderman, obra-prima do cinema ítalo-australiano. A primeira parte segue aqui abaixo, o resto vocês podem encontrar pelo Youtube com um mínimo de esforço. Especial atenção a todas as partes, por favor, já que são todas ótimas, mas uma especial atenção redobrada às partes três e seis, para as quais, falando em termos científicos, eu pago um pau enorme.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Supreme Homo

Certa vez me disseram que o Super-Homem é o maior vilão de todos os tempos. Dos quadrinhos, pelo menos, senão ele teria que competir com Palpatine, Cthulhu, Cheney e vários outros contra os quais não teria a menor chance. O racioncínio por trás dessa afirmação é bem simples: em vários cross-overs, o Super-Homem já enfrentou uma gama muito maior de heróis que qualquer Coringa, Thanos ou Massacre. Até porque enquanto esses vilões clássicos geralmente enfrentam grupos que garantam um bom quebra, o Super-Homem não se importa nem um pouco com isso e já enfrentou, por exemplo:

Hulk – Você até poderia dizer que o Hulk teria alguma chance, porque ele é ridiculamente forte. Mas enquanto o Hulk arremessa tanques de guerra e racha ilhas ao meio, o Super-Homem arremessa continentes. E isso na última versão, mais fraquinha, porque ele já chegou a jogar sinuca com planetas na era de ouro. Além de ser muito mais forte, ainda ultrapassa a velocidade do som e tem visão de raios-x, de calor, sopro congelante e diversos outros poderes de frutinha que não fariam muita diferença mas contam como uma espécie de bônus por variedade.

Homem-Aranha – Sério... sacanagem. Não só o Homem-Aranha não tem a mínima chance de machucar o Super-Homem como a versão cinematográfica dele é muito mais afetada e baitola que a do azulão. O único caso em que pode haver uma vitória do Aranha aqui é se estivermos falando do Aranha japonês contra o Super indiano. Porque o robô Leopardon arrebentaria com a cara daquele Kumar. Em se tratando de versões clássicas, tenha dó.

Batman – Um ser semi-onipotente de superpoderes messiânicos contra o filho bastardo que um ninja zoófilo teve com o inspetor bugiganga? Claaaaro, por que não? Além de ser uma premissa babaca, pra piorar as coisas sempre que acontece uma dessas o Batman acaba ganhando. Ou porque ele sempre tem um estoque de kriptonita à mão ou porque ele usa bombas atômicas e trajes robóticos. De qualquer jeito, é uma vitória muito mentirosa!

Muhammed Ali – Bom... ele derrubou o George Foreman, o Joe Frasier... mas eu ainda acho que o Super-Homem teria vantagem. Acho que acho errado, porque Cassius também ganha, e sem nenhuma ajuda – derruba o homem de aço num gancho de direita. E depois perde uma simulação pro Rocky Marciano, que deve ser o humano mais forte do universo.

Enfim, o Super-Homem realmente enfrentou todos esses oponentes. Roubalheiras à parte, nenhum à altura dele, porque afinal ele é absurdamente forte, absurdamente rápido e absurdamente voôso. Mas eu encontrei um páreo para ele que não precisa recorrer a essas palhaçadas de pedrinhas coloridas. Então sem mais delongas, aqui vai a minha breve versão de Super-Homem contra as leis da física:

Uma bala A viajava a cerca de 430m/s quando encontrou um corpo B, de Borrabotas, que continha uma bala C de alvejadas anteriores. Como acontece num jogo de bilhar, a bala A tranferiu sua inércia à bala C, ejetando-a, e alojou-se dentro de B. Ou, na realidade, dentro de B menos uma certa porcentagem de B equivalente ao buraco causado por A e C. Calcule o provável cenário dessa cena adotando como personagens uma casa lotérica, alguns policiais, um sargento, reféns, um Super-Homem e um punhado de bandidos.

- Cacete! É o Super-Homem! Até que enfim eu não vou mais ter que aturar heróis de meia-tigela! - soltou o sargento.

- Sim, senhor. Eu sou o Super-Homem. Em que posso ajudá-lo nesta fantástica manhã em que o sol brilha iluminando o sonho americano?

- Bom, Super-Homem, uns cabeças-de-Vivarina, reféns, uma casa lotérica. Mesma merda de sempre. Dá pra resolver?

- Ora... será um prazer, louvado seja Allah.

E para que realmente sua atividade de busca e apreensão de malfeitores fosse como ele descreveu, Super-Homem resolveu usar sua super-velocidade para retirar todas as armas e os reféns das mãos dos meliantes e deixá-los desarmados e apreensivos dentro de um cubículo, o que seria engraçado. E pôs-se a correr hipervelozmente em direção à lotérica, tocando em cerca de um quarto de segundo o chão com seu nariz. O que acontece é que ele aprendeu que não importa o quão fortes e rápidas sejam as suas pernas, se você as movimentar muito velozmente tentando dar um impulso, vai superar a resultante da força normal com a do coeficiente de atrito de sua bota de pano com o gramado, fazendo você escorregar com assombrosa rapidez. Percebendo isso, Super-Homem tentou aumentar sua força normal fazendo uma redistribuição vetorial do seu impulso. Isso teve duas conseqüências bastante óbvias: um enorme buraco no gramado e um homem de capa sendo lançado balisticamente por uma distância irrisória.

O sargento, testemunhando esses eventos, já previu mais um fracasso e pensou em pedir o telefone de outros heróis mais habituados ao mundo real, como o Homem-Lógico ou o Anagraman. Enquanto isso, Super-Homem bolava um modo de chegar à casa lotérica. Correr estava fora de questão, mas ele poderia voar! Seu vôo nunca foi exatamente um fenômeno físico.A propulsão vinha aparentemente do nada e o impulsionava como mágica. Apesar das teorias que dizem ser o vôo do Super-Homem uma manifestação do tubo digestivo dele usado como turbina, numa espécie de versão escatológica do super-sopro, o vôo do homem de aço era um poder muito limpo em termos de efeitos colaterais. Então pôs-se a voar em super velocidade até a porta da lotérica. E em cerca de um quarto de segundo, de novo, que parece ser o tempo de reflexo do homem de aço, ele de viu em outra parte da cidade, tendo deixado uma linha reta de caos e destruição.

O que acontece é que o Super-Homem não tem muitos poderes sobre o tempo, além de girar a Terra ao contrário. E nem tem um cérebro super acelerado. Se tivesse, poderia parar com essa palhaçada de combate ao crime e ser um matemático brilhante. Ou melhor: um físico, já que tinha acesso às estrelas diretamente e um telescópio embutido no olho. E quando você se move a cerca de 3.000m/s seu cérebro não consegue nem interpretar o que está acontecendo. Você não consegue reagir a nenhum obstáculo, até porque não o está vendo – é tudo um grande borrão. Então Super-homem voou lentamente de volta até a lotérica, volta e meia caindo ou batendo em um poste por estar com um caso de superlabirintite.

Quinze minutos depois lá estava ele, de volta à cena do crime, já enfezado. Resolveu que ia deixar o show de lado e ser curto e grosso, objetivo e eficiente. Foi entrando porta adentro e tomando uma saraivada de balas que ricocheteavam e atingiam civis inocentes - de tudo menos da curiosidade - que espiavam fora da área de isolamento. Uma vez cara a cara com o primeiro crminoso, socou-o, deixando-o com o pulmão perfurado por meia costela. Nessa hora um dos bandidos resolveu atirar em um refém. Super-Homem, como estava próximo e previu o tiro e sua trajetória, pôde usar somente seu braço para ser hiperveloz. Isso é bom, porque ele pode contrabalançar o movimento do braço com seu poder de vôo. Foi possível colocar o braço no caminho da bala tão logo ela foi lançada, salvando um homem voador, surdo e severamente queimado de ser baleado. Lógico que o homem não estaria surdo ou com sérias queimaduras se um braço não tivesse alcançado Mach 8 a um palmo de seu nariz, sendo tão destruidor quanto um meteoro a esse ponto, rompendo seus tímpanos com o rompimento da barreira de som e deslocando tanto ar quanto um tufão.

Todos na lotérica severamente feridos por esse ato impensado, Super-Homem tinha resolvido o problema, embora não de uma forma exatamente eficiente. Envergonhado, resolveu passar o resto de seus dias tricotando. Lentamente. Fim.

Ou não, porque não se sabe se ele é imune a radicais livres, caso em que talvez não houvesse um final, mas uma segunda história, sobre o maior suéter do mundo.