sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sujeito do Anal Dez

Muito me fascina essa dicotomia datenística "pai de família vs bandido". Um é o maior exemplo de pessoa correta, moral, e outro é a chaga da sociedade. É algo como o zardozianismo, mas ao contrário; no datenismo, o pai de família é o ideal e o bandido é o indesejável. Frases-modelo (ditas sempre com asco e ódio): "um monte de bandido, de vagabundo, de canalhas nojentos"; "ou seja: o sistema atrapalha o pai de família e ajuda o bandido"; "aí vem um bandido desses e mata um pai de família e vem alguém me falar de direitos humanos?"; "eu não, cara, sou de respito, sou pai de família, não sou moleque, não sou bandido".

Eu não sei preciso apontar que não são situações excludentes. Um pai de família pode muito bem ser um bandido. Aliás os piores bandidos que eu conheço são pais de família (e espalham por elas empregos públicos). Pais de família são geralmente os maiores sonegadores de imposto de renda, também. É ridiculamente comum. Isso é crime. Só não sei se se encaixa na definição corrente de "bandido". Aliás, falando em encaixar, vamos pensar no estuprador. Quanto mais ele estupra, mais "bandido", mas também mais "pai de família" ele é, concorda? E aí, como é que faz? Se ele morrer num tiroteio, vai sair "mataram um pai de família" ou "mataram um bandido" da boca do José Luiz Datena? Ou fica o estupro sendo um crime autoabsolvente que não concede privilégios, numa anulação mútua de cargas carismáticas opostas? Aliás mútua, não, porque o cara só vai ficar devidamente balanceado carmicamente contados uns nove meses do crime. Se estuprar sempre mulheres férteis e em períodos favoráveis, claro, o que exige um certo trabalho de pesquisa. Acho que é o preço que se paga por ser correto.

Nenhum comentário: