terça-feira, 5 de maio de 2009

M: Atenção! Aqui é a polícia! Vocês estão cercados! Saiam com as mãos para cima!
L1: Ih, fedeu, maluco. Os hômi.
L3: A cana? Filhos dumas putas! Como é que me descobriram aqui?
L2: Provavelmente alguém tenha acionado o alarme. Ou talvez eles tenham um policial médium. Difícil dizer.
M: Atenção! Aqui é a polícia! Vocês estão cercados! Saiam com as mãos para cima!
L1: Vamo encher eles de chumbo, maluco! São só dois polícia.
L2: Ah, não. Você está sugerindo que nós atiremos em oficiais da lei?
L1: Não, porra, tô falando pra encher os polícia de bala, caralho.
L2: Peraí, peraí. A gente não tem que se precipitar e recorrer à violência, certo? Ninguém precisa se machucar aqui. A gente só veio pro banco pra roubar uma graninha pra gastar com drogas, pornografia e genocídio, nada de mais.
M: Atenção! Aqui é a polícia! Vocês estão cercados! Saiam com as mãos para cima! Sério, eu não vou falar de novo!
L2: Graças a deus! Seu imbecil, você acha que a gente vai sair com esse argumento? E vindo de vocês? Pensa comigo: se a gente é ladrão e vocês são a polícia, nosso objetivo é justamente fugir de vocês, certo?
M: ...
L2: Isso vai deixar eles confusos e pensativos por um tempo. Eu sugiro que a gente use esse tempo num experimento interpretativo. Faz assim: você vai ser a polícia e eu vou ser nós três.
L1: Maluco, pára de falar merda ou eu vou te meter pipoco, filha da puta.
L2: É uma interpretação meio rude e ofensiva, mas eu suponho que possa ser considerada realista. Muito bom. Deixa eu ver... então eu diria...
M: Atenção! Aqui é o Zeca Pagodinho! Deixa isso pra lá, vem pra cá, o que é que tem? Eu não tô fazendo nada, você também. É bom bater um papo assim gostoso com alguém.
L1: Aê, truta! Zeca Pagodinho tá aí. Bora encher ele de bala!
L2: Tentador. Mas eu infelizmente suspeito que seja mais um truque das forças mantenedoras do status quo.
L1: Cê tá falando cada hora mais difícil de poprósito, né?
L2: Possivelmente. Eu não quero entrar na questão do que seria ou não proposital ou até que ponto poderia algo qualquer sê-lo, já que isso envolveria uma longa discussão a respeito de livre arbítrio, envolvendo os preceitos mecanicistas do determinismo científico aplicado às condições biofísiológicas do cérebro humano...
P2: Tá, Zeca, valeu pela ajuda, mas eles não saíram nem por ti. Toma a grana da cervejinha que a gente tinha combinado. E agora, capitão?
M: Tem uma entrada no topo do prédio. Um de nós vai por lá e surpreende eles por trás.
P2: Não acho que vá funcionar.
M: Por quê?
P2: Porque você aparentemente esqueceu que está falando em um megafone, de modo que eles devem estar já vigiando as próprias cabeças, a menos que sejam surdos. Como eu acho que acabei de ficar.
L2: ...tabula rasa, então o contínuo esponjar intelectual de cada forma de vida é tão voluntário quanto o acendimento de uma maçã, se a maçã estiver ligada à rede elétrica e tiver filamentos incadescentes numa mistura gasosa em vez de sua tradicional polpa. Então...
L1: Precisa de bala de prata pra matar gente que fala difícil ou se eu atirar agora tu morre?
L2: Eu suponho que a resposta me deixaria em alguma desvantagem, julgando pelo seu olhar sanguinolento. Isso me lembra de uma passagem da Ilíada...
M: Aí, galera, de boa, oq ue é que está acontecendo aí? Sai logo, vai, porque daqui a seis minutos começa meu horário de almoço e eu vou ter que ir embora.
L2: Então vamos tentar resolver rápido com uma discussão objetiva, sim?
M: Tá. Qual é o seu nome?
L2: Antes disso, por favor perceba que o senhor está só do outro lado de uma porta de vidro e eu posso ouví-lo perfeitamente sem o auxílio do seu amplificador que, pra ser sincero, está machucando meus tímpanos.
P2: Eu falei.
P1: Tá, tá. Qual teu nome, cidadão?
L2: L2. E esses são meus irmãos L1 e L3.
P1: L1, L2 e L3? Qu e porra de nomes são esses?
L2: Excelente pergunta. Minha família toda tem nomes assim. Minha mãe se chama Hipotenusa.
P1: Ok. Pra simplificar mais, eu preciso saber que você representa verbalmente seu grupo como eu represento o meu.
P2: Infelizmente.
P1: Não tem nada de infeliz em saber qual deles representa melhor o grupo. Isso é um princípio democrático.
L2: Na realidade eu fico tentado a passar a palavra para meu irmão L1, que costumeiramente se sai vitorioso em discussões mais consistentemente que eu por sua total falta de domínio ou entendimento de retórica, o que o leva a usar a força e, dessa forma, ganhar por súbito W.O. Mas para o propósito de termos uma discussão mais divertida e produtiva em termos de vocábulos utilizados, eu mesmo posso prosseguir.
P1: Bicho, faz assim: eu te ouvi por uns segundos e já vi que vai ser um porre. O outro ali é esquentadinho. E teu outro irmão?
L2: O L3? Ele não fala muito e, quando fala, vá por mim, não é de muita serventia.
L3: Isso é um assalto, seu filha da puta! Vira a bundinha pra mim, vira, Batman.
P1: Peraí. Vocês estão roubando o banco?
L2: Sim. Não foi por isso que vocês vieram?
P1: Não, não. Meu deus. Peço desculpas a vocês. Nós viemos prender os bancários.
L2: Oi? Por que motivo?
P1: Bom, a gente não tem exatamente os detalhes legais ainda, isso a gente está bolando, mas é basicamente porque eles são todos uns vermes.
L2: Faz perfeito sentido para mim.
P1: É que agora passou uma reforma lógica social e a gente viu que os banqueiros são os maiores ladrões e verdadeiros cânceres sociais, então a gente vai remover todos. Os bancários entram nessa como cúmplices e por me fazerem esperar muito na fila com serviço mole.
L1: Dá tiro nesse comuna, L2. Dá tiro nele!
L2: Ah, bom. E como é que a gente faz quanto ao nosso roubo?
P1: Ah, tranqüilo, rapazes. Acabem o que vieram fazer e podem ir embora. Não quero atrapalhar o tabalho de vocês.
L2: Perfeito, então. Obrigado, seu guarda.
P1: Opa. A gente é que agradece e pede desculpas por qualquer coisa.

Infelizmente L1 perdeu a paciência com aquele falatório e tudo acabou em um enorme banho de sangue.

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