quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ai, Enredo Rijo! (2)

Ok, antes de posseguir, como diria o Batman: "e-pe-pe-pe-peraí, eu esqueci uma coisa". O Juiz semi-figurante covardão (o nome dele é Briscoe) diz "bom tiro, senhor" quando o Dredd atira com uma granada na porta. Dã. É uma porta. Um alvo imóvel. Dredd é um Juiz lendário. Usando uma granada. A idiotia do comentário é comparável a congratular o Gustavo Borges por conseguir acertar a água ao mergulhar. Pronto, podemos voltar à narrativa.

Então Dredd entra no prédio e a gente vê os bandidões atirando e dizendo coisas que denotam diversão. Quando eu preciso me retratar pelas críticas injustas que fiz à arma dos Juízes. Claramente eu não imaginei corretamente o zeigeist do mundo em que eles operam. Em primeiro lugar, um ataque surpresa está fora de questão. Dredd serra - à base de balas - um pedaço do teto e cai, do andar de cima, perto dos bandidos, que só têm tempo de gritar "DREDD!" antes de serem metralhados. Então nota-se que, numa cultura onde seu mecanismo de defesa principal é gritar alguma coisa, mesmo quando segurando armas cheias de munição antitanque de pronta e fácil ativação digital, a idéia é fazer com que sua voz ative o dispositivo. Curioso como três homens tiveram coisa de mais de um segundo para puxarem o gatilho, tempo demais quando se está perfeitamente preparado e orientado para um ataque pra lá de telegrafado, e ainda morreram. Os outros Juízes chegam correndo e Dredd diz que o quarto foi pacificado. Eles devem ser uns merdas se o Rocky teve tempo de ganhar um andar de vantagem, quebrar o chão e brincar de Candelária antes de eles chegarem. Vai ver ele pegou o elevador. Empolgado, Briscoe diz "ei, o próximo [quarto] é meu". Então ele sai correndo, abre a porta, grita "vocês estão presos" e morre com um tiro no estômago.

Nada disso me surpreende por cinco motivos: 1) o cara estava contrariando o Stallone; 2) não aparece nos créditos iniciais; 3) ele deu um conselho coerente no começo do filme e isso não poderia ser perdoado; 4) ele usou o procedimento policial correto em vez de fuzilar todo mundo de cara e 5) a armadura dele só protege os ombros. O último item é um dos mais curiosos. Toda armadura dos Juízes parece ter sido feita para sustentar ataques vindos de cima. São ombreiras enormes e um capacete auxiliados por nenhuma proteção toráxica. Se o treinamento deles envolve não buscar cobertura quando alvejados de um prédio, eu entendo parcialmente, mas um colete não seria uma adição legal? Ou a forma de ataque padrão dos Juízes é bancar um aríete e sair dando cabeçadas nos oponentes? Eu não sei. Fico confuso. Bom, ele cai, morre, e o Dredd fuzila a galera direito, usando tiros dos mais absurdos em concepção, como um tiro duplo que sai de uma arma que só tem um cano. Os oponentes ficarem parados nos mesmos lugar e posição enquanto ele reconfigura verbalmente a arma, entre os disparos, ajuda bastante. Sobra vivo só o sr. "se-for-ter-medo-que-seja-de-mim" e Dredd decide que é hora do discursinho.

Ele segue dizendo a pena para as várias infrações que o cara cometeu. É brevemente interrompido por um outro cara semi-vivo que tenta atirar nele pelas costas, mas é salvo pela gostosinha, a Juíza Hershey. Eu vou até ignorar a imbecilidade do Dredd de ficar andando e falando antes de verificar se ainda havia ameaças no quarto e protestar fortemente pelo nome da gostosinha. Se for pra dar a ela um nome de chocolate, pelo menos tenham a decência de contratar a Halle Berry para interpretação. Não que não exista chocolate branco, mas... ah, seria muito legal a mulher-gato nesse filme e pronto. Voltando: Dredd termina o discursinho e diz que a pena por ter matado o Briscoe é a morte. E atira no nego. Porra, Dredd, você nem sabe se foi ele que matou. Pode ter sido um outro nego jaz defunto. E se você ia matar logo o filho da puta, por que fez discursinho? Você matou já seis outros que não mereciam pena de morte, como você mesmo explicou no discursinho, e agora embaça pra matar o único que devia? Você está me fazendo questionar suas competência e eficiência pela enésima vez em muito pouco tempo. Eu agradeceria se você parasse.

Breve interlúdio par alevarem o corpo do Briscoe, quando a gente descobre que ele era careca. Se eu soubesse disso antes, teria um motivo extra pra prever sua morte. Rola o pior papinho de consolação *ever*, véi, que culmina na Juíza Hershey sendo meio amarga (ha-ha) e dizendo ao Dredd que ele devia mostrar emoções. "Emoções... devia haver uma lei contra elas" é a resposta. Boa, Dredd. Essa aí tá no papo. Agora você está livre para parar o carrinho de comida reciclada com um berro. Eu imagino que você vá pegar um lanchinho. Não vai? Ah, você está prendendo o carrinho. Parece que o filme está ficando legal, agora, mas OPA! Dredd estava predendo o Ferguson (aquele que tem órgãos de diversos animais dentro do corpo, lembra?), que estava dentro do carrinho, se escondendo. E tem mais é que prender esse viado, mesmo, por desecrar a fonte da melhor piadinha do filme (isso não chega a ser um elogio). Eles batem boca por um momento, o viadinho alegando que não tinha escolha, tinha que fugir do tiroteio e entrar no carrinho era a únia solução viável. Stallone o condena a cinco anos de prisão e diz que se ele quisesse fugir, devia ter pulado da janela do arranha-céu. Sabe que eu estou ficando com problemas pra simpatizar com o Stallone nesse filme?

Corta para um conselho de Juízes fodões (você sabe que eles são fodões porque não usam a roupinha ridícula) discutindo como lidar com a violência. A opinião prevalescente é de que precisam de leis mais severas para conter a revolta populacional (aquele velho pensamento de que, se seu arremesso de balões não está surtindo efeito contra um ouriço, você deve precisar de mais balões), mas um velho começa a encher o saco com um papinho sobre evitar a opressão. Você precisa ver o Dredd nas ruas, velho. Acho que vocês iam se dar muito mal. O que quer dizer que você vai morrer. Falando na interação entre os dois, o velho chama o Dredd pra perguntar se as "execuções sumárias" foram justificadas. Ao obter uma resposta positiva, resolve deixar Dredd a cargo de ensinar ética na academia de cadetes, pra ver se ele aprende alguma lição de vida. Velho burro. Isso é como vencer a segunda guerra, pegar Mussolini e colocá-lo como professor primário. E eu aqui pensando que você era bom da cabeça. Ah, vale mencionarq eu, durante essa cena, aparece uma das cenas mais grotescas e repugnantes do filme: Dredd tira o capacete.

Aaaaaah!

Corta para a prisão de Aspen. Um cara vai a uma cela ultra-reforçada, com metralhadoras e escudos, e dá um presente a um prisioneiro de nome Rico, cuja língua é levemente presa. Aparentemente esse cara era um Juiz e, levando jeito de filósofo, ponderou que "culpado" e "inocente" eram só questão de momento. Como um semblante de raciocínio e qualquer visão diferente da fascista e dualista de Dredd são inerentemente malvadas, esse cara se revela o vilão do filme, matando o visitante/entregador. "Como?", você vai perguntar. "E os escudos e as metralhadoras?" Olha, a vítima desativou os escudos pra poder entregar o presentinho. Só que o presentinho era uma arma. Aí é ruim. As nossas prisões têm regras quanto a entregar armas para prisioneiros, mas o mundo dos Juízes é um lugar muito mais fascinante, onde isso não é um problema. Tendo tomado com um tiro na garganta e sido fuzilado pelas metralhadoras que não reconheceram sua voz agonizante (o que me faz imaginar que passar por elas é tão simples quanto ficar em silêncio), o morto não conseguiu ligar o alarme. Ouvindo a baderna, dois funcionários da prisão que o escoltavam tomam a decisão lógica de... ei! Vamos ver o quanto você conhece essa galera: A) os guardas utilizam o monitoramento eletrônico para ver o qeu aconteceu na sala; B) os guardas abrem a porta e olham de uma distância segura ou C) eles desativam todos os sistemas de segurança e entram correndo, às cegas, para serem facilmente emboscados e permitirem a fuga do prisioneiro Rico. Meus pêsames se você respondeu C, porque está certo.

Rico

Legal! Vinte minutos de filme, já! Vou parar por um tempinho pra recuperar a minha vontade de viver e continuo depois.

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